Álbum de Gabriel Acaju usa fábula para declarar resistência e protesto aos regimes autoritários
Idealizada em 2020 pelo artista mineiro, a estória já foi apresentada também em curtas-metragens, espetáculo que une música e dança e um livro ainda não publicado
Para compreender o segundo álbum de Gabriel Acaju é necessário um mergulho na história criada pelo artista, história essa que é foi idealizada a partir de 2020: a trajetória de Criança, uma Profeta Agênero que vive em Sagacidadinheiro, cidade que, embora aparenta perfeição, é na verdade o reduto totalitário de Filho do Cosmo, o Líder Supremo de Sagacidadinheiro. Criança, que vive em Realidade, é uma personagem contemplativa, nostálgica, valente e atenta às questões sociais. É ela quem protesta em voto de liberdade contra o regime opressor, o Estado Central e o controle exercido pelas instituições dominadas por Filho do Cosmo, que usa uma tecnologia específica para controle da população. Chamada de Neural, uma BCI (Brain Computer Interface, ou Interface Computo-Cerebral), ela representa a vigilância constante do regime sobre os moradores de Sagacidadinheiro através do monitoramento Socioneural 24h por dia, 7 dias por semana.
Este é um breve resumo de “A História de Criança Em Sagacidadinheiro”, fábula desenvolvida pelo cantor, compositor e dançarino mineiro Gabriel Acaju, que a apresentará em três formatos diferentes: quatro curtas-metragens (2 já lançados), um livro (a ser lançado), e o álbum com nove faixas. O intuito em todos eles é o mesmo, retratar A História de Criança em Sagacidadinheiro e sua saga contra o Estado Central, e assim fornecer múltiplas maneiras de adentrar nesta saga e sua potente mensagem de resistência, questionamentos e liberdade. Aliás, este apelo às artes é, justamente, a ferramenta usada por Criança, que faz da música e das artes a sua forma de expressão e protesto.
O álbum, lançado neste 6 de setembro, começa com “Água” (1), no qual Criança retrata o desejo de escapar da poluição e do caos causados pela degradação ambiental e social de Realidade. Em “Sagacidadinheiro” (2), vem a realização de Criança sobre a perfeição da cidade utópica, com toda sua superficialidade e falsa liberdade de expressão. “Paz” (3) é um convite da personagem à introspecção e à busca por tranquilidade, motivado pela sobrecarga de informações e isolamento, ao mesmo tempo. Já em “Tudo” (4), Criança questiona o valor das pessoas e das coisas, já que reflete sobre a perda de significado em um mundo corrompido.
Em meio às dificuldades, Criança celebra em “Para Milton e Tom, Interlúdio 01;” (5), a arte como resistência, homenageando dois grandes nomes da música brasileira. “Anseio” (6), Criança protesta de forma ácida contra o Estado Central e suas instituições, com clamor de justiça e liberdade, é quando sua captura acontece em meio ao Teatro Central de Sagacidadinheiro. Em contraste com os tempos difíceis e a vida adulta, “Criança” (7) celebra a inocência e alegria da infância na imaginação da personagem, de modo completamente imaginário, sendo a mente o último lugar “nem tão livre” mais. A relação complexa e conturbada de Criança com o Líder Supremo de Sagacidadinheiro é explorada em “Filho Do Cosmo” (8), onde Criança passa por uma lavagem cerebral repleta de tortura e isolamento, nas piores condições conhecidas pela humanidade, na esperança de torná-la um ser humano funcional dentro da sociedade do Estado Central. Por fim, o álbum se encerra com “Desapareço” (9), no qual estão a angústia do isolamento e a última tentativa desesperada de se libertar do sistema opressor.
Gabriel Acaju diz ser possível que as 9 faixas caibam numa única temática: “A luta pela liberdade em meio à opressão de um regime subliminar totalitário. O conceito central gira em torno da dualidade entre Realidade, onde a verdade brutal do controle e da miséria é visível, e Sagacidadinheiro, que representa uma falsa utopia manipuladora sob o comando do Líder Supremo Filho Do Cosmo. Através das letras, a Profeta Agênero Criança busca libertar a população Brasileira das garras desse sistema e reinventar o País, usando a arte e a música como ferramentas de resistência e expressão pessoal. O álbum toca em temas como corrupção, controle tecnológico, alienação social, e o poder transformador da individualidade e da arte.”, disse ele.
Para Gabriel Acaju, uma frase típica de manifestações pode, muito bem, resumir todas as faixas e a própria história, e elas resumem muito do que ele mesmo pensa para o mundo real: “ABAIXO O ESTADO CENTRAL DE SAGACIDADINHEIRO.”
