Por Joka Faria
Por ocasião da morte de José Saramago
Quem ama as escritas e a arte e já tenha lido um livro de José Saramago hoje deve estar em luto. Não um luto de choros e lágrimas, mas de felicidade que alguém que tão bem contribuiu para a humanidade, voltou a outro plano. Pena que nossa metafisica, que Saramago dizia não acreditar, nos diga como foi feito o anúncio da chegada de Jesus Cristo, que Saramago nasceu. Não sabemos como um ser humano deste nasce e não temos uma máquina do tempo para vê-los crianças. Mas sabemos de suas partidas.
Ele nos deixa um legado em forma de escrita. Ele que era da terra de Camões e Fernando Pessoa, escritores tão importantes para mim, enquanto leitor. E para milhões de outros seres humanos. Uma figura desta, que respirou o mesmo ar que eu e você. Que escreveu um livro inventado sobre a vida de Jesus Cristo, que para meu inconsciente se tornou tão real como qualquer dos Evangelhos que li ou venha a ler. Tão belo como qualquer dos Apócrifos.
As religiões estão ai, tem a sua importância, não mais para mim. Saramago não teve uma religião, só a arte, é algo como uma religião. Para mim, ver um bom filme, ler um livro, ouvir uma bela música, é pura metafisica. Não sou agnóstico, sou estudante de Gnosis. Leio e releio Saramago. Ou qualquer artista que tenha alcançado seu porte. Convivo com muitos que aprendem como eu, os segredos e a magia do fazer arte. Gente como eu, que ainda não atingiu a perfeição de um mestre como este, mas procuram viver uma vida de eterno aprendizado. De eterna critica de si mesmo e do próximo, pois estamos sempre buscando a perfeição, que graças aos Deuses, nunca é atingida. Gosto da gente que encara a arte como um caminho árduo de ensinamentos, um caminho difícil. Estamos sempre próximos e distantes deste ideal da indústria cultural, que foi criada no século vinte. Mas o artista em essência é um criador. Tenho a noção do cruel mercado e sua exigências. Ás vezes fazemos o jogo, às vezes não. Faz parte de nosso aprendizado, pois temos nosso lado direito e nosso lado esquerdo. Quem vive joga. E devemos lutar para deixar de ser marionetes das farsas do destino. Enfim, Saramago foi embora e nós continuamos. Fazem dois dias que ele se foi, só agora fiquei sabendo.
Hoje no retorno de um sono entre este mundo físico e outras dimensões me dei conta que também sou osso. Com uma das mãos circulei a cavidade de meus olhos e me vi caveira. Uma caveira cheia de emoções, sonhos, dores, ilusões, mas um monte de ossos que respira, tem uma cultura e um modo de vida. Esta nossa personalidade transitória que agora escreve por vaidade e por desejo de sua alma. Quando escrevemos ou fazemos arte tem de tudo misturado, nosso ego e a busca da essência, nossas vaidades, necessidade de ser reconhecido e aceito e também de justificar uma existência. Mas para que justificar, se nem verei meu enterro e nem o que dirão de mim? Depois de um tempo, a minha passagem por aqui será esquecida. Então para que me preocupar com alguma coisa? Saramago estava vivo, mas para mim, no meu dia a dia não fazia a diferença. Para os próximos dele sim. Mas para mim, só a obra dele era importante. O que importa é obra para o outro. Para mim é a minha experiencia, o meu prazer em escrever. Findado este texto quem sabe virão outros. E ai o texto esta posto num blog, num site. Talvez nunca ganhe as páginas de um livro ou jornal, mas são suportes. A personalidade de José Saramago se foi e a essência que permanece, Saramago existe. Então de nós, só vale a essência. Esta que nos anima e nos faz viver. Minha personalidade que se chama segundo meu batismo de João Carlos Faria, que no universo cultural leva a alcunha de Joka Faria, um dia se vai. Que talvez nunca se contente em ser o que é. Que quer mudar a si mesmo por dentro e por fora. Eu sou fruto de minha época, desta virada de século vinte para vinte um. Não escrevo a bico de pena, não uso máquina de datilografia e já quase não ouço rádio.
Isto tudo é passageiro, menos tudo que já passei e passarei se passar, pois estou de passagem. Temos que estar preparados para a morte, já em vida. Assim sempre lembraremos que tudo é transitório. E sabendo que tudo passa, devemos nos distanciar do bem e do mal, do certo ou do errado. Sei que é quase impossível, mas também tudo é possível. O escritor Saramago só se tornou o grande escritor que é, na maturidade. Mas o que é relevante? Os Beatles foram os Beatles na juventude. O tempo é uma invenção quando estivermos prontos, estaremos.
Hoje ouvi Secos e Molhados em tempo cronológico já faz quase quarenta anos que gravaram. Mas para mim vale o hoje e hoje é atual. Tudo vai, tudo vem e ai Vinícius, tudo é uma grande onda?
Estou indo e se os Deuses deixarem, farei outros textos. Um beijo…Que toda a humanidade seja feliz.
Palmas a José Saramago.
João Carlos Faria
2017
Este tal de Joka