A Natureza humana é a mesma em qualquer lugar
Como todos sabem, nasci no Estado do Paraná, numa chácara dos meus pais que ainda permanece lá para o dia em que tiver que voltar. Dizia Rupert Sheldrake que a Terra Natal permanece em nossa consciência e inconsciência, só esperando para nos abraçar novamente, com seus braços de mãe. A terra natal é uma mãe. E todas as vezes que voltamos, sentimos o caloroso abraço.
No entanto, quero aqui ressaltar que a minha infância foi um período de aprendizado, de como sobreviver. Uma experiência muito valiosa.
Morar na roça é buscar uma sobrevivência diária: tem que plantar para comer e comer só o que cada época oferece deixando bem restrito; se havia seca não se colhia alguns produtos; se chovia demais perdiam-se plantações; se caía geada (o que era constante por lá) queimava-se plantas que eram a base para se alimentar. Convivi com isso por um bom tempo, mas o auge da sobrevivência é enfrentar os perigos reais e também os surreais.
No mato, apareciam vários tipos de animais que eram perigosos e éramos ensinados a tomar muito cuidado – cães muito bravos pelas vizinhanças, lagartos que davam rabadas, cobras venenosas, porcos-espinhos que atiravam espinhos, bodes que atacavam, vacas bravas que escapavam de pastos, etc. Enfim, muitos animais que amedrontavam. Sempre saía de casa em estado de alerta e mesmo assim, tinha que enfrentar muitos perigos, tipo, uma vez quando voltava da escola a pé por uma estrada empoeirada (a escola era bem longe da nossa chácara) dei de cara com uma boiada que vinha na direção contrária – corri e entrei no caminho estreito que subia até minha casa e aquelas vacas, literalmente, correram em fila atrás de mim; entrei num bananal e nem respirava e lá ficaram elas paradas me procurando, mas desistiram e desceram o caminho até a estrada. Tenho muitas outras histórias de animais e perseguições, mas sempre fui ágil e nunca me deixava pegar, além do que estava sempre em estado de alerta.
Meu pai sempre foi cuidadoso com os filhos e nos orientava para os perigos que nos cercavam, desde se aproximar de um poço fundo como enxames de abelhas que podiam atacar, era uma vida de eterno suspense.
E agora quando vou à casa de alguém que tem um cachorro, não entro e o dono diz: – é manso e gosta de brincar – essa frase comum e repetida desses donos sem noção, constata o quanto esqueceram que esses animais têm dentes e instintos, dos quais podem variar a qualquer momento. Aprendi isso a duras penas em minha infância e não esqueço jamais. Vi por esses dias alguns casos de cachorros que atacam os seus donos, os mesmo que diziam que eram dóceis, sei.
Sobrevivência está ligada à adrenalina que surge repentinamente na corrente sanguínea para nos salvar. O corpo e o cérebro estão ligados instintivamente às situações de perigo e age rápido. E os perigos surreais, conto em outra oportunidade.
A tecnologia, um bem incalculável à humanidade, traz em seu bojo, algumas estranhas situações, tais como uma pessoa atravessando a rua, falando ao celular, sem olhar o que acontece à sua volta. Nessa hora lembro do meu pai que mostrava como prever os perigos, estando muito atento. Esses dias quase atropelei um sujeito que atravessou à frente do meu carro falando ao celular. Dei uma freada brusca e ainda por cima, ele me xingou.
O que está acontecendo com esse povo perdendo o instinto de sobrevivência? Andam como se fossem a Marla Singer, atravessando a rua sem olhar. Isso é bom ou ruim? Um bando de Zumbi!
A tecnologia nos faz esquecer coisas simples e banais que interferem o tempo todo em nossa vida e como dizia Hermes Trismegisto, do “infinitamente grande ao infinitamente pequeno”. Os carros, cada vez mais sofisticados, hoje não precisam mais do comando constante, afinal é tudo automático. O senso de direção já pode ser descartado, afinal o waze e o google maps nos levam para qualquer lugar. Não é preciso mais olhar para a Ursa Maior, o Cruzeiro do Sul, as Três Marias, a posição do sol, uma velha bússola ou qualquer outro meio antigo para andar por aí e isso é muito bom. Mas quando não se tem esses meios, a pessoa fica perdida e entra em pânico, porque não sabe como lidar com isso e na verdade, nem sabe o que é “isso”.
