AS ARTES E A GUERRA
A Guerra Civil Espanhola (1936 a 1939) é considerada por alguns historiadores como um ensaio para a Segunda Guerra Mundial. Eclodiu na época da expansão do nazifascismo na Europa. Sua repercussão ideológica fez-se sentir em outros continentes. No Brasil, a ditadura do Estado Novo (1937 a 1945) , com Vargas no poder, foi um exemplo.
Travada entre republicanos (apoiados pelos comunistas, socialistas, anarquistas, sindicalistas e democratas) e nacionalistas (respaldados pelos setores mais conservadores da sociedade , como os grandes proprietários de terras e o clero católico) foi um conflito cruento. Deixou mais de 400 mil mortos , entre civis e combatentes, cidades arrasadas, e uma ditadura, liderada pelo generalíssimo Franco que se estendeu até 1975. Os nacionalistas receberam apoio de Hitler e Mussolini, que lhes enviaram armas, equipamentos e combatentes.
A guerra fez vítimas ilustres. Uma das primeiras foi o poeta e dramaturgo Federico Garcia Lorca, executado pelos nacionalistas em 1936. Esse fato histórico, com toda a sua dimensão trágica, serviu de tema e inspirou artistas, escritores, cineastas e teatrólogos. Ernest Hemingway, escritor norte-americano, ganhador do prêmio Nobel de Literatura em 1954, alistou-se e lutou nas Brigadas Internacionais, ao lado dos republicanos, experiência que o inspirou a escrever, em 1940, o livro Por Quem Os Sinos Dobram. Foi um dos grandes sucessos de sua carreira literária. Conta as aventuras de um norte-americano, Robert Jordan, alistado nas Brigadas Internacionais , participando de várias ações com guerrilheiros, ao mesmo tempo que se apaixona por Maria , membro do grupo.
Em 1943, Hollywood, baseando-se no livro, filmou Por Quem Os Sinos Dobram. Dirigido por Sam Wood, estrelado por Gary Cooper e Ingrid Bergman, foi um grande sucesso, com belíssimas cenas, principalmente o bombardeio nas montanhas onde se alojavam os guerrilheiros.
Os bombardeios aéreos feitos pela Legião Condor, uma esquadrilha de aviões e pilotos alemães a serviço dos nacionalistas, longe da ficção contida no livro, representaram uma das realidades mais cruéis da Guerra Civil Espanhola. Várias cidades foram intensamente bombardeadas, como Guernica, cidadezinha basca, quase que totalmente destruída e com muitos mortos.
Essa tragédia , em 1937, comoveu o mundo e inspirou Pablo Picasso, o grande mestre do Cubismo, a pintar Guernica, uma de suas obras mais famosas. É uma tela de 7,77 cm de largura por 3,49 cm de altura, pintada a óleo nas cores preto e branco, e um toque de bege e azul, com figuras retratando os horrores do bombardeio. A obra foi apresentada na Exposição Internacional de Paris em 1937. Hoje se encontra no Museu Reina Sofia, em Madri. Segundo Picasso, ela é um libelo contra a guerra e sua brutalidade, com intenção de denunciar a barbárie e um inimigo terrível chamado fascismo.
O cinema ainda voltaria ao tema com Terra e Liberdade ( de Ken Loach, em 1995), Ay Carmela ! (de Carlos Saura, em 1990) , O Desaparecimento de Garcia Lorca (de Marcos Zurinaga, em 1996) e alguns outros filmes.
Os artistas, valendo-se da mais universal das linguagens, contaram, à sua maneira, a trágica história dessa guerra.
Por Gilberto Silos
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