Bergman e os Morangos Silvestres #TBT
Estivesse vivo, Ingmar Bergman teria completado 100 anos neste mês de julho. Nascido na Suécia em 1918, é considerado um dos maiores cineastas de todos os tempos. Dirigiu mais de 50 filmes, numa linha dramatúrgica e estética quase sempre voltada à investigação e sondagem dos labirintos da alma humana, particularmente da alma feminina. Seu estilo, onde sonho e realidade se fundem, é inconfundível.
Bergman deixou sua marca em diversas obras-primas, como Persona, O Sétimo Selo, Morangos Silvestres, Sonata de Outono. Três de seus filmes ganharam o Oscar de melhor filme estrangeiro: A Fonte da Donzela, Fanny e Alexandre e Através de um Espelho.
Em Morangos Silvestres sua sensibilidade vai muito além do que se poderia imaginar. O filme narra a viagem do emérito professor da Faculdade de Medicina, Isak Borg (interpretado por Victor Sjostrom) , de Estocolmo até Lund, onde seria homenageado por seus 50 anos de carreira.
Borg viaja com a nora, cuja vida conjugal entrara em crise. Ela lamenta a infelicidade de um casamento sem amor, experiência vivida pelo próprio Borg no passado. A aproveita a ocasião para afirmar ao sogro quão frio e egoísta ele sempre foi, tal como seu marido.
Há várias paradas na viagem. Numa delas o médico revisita a casa onde passara momentos de sua infância e a visão dos morangos silvestres traz-lhe à memória reminiscências e imagens de um passado feito de alegrias e dores.
A cada parada, uma nova lembrança, um mergulho no passado e uma renovada forma de ver a vida. Era um homem admirado, famoso, em boa situação financeira, mas por dentro corroído por culpas, tristezas, solidão e amargura. Um ser humano com grande dificuldade para amar as pessoas.
A viagem revela segredos de sua vida. O percurso, simultaneamente físico e espiritual do protagonista, simboliza um mergulho no seu interior, aos labirintos escuros de sua alma, a recantos difíceis de alcançar. Ali ele encontra a oportunidade de exorcizar seus demônios e reconciliar-se consigo mesmo. E, finalmente, encontra a paz.
Bergman nos presenteou essa magia, em branco e preto, alternando passado e presente, sonho e realidade, num exercício surrealista.
Morangos Silvestres foi filmado em 1957. O ator Victor Sjostrom, na época com 78 anos, faleceu em 1960. Ingmar Bergman faleceu em 2007.
Raros filmes nos oferecem imagens tão carregadas de emoção.
2018
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