Escute o álbum nas plataformas de streaming
Comentário de Gabriel Acaju sobre a sonoridade e conceito artístico do projeto
“’A História de Criança em Sagacidadinheiro’ pode ser comparado a trabalhos de artistas como Tom Zé ou Arrigo Barnabé, conhecidos por suas abordagens experimentais dentro da música brasileira, misturando MPB com elementos avant-garde. Assim como esses artistas, o álbum desafia convenções, trazendo letras complexas e ritmos que se afastam do tradicional, lembrando também o espírito inovador de Hermeto Pascoal, que mescla jazz e música brasileira de maneira única. Além disso, pode evocar a sensibilidade de Caetano Veloso e Gilberto Gil durante a fase tropicalista, onde a música brasileira foi reformulada com influências internacionais e experimentações sonoras, criando uma ponte entre o tradicional e o inovador. Em termos de estrutura rítmica e melódica, há uma semelhança com o Egberto Gismonti, que explora a fusão entre jazz, música erudita e popular brasileira de forma livre e sofisticada. Esse álbum também poderia ressoar com álbuns mais modernos que fundem gêneros, como ‘As Palavras’ de Rubel e ‘AmarElo’ de Emicida, que mistura hip hop, MPB e influências globais, buscando uma reflexão social através de letras poéticas e sonoridades contemporâneas.”
Capa do álbum – Crédito: Vitor Hugo Cunha, Nickolas Garcia, Silvio Prates, Gabriel Acaju
Faixa a faixa – por Gabriel Acaju
Faixa Nº1 “Água” – Criança expressa sua insatisfação com as condições de vida em Realidade, onde a água está contaminada e o ambiente é poluído. A mensagem central é o desejo de mudança, de escapar desse ambiente tóxico e encontrar um lugar mais tranquilo e puro, longe da opressão do Estado Central. A água simboliza o que foi degradado por Sagacidadinheiro, que se apresenta como uma solução, mas, na verdade, é parte do problema.
Faixa Nº2 “Sagacidadinheiro” – Criança revela a verdade oculta da cidade que aparenta ser perfeita (EPISÓDIO I). A letra critica o materialismo e a superficialidade de Sagacidadinheiro, que vende a ilusão de prosperidade e felicidade, mas esconde opressão e controle por meio de seus sistemas avançados. A mensagem central destaca como a cidade é uma fachada enganosa, onde a verdadeira solução nunca é encontrada, e o povo continua a girar em círculos, preso na ilusão.
Faixa Nº3 “Paz” – Criança reflete sobre a busca por tranquilidade e conexão humana em um mundo dominado pela opressão e excesso de informação. A mensagem central é o contraste entre a solidão e a necessidade de se sentir acompanhado, de ter alguém para dividir momentos e, assim, encontrar a verdadeira paz. A letra critica a sobrecarga de informações imposta pelo Estado Central, sua estrutura polida que separa cada ser humano do outro, perpetuando o individualismo como arma de controle e a falta de presença genuína no presente, enquanto a personagem anseia por algo mais profundo e autêntico.
Faixa Nº4 “Tudo” – Criança questiona o valor das coisas e das pessoas em um mundo corrompido por Sagacidadinheiro. A letra reflete sobre como, na busca por tudo, muitas vezes acabamos não valorizando o que realmente importa. A mensagem central é uma crítica ao desprezo pelas pequenas coisas e pelas pessoas que sempre estão ao nosso lado, alertando que tudo pode acabar perdendo o significado se não dermos a devida importância.
Faixa Nº5 “Para Milton e Tom” – Criança presta uma homenagem a Milton Nascimento e Tom Jobim, dois gigantes da música brasileira. A canção evoca o poder transformador da arte e da música, símbolos de resistência e inspiração em um mundo marcado pela opressão de Sagacidadinheiro. A Mensagem Central é a valorização da cultura e da arte como refúgio e como uma forma de manter a esperança viva em tempos difíceis.
Faixa Nº6 “Anseio” – Criança manifesta seu protesto contra o Estado Central (EPISÓDIO II), o Comando Diamante e todas as instituições de Sagacidadinheiro. A letra reflete um desejo profundo de liberdade, inovação e transformação social. A mensagem central é a busca por mudança e justiça, clamando por atenção aos problemas do Brasil e pedindo rendição aos erros cometidos pelas autoridades. Anseio é uma canção de resistência e esperança, representando a luta de Criança contra a opressão do Estado Central.
