Ser pássaro deveria ser bom. Pensou o menino. Costas ao chão, olhos em céu de nuvens que se faziam coisas.
Cães, ovelhas, lobos e avós. Carros e todas as formas que a alma das nuvens carrega. Mãos sob a cabeça enorme de sonhos e cores que explodiam e pintavam a ótica de tudo que via.
Ser pássaro. Passarinho de vôo alto e asas compridas de distancias todas que se alargavam em sonhos e fantasia.
Sete anos. Pés abandonados por qualquer espécie de calçados. Roupas que remendavam um corpo magro e ossudo.
“Levanta daí cara, vamo brincá.” Convidavam os amigos da rua. Todos eram amigos da rua, mas esta com suas sinuosas armadilhas não correspondia muito. E escondia na penumbra dos olhos que dormiam, toda sorte de perigos que seduziam e amedrontavam os garotos.
Sete levantou. Cuíca, o vira-lata aproximou-se. Inseparáveis. Simbiose de amizade. No olho. O discurso entre os dois se resumia em gestos e olhares, e isso era suficiente. Lambeu a mão do menino que ainda olhava para o alto. “Ser pássaro deve ser bom né Cuíca?” e os olhos do animal procuraram o céu e o pássaro e a imensidão azul. E o Sete já corria atrás dos amigos. Doze eram ao todo. Filhos da miséria. Mãe única. Muitos pais.
Mas sorriam muito dentro de suas bocas ressequidas e estômagos de linhas vazias.
Sensível !