Por Raul Tartarotti
A fabulosa quantidade de imagens que navegam na web, confundem essa experiência do irreal com o real. O comprometimento com a estampa de você mesmo, num HD de servidor internacional, lhe dá vida eterna, e te promove a um espaço quase extraterreno dividido em bits, tudo isso dentro de um micro chip com tecnologia quântica. Não parece real, mas surreal é pensar se a vida vale a pena ser vivida já que pode ser fotografada e compartilhada com quem curtir a um click. Você tem coragem de vir a galope? Resgatar a mocinha na passada do cavalo branco a beira do penhasco fundo, escuro e nebuloso? Isso é vida. Porém a imagem se tornou objeto de reflexão teórica, e somente alguns poucos se arriscam corajosamente na respiração diária que toma corpo quando você pisa na rua. O comprometimento me diz que não morreremos jamais, porque vivemos dentro dos outros até seus últimos dias. Mas não se preocupe, nada vai dar certo mesmo. Isso tudo pode te causar vertigem nos olhos e essa “Política de Imagens – Vigilância e Resistência na Dadosfera” já virou livro, de Gisele Beiguelman, Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Ela fez da imagem objeto de reflexão teórica, que também utiliza na prática intervenções artísticas nas mídias digitais. De uma forma afetiva, ao mesmo tempo rigorosa, ela analisa a vertigem de imagens que nos acossam pelos mais diversos meios. A partir de algo restrito se produz prazer, uma ideia que pode dar conta em universalizar nossa alma através da imagem navegante, nesse mar sem margens. Os limites são a nossa paciência, cansaço ou desgosto do que foi exposto com carinho e doçura para o amigo do outro lado da tela. Para o filósofo Pitágoras o amigo é um segundo eu, e as fotos que vão para esse mundo de seguidores, trazem a expectativa de um agrado digital do outro, esperado pelo vaidoso, que pressupõe um abraço de seu espelho que não fala, tampouco dá um like. Porém não só de reflexos se alimentam as redes, a interação social, a partir de interesses por parte de um grupo na busca de reconhecimento e valor, se expõem vertiginosamente em cores e movimento, denunciando atitudes, demonstrando posições e linhas limítrofes dos participantes, que desejam valorizar opiniões adversas, políticas e comportamentais, desejando pra si e os que compartilham o mesmo teor em saudar uma ideia que valha muitas vidas, e escolherem o próprio caminho em sua existência. Uma das coisas complicadas nessa relação de exterioridade do tempo de olhar do outro, é quando ele vai me dizer quem eu sou, e assim passamos por um período de reafirmação de nossa própria existência. Precisamos de provas que existimos, e a próxima selfie alimenta o olhar que o outro tem de você, lhe permitindo sentir que está vivo naquilo colado na tela do outro. Surge o risco de inexistência, quando tudo pode acabar após uma descarga de baterias, ou na desistência em ser seguido no que foi apresentado. Claramente o olhar do outro passa a definir quem você é, e o que vai ser quando entender.
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