Faixa Nº7 “Criança” – A personagem principal celebra a pureza da infância e os momentos simples de alegria, como brincar e navegar no mar. A letra evoca nostalgia por um tempo em que a vida era mais simples e verdadeira, contrastando com a realidade opressora de Sagacidadinheiro. A mensagem central é a valorização da inocência e das memórias, representando um desejo de voltar a uma época de liberdade e autenticidade, antes de ser absorvido pela complexidade do mundo adulto.
Faixa Nº8 “Filho do Cosmo” – Criança reflete sobre sua relação complexa com Filho Do Cosmo, o Líder Supremo de Sagacidadinheiro. A letra explora a dualidade entre proximidade e conflito, com momentos de união e desacordo, simbolizando o controle que Filho Do Cosmo exerce sobre as vidas em Sagacidadinheiro, diretamente na mente através do Neural. A mensagem central é a luta interna entre aceitar ou resistir à influência do Líder Supremo, com Criança buscando manter sua individualidade enquanto tenta sobreviver dentro do sistema após ser capturada pelo Comando Diamante (EPISÓDIO III).
Faixa Nº9 “Desapareço” – Criança descreve sua angústia ao sentir-se presa em um futuro imperfeito e controlado por Filho Do Cosmo, após sua captura (EPISÓDIO IV). A letra transmite um profundo sentimento de desespero e isolamento, enquanto Criança tenta escapar do domínio do Líder Supremo de Sagacidadinheiro. A mensagem central é a tentativa de libertar todo o povo desse controle sufocante, culminando em uma decisão radical como forma de resistência final, descrita no livro.
Ficha técnica
Gabriel Acaju: violão, beatbox, percussão e vozes
Luiz Henrique Andrès: teclados e vozes
Augusto Vargas: baixo e vozes
Advar Medeiros: sax e Flauta
Cyro Soares: bateria
Mario Lorenzi: guitarra
Rafael Scafuto: violão
Jimmy Douglas: instrumento misterioso
Composição: Gabriel Acaju, Luiz Henrique Andrès (5,6) e Kossin Dutra (4)
Arranjos: Gabriel Acaju, Luiz Henrique Andrès, Rafael Scafuto, Kossin Dutra, Advar Medeiros, Augusto Vargas.
Produção Musical: Gabriel Acaju, Maurício Ávila, Bernardo Merhy, Caio Castro, Fabiano Moreira
Gravado no Estúdio Sonidus, Estúdio LaDoBê, Estúdio Fulltime, Juiz de Fora.
Crédito: Marcos Pianta
Sobre Gabriel Acaju
Nasceu em Juiz de Fora (Minas Gerais) e atualmente vive em Ubatuba (litoral paulista). É cantor, compositor e dançarino.
Em 2020 fez sua estreia nas plataformas de streaming com o álbum “Brasil Lo-Fi”. Ousado, gravou, produziu e mixou manualmente todas as faixas apenas com um iPhone 5. O álbum, com referências do Glam e da MPB, o inseriu dentro da chamada Nova MPB, com destaque para as faixas “Ninguém Fala Deus Deus” e “Solitude”. Em 2022, lançou “GABRIELACAJU&VIOLÃO”, o primeiro curta de sua carreira, com músicas inéditas e patrocinado pela Lei Murilo Mendes. Em 2024, lançou o álbum “A História de Criança em Salgacidadinheiro”.
Gabriel obteve reconhecimentos: o prêmio Janelas Abertas da UFJF; o prêmio de composição Muvuka MG; foi contemplado pela Funalfa via Lei Aldir Blanc, pelo Memorial Minas Gerais Vale de Belo Horizonte; a canção “Você Me Fez (Egoísta)” estreou no programa “Sai do Armário” (produção audiovisual do coletivo O Andar De Baixo); e com a música “Anseio” foi finalista do Festival Nacional de MPB de Santa Maria (Rio Grande do Sul), sendo o único não residente do RS a chegar na final das 38 edições já realizadas pelo festival. Em 2023, com a mesma canção foi finalista e subiu ao pódio do 2º Festival Nacional Canto das Agulhas Negras, em Visconde de Mauá (Rio de Janeiro).
Gabriel Acaju, inspirado especialmente por David Bowie, Michael Jackson, Tom Jobim e Oskar Metsavaht, tem tocado em importantes casas de shows, por vezes acompanhado de artistas renomados como Duda Beat, Liniker, Danilo Cutrim, BRAZA.
Toda discografia e videoclipes estão disponíveis nas plataformas de streaming e no Youtube.
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