AINDA ESTOU AQUI FALANDO DO OSCAR

Agora que a questão do Oscar parece caminhar para o esgotamento dos assuntos prioritários nesta navigation, cá da minha insignificância, registro comentário desnecessário, inoportuno, no fundo, no fundo, irrelevante.

Muito já foi dito sobre o caráter democrático da premiação, mais de não sei quantos votantes distribuídos pelos quatro ou cinco cantos do planeta expuseram seus diversos pontos de vistas com inúmeros porém, sempre levantados por um, ou outro representante da Redação da mídia grandona, tipo “A Academia privilegia, atrizes que vestem rosa na cerimônia de premiação”, ou “O diretor do Oscar recebeu de cara amarrada o comentário da atriz y” e dar-lhe argumentos…

Mas para onde foi a tal da democracia, pois ficou parecendo, que diante da maioria dos votos, das votantes, prevaleceu a influência da instituição e do seu diretor.

Seria razoável que a premiação fosse para a Demi Torres ou a Fernanda Moore e não para a jovem iniciante atriz, detentora de alguns atributos físicos, de interpretação linear, mesmo sendo sua personagem a que mais aparece no filme, mesmo começando horizontal e assim terminando. A tadinha não sofre nem um “taquim” de nada de transformação, “apenasmente” passa por alguns acontecimentos. Ela começa e termina, a mesma, que não o mesmo, mas é igual.

Já o brutamontes do guarda costa mafioso russo, embalado pelos encantos de Anora, no decorre de sua ínfima participação na trama do filme, se transforma num ser humano, sensível, belo, capaz de amar sua agressora. Naquela condição de personagem que se transforma no desenrolar da trama, dramaturgicamente se converte, ou deveria converte-se protagonista, embora não merecera de sua “protagonista”, se quer um olhar humanizado, pois assim ela se comporta com suas demais parceiras, mulheres que serve apenas como objeto de seu comportamento delinquente.

A imprensa internacional, blogueiros de cinema e influenciadores de redes sociais, principalmente na América do Norte (diz Juliana Araújo, minha filha, direto do Canadá). têm concentrado suas análises na disputa entre Demi Moore e Mikey Madison, deixando Fernanda Torres em segundo plano – ao contrário do que se vê no Brasil, onde a atriz brasileira tem sido amplamente debatida, tanto sua interpretação como sua conduta ética. O foco principal das críticas tem sido a postura da Academia em premiar atrizes jovens, enquanto mulheres mais experientes (um paralelo ao enredo do filme ‘A Substância’), mesmo entregando performances marcantes, são frequentemente ignoradas. Esse contraste fica ainda mais evidente quando comparado ao tratamento dado aos homens, que continuam sendo reconhecidos e premiados mesmo na maturidade. A dinâmica observada no Oscar 2025 reflete um padrão recorrente em Hollywood: enquanto a juventude feminina é celebrada, o verdadeiro prestígio e reconhecimento continuam reservados aos homens mais velhos. Para quem gosta de estatísticas, em seus 92 anos, 47 mulheres ganharam Oscar com menos de 30 anos e somente 5 homens ganharam a estatueta com a mesma faixa etária, diz Joseane Alfer, minha parceira.

Nesta pisada, minha neta Luana Rocha, me diz que ontem, depois de algumas tentativas, conseguiu ontem ver o filme do Wlater Salles em Munique, com a sala lotada de alemães, sorrindo em momentos em que ela chora de emoção e seu envolvimento com o desenrolar da história, aplaudida por alguns no final da sessão.

Daqui e cá com meus botões, as merecedoras interpretes não foram justamente compreendidas, como parece, queria a maioria dos votantes e principalmente o público pagante, que elas fossem laureadas, simplesmente porque, para “Hollywood”, elas são atrizes velhas, já deram o que tinham que dar, talvez, um dia, quem sabe, uma delas receba o prêmio pelo conjunto da obra. No entanto, a novinha é produto vendável. Assim foi e pelo visto continuará sendo. Não foi uma premiação, foi um gesto de premiação em defesa de um produto comercial interno e não o elogio a sedução, a bela e a arte!

Excelente para o Cinema do Brasil o prêmio de melhor filme. As demandas em prol do fortalecimento da indústria do audiovisual da terra pátria, timidamente focam para a regulamentação do streaming, reivindicação mais que justa, mas tão pífia a justificar o dito popular, quanto mais alto, maior o tombo.

Misericórdia, sem tela para o filme nacional, pouco importa as outras migalhas. Sem formação de público, mas estrangeiro ele continuará em seu respectivo território.

Regulamentar a Lei 13.006, do então senador Cristovam Buarque, promulgada em 26 de junho de 2014 pela Presidente Dilma Rousseff, é prioridade a qual não se deve abrir mão. Diz a Lei: “A exibição de filmes de produção nacional constituirá componente curricular complementar integrado à proposta pedagógica da escola, sendo a sua exibição obrigatória por, no mínimo, 2 (duas) horas mensais”. Sua não regulamentação configura atestado de incompetência para o Congresso Nacional e para a categoria audiovisual.

Nada contra e nem tanto à favor da criação de plataforma pública de streaming e de livre acesso ao público aos filmes brasileiros, pois da forma como foi feita, pode servir de um novo tiro no pé, como antes no passado: a Programadora Brasil. No entanto a criação de um circuito cultural potente, de qualidade técnica e respeitoso com o público, utilizando os modelos já existe (Cinema da Cidade e Cinema perto de Você), melhorada em sua forma de planejamento, gestão financeira e administrativa respaldada por Lei Federal, orientação voltada para a formação, com espaço de tela assegurada a cima de 50% para a produção nacional, poderia muito bem agregar umas 10 mil salas espalhadas pelos 94% do municípios brasileiros que não tem equipamentos de cultura e lazer. Isso a custo de meio cafezinho, iniciativa elementar para fomentar no público, o gosto pelo nosso cinema, nossa cultura, nosso modo de ver e viver, como bem já disse Paulo Emílio Salles Gomes, filme e público brasileiro, tudo a ver um com o outro, é só promover seu encontro, que eles se entenderão.

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Sobre Diogo Gomes dos Santos 12 Artigos
Diogo Gomes dos Santos Diogo Gomes dos Santos, Cineasta, Cineclubista, Mestre em Estética e História da Arte, possui pós-graduação em Estudos Literário, graduado e licenciado em Historia, roteirista, diretor, produtor com vários prêmios nacionais e internacionais. Diretor do Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros/Delegado junto a Federação Internacional de Cineclubes.

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