A tarefa perfeita
“O homem de bem é filho do tempo presente e da tarefa perfeita”.
Não. Esse pensamento não é meu. Quem me dera ter a sensibilidade de seu autor, o poeta místico persa Jalaladin-Rumi, fundador da Ordem dos Dervixes. Para Rumi, o trabalho revela a espiritualidade humana. Em outras palavras, a lida nossa de cada dia diz muito a nosso respeito, embora poucos se apercebam desse fato. O trabalho tornou-se sinônimo de meio de sobrevivência e nada mais. O apenas ganhar dinheiro roubou-lhe a dignidade, ainda considerando, à luz da ética e da solidariedade, que sua remuneração deve ser justa e suficiente para prover a subsistência.
Antes de honrado e compensador, o trabalho há de ser uma bênção. Não só pelos seus frutos, mas pelo espírito com que é executado. Por leve que seja, torna-se pesado e enfadonho quando não realizado com a satisfação de fazer aquilo de que se gosta, de saber-se útil pelo bom emprego de seus talentos. Se esse esforço é reconhecido ou não, isso é outra questão, sujeita à falibilidade do caráter humano.
A tarefa de cada dia não é somente aquela capaz de suprir as necessidades básicas de cada um. Abrange também o conjunto das pequenas e infinitas coisas que compõem o cotidiano. Via de regra são subestimadas como sem importância, miudezas não essenciais e perfeitamente dispensáveis. Não são apenas aquelas levadas a cabo na empresa, escola ou no campo. Consistem, sobretudo ,naquelas ações aparentemente tediosas e prosaicas, feitas, consciente ou inconscientemente, pelas nossas mãos, pernas, sentidos e pensamentos.
Rumi, já no século XIII, falava para o futuro. Seus delicados poemas davam a entender como a superficialidade da maioria das pessoas torna a vida tediosa, difícil e, na aparência, sempre igual. Não existe um momento igual ao outro se houver disposição e sensibilidade para encontrar o novo em cada segundo vivido ou em cada tarefa executada.
Por Gilberto Silos
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