As vozes de Vanessa Alves
Para mim tudo é Pessoa
Dedicado a Vanessa Alves
Para mim tudo é Pessoa.
Não guardo estes nomes de seus heterônimos.
Para mim tudo é Pessoa.
Dizem que também escreveu em voz feminina.
Para mim tudo é Pessoa.
E onde está o Fernando nesta história toda?
Quero construir minhas muitas outras vozes.
Tem tantos João por aí, Joka. Somos infinitas possibilidades.
Para mim tudo é pessoa.
Renato Russo renasce num karaoke na casa dos vizinhos.
Para mim tudo é Pessoa.
Neste final de domingo tudo é fantástico.
Nunca me chamaram de Carlos na escola, é só João.
Somos tantas vozes e me encanta as vozes de
Vanessa Alves.
Para mim tudo é Fernando Pessoa.
Joka Faria , João Carlos Faria
Julho de 2022, Inverno
Poemas de Vanessa Alves
Mamãe, eu nunca fui aceita em muita coisa
Já mandei cartinhas para o jornal para escrever sobre isso aqui. Recusas infinitas, pior, indiferença.
Talvez eu não valha muito, mas ele sim.
Talvez eu seja grotesca e só queira dormir após o chazinho com mel
Eu não caibo no mundo
Fui expulsa de ti uterina quente, úmida e aquosa
E agora ando perdida procurando bilhetinhos espalhados pelo universo que me convidem para algo espetacular
E, para minha sorte ou azar, eu já sei que eles voaram, todos, juntinhos
E eu não vou pular do precipício mais uma vez achando que lá embaixo tem uma cama elástica que me faça alcançá-los
Adrenalina custa caro demais para um coração ressentido
Me ponha para dormir, mamãe.
CANSADA
Cansada da cafonice disfarçada de bem querer. Cansada de promessas não vividas, disfarçadas de segundas e terceiras e quartas e quintas intenções medíocres. Cansada de gente que não tem coragem de olhar para as próprias misérias – mas tem a coragem de apontar as misérias do outro com maestria. Cansada de intensidade dissimulada de mau caratismo romântico. Cansada de gente que fala muito e faz pouco. Que goza só com o corpo e sobra pouco pra alma. Que não suporta a liberdade da mulher ao lado mas o dedo escorrega no like de todas as outras possíveis a serem dominadas. Cansada de guerrear. Com homens e sobretudo com mulheres que competem entre si – mesmo se julgando feministas, são hipócritas e sonsas – igualdade é bonito no discurso, caso contrário, a exclusão e a competição acontece face to face mesmo, tristemente, sempre e sempre.
Paixão é outra coisa. Poesia também. Do meu lado estão os meus. Mulheres e homens fortes. E menos que isso não habita aqui, jamais, nunca. Meu limão é doce.
Vanessa Alves
Hoje eu queria rasgar o tempo
Entrar voando sob as paredes de uma ficção
Pisar num campo minado para preparar o pouso certo para o amor
Me explodir numa realidade inventada
Só para esquecer que o mundo hoje é feito de ~ say goodbye ~
E também do álcool em gel 70 por cento que escorre pelas nossas mãos
Numa guerra fria entre nós e os vírus
Hoje eu queria encontrar na fresta do tempo o teu olhar debaixo da terra
Que rasga a minha alma
Every day
Mas a angústia insiste em me enganar
dando outros nomes e endereços
Pra eu esquecer
De quem fomos
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