Se não tiver internet, celular, energia elétrica, como alguém vai sobreviver numa catástrofe? Tem uma teoria que nos grandes centros urbanos, só os que moram na favela vão conseguir sobreviver numa situação de catástrofe. E por que? Porque já tem que sobreviver o dia a dia e isso é escola.
Quero falar de algo bem maior que tudo isso, como um exemplo de que a tecnologia é bacana demais, mas também deixa a desejar no que tange a sobrevivência. Acredito que estão ligados no que rola na faixa de gaza. O Hamas bombardeou Israel neste sábado (07/10) em um ataque surpresa. É um conflito antigo e vale lembrar que a Faixa de Gaza é um território palestino que fica na fronteira com o Egito e Israel. Tem uma saída para o mar Mediterrâneo e ali tem muitos habitantes. Uma concentração massiva de moradores. Israel controla tudo por ali, desde entrada de armas até alimentos, então ali a situação é um caldeirão em ebulição pronto a explodir. Israel controla o espaço aéreo e marítimo e isso provoca conflitos constantes naquela região. Israel com seu poderio bélico e tecnológico não conseguiu prever o ataque a tempo, (falha na inteligência?) foi uma surpresa do grupo inimigo que não tem nenhuma tecnologia avançada e conseguiu transpor as barreiras, da forma mais antiga da humanidade, a necessidade de sobrevivência. As cercas, com tecnologia avançada, foram transpostas. É claro que, depois da surpresa, Israel vai retaliar e matar “todo mundo”, digo, todos os palestinos que invadiram, como sempre fizeram.
E assim caminha a humanidade, como sempre foi – desde as cavernas escuras da pré-história até a idade das Inteligências Artificiais.
E como já dizia Albert Einstein “Não sei com que armamento se combaterá a Terceira Guerra Mundial, mas a Quarta Guerra Mundial será combatida com paus e pedras”.
Vamos sobreviver?
Elizabeth de Souza
071023
*E aqui deixo um antigo poema meu:
PRINCÍPIO DA INCERTEZA
As pedras rolam!
O fogo queima!
As plantas curam!
Os animais devoram e são devorados!
E nós humanos,
apreciamos o cenário que se abre ao nosso redor…
Como insensatos seres
rolamos em direção ao abismo
Não buscamos na irmandade das coisas
a cura do nosso mal.
Estamos convictos que somos os melhores do planeta
quem sabe até do universo…
Mas como não temos certeza de nada
vestimos essa fantasia
durante todo o baile…
Depois que o som acaba e as luzes se apagam
continuamos vestidos
acreditando que ainda podemos.
Elizabeth de Souza
Quanto aos animais, me faz lembrar da frase: “quem não janta é jantado”.
Apesar de ter se tornado uma frase bem popular, fiquei sabendo que a mesma é atribuída a um renomado filósofo grego. É a lei da natureza.
Sim Marlene, é a lei da Natureza!
A sobrevivência faz parte de nós e em situações extremas somos capazes de tudo.
Obrigada amiga, por seu comentário.
E assim caminha a humanidade…até quando vão agir feito loucos desvairados, sem amor, sem humildade, sem solidariedade…
Heeee vida de gado!!
Tecnologia é uma evolução, nos ajuda em muitas coisas, em várias áreas profissionais: Medicina, ciência, ensino, cultura, etc…
Se todos soubessem usá-la para evolução seria uma maravilha!
Porém, infelizmente muitos se tornaram escravos de sites de fofoca, redes sociais… que os tornam realmente em zumbis, totalmente alheios á vida que passa a diante sem ser percebida!
Ó pobres nécios!
Estão deixando de apreciar um belo pôr do sol, a beleza de um arco-íris porque não olham pro céu, aliás não olham pra lugar nenhum, a não ser pra tela do seu cel.
Ó pobres nécios!
E ainda temos que tomar cuidado pra não atropelar um kkkkk e ainda ser rotulado de culpado kkkk
Que Deus nos salve!!!
Obrigada pelo seu belíssimo comentário, minha amiga…queremos mais amor, por favor.