As contradições humanas
As pessoas, em sua maioria, encontram dificuldades em identificar quais são as questões fundamentais em suas vidas. Na dúvida, acabam elegendo o acessório e o fútil. Sem atacar as causas, os problemas permanecem sem solução. E quando se tenta resolvê-los por meio de paliativos, eles podem até desaparecer temporariamente, mas retornam agravados. Tudo se torna mais difícil.
Nem sempre as pessoas e os governantes conseguem estabelecer relações de causa e efeito entre os fatos que permeiam suas vidas e a da comunidade. Problemas hoje considerados relevantes são, de fato, mera consequência de outros. Estes sim, fundamentais, cuja solução, como resultado, sanaria ou evitaria tantas consequências nefastas.
A questão climática; a má distribuição de renda, origem das desigualdades e da pobreza; a robotização e desumanização do homem pela tecnologia; a violência urbana, e tantos outros problemas não se autogeraram. Resultam de uma rede de causas e efeitos que começam pelo homem, passam por ele e continuarão a ele ligadas até não se sabe quando.
Essa rede não surgiu do aleatório. Foi criada por muitos. Ninguém está alheio a essa responsabilidade, porque se alguém não a gerou, pelo menos ajuda a mantê-la, conscientemente ou não.
O mundo não entrou em crise há apenas alguns anos, mas agora a situação se agravou. Tudo tem sua origem na maneira como pensamos o mundo, ou como nos situamos na vida. Individualmente cabe-nos uma parcela de responsabilidade. Em cada um de nós e ao nosso redor o Universo gravita. Tudo converge e parte desse “centro”, comandado pelo que julgamos ser a consciência. O nosso “eu” vive em torno de si mesmo, de seus pequenos interesses, às vezes confundidos com as demandas do coletivo. Esse “eu” parece um computador sofisticado com capacidade de autoalimentar-se , conduzido pelo instinto de preservação e de realizar-se de alguma forma que corresponda às exigências da sociedade onde vive. Ortega y Gasset, filósofo espanhol, afirmou que “o homem é o homem e suas circunstâncias”. Elas também ditam ordens ao “eu” e estimulam suas contradições.
Assim, criticamos a desumanidade do sistema capitalista, mas não abrimos mão do consumismo que o mantém e faz crescer. Lamentamos a degradação ecológica, sem pensar no quanto desperdiçamos de água e energia elétrica. Verberamos a atitude dos políticos, sem interessarmo-nos por política, votando levianamente em candidatos que mal conhecemos. E, por aí vai.
São muitas as contradições humanas, subjacentes às crises que assolam o mundo. Mas, a grande ameaça é sempre pensarmos que nada temos a ver com isso. Como disse Sartre: “O Inferno são os outros”.
Por Gilberto Silos
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