A Realidade possível
Mestre Eckhart, místico cristão do século XIII, dizia que em profunda meditação, em momento de quietude interior, podemos perceber que existe o instante presente, um “agora” que é sempre infinitamente novo. Não existe ontem, nem amanhã, mas apenas o “agora”, como foi há mil anos e como será daqui a um milênio.
Nosso passado vem à nossa consciência por meio de reminiscências. Elas, porém, são experimentadas no presente. Da mesma forma, quando tentamos imaginar ou visualizar nosso futuro, nós o fazemos no presente. Quando pensamos sobre o passado ou futuro, esses pensamentos estão acontecendo no “agora”.
O escritor inglês, Richard Jefferies, ao relatar uma de suas experiências místicas, declarou que “é eternidade agora e eu estou no meio dela. Ela está à minha volta na luz do sol; estou nela como uma borboleta na leveza do ar. Nada há por vir; tudo é agora. Agora é a eternidade; agora é a imortalidade.”
Quando nossa mente está concentrada em acontecimentos passados ou na expectativa de fatos futuros, podemos dizer que nossa atenção não está no “agora”. Uma mente focada no momento presente está livre de emoções negativas sobre o que já aconteceu ou deixou de acontecer no passado. O mesmo vale para o que poderá ocorrer ou deixar de ocorrer no futuro.
Uma mente concentrada no “agora” está livre para experimentar “aquilo que é”, aquela realidade que independe ou encontra-se acima de juízos de valor, de rótulos ou julgamentos precipitados.
Isso , entretanto, não nos obriga a descartar as ideias de passado e futuro. Há lições e experiências do passado que ainda estamos assimilando, tanto quanto podemos influenciar o futuro. A diferença é que a mente não se perde em inúteis inquietações por outros tempos.
Uma lição do passado poderá ser útil à formação da nossa consciência moral, contudo, não é razoável ficarmos presos a frustrações ou remorsos por aquilo que fizemos ou deixamos de fazer. Da mesma forma, constitui um inútil desperdício de energias ficarmos temerosos ou agoniados em relação ao que poderá nos acontecer no futuro.
Vivendo no momento presente, paramos de nos agarrar a tudo aquilo que imaginamos poder nos salvar de algo indesejável. É uma forma de liberarmos nossa consciência para experiências novas, que poderão potencializar nosso crescimento interior, sem os bloqueios dos medos e dos apegos.
Ser capaz de experimentar a realidade como ela é, sem a inquietude gerada por temores ou expectativas, muitas vezes infundadas, pode significar um inestimável ganho espiritual. Geralmente nossas cargas mentais são muito pesadas e consistem em resultados da nossa vivência na temporalidade.
No atemporal nos encontramos com a nossa verdadeira essência, aquela luz que brilha acima dos conceitos humanos de Bem e de Mal. É quando nos libertamos do pêndulo da dualidade.
Um dos maiores legados que a Sabedoria milenar nos deixou é que somente no Aqui e Agora, no momento presente, é que podemos viver a única realidade possível.
Por Gilberto Silos.
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