Breve história sobre o banho de mar no Rio de Janeiro

Breve história sobre o banho de mar no Rio de Janeiro

Por Felipe Lucena -27 de dezembro de 2017

Na cidade do Rio de Janeiro é possível tomar banho de mar em praticamente todas as épocas do ano. Faz parte da rotina de quem mora na cidade. No entanto, nem sempre foi assim.

Tudo começou com Dom João VI. E por indicação médica. Aqui no Brasil, o monarca, após uma infecção causada por um carrapato, tomava banho de mar para curar a ferida.

O traje de banho usado em 1810 por dom João VI não era nada convencional nem mesmo para a época. O rei de Portugal tinha medo dos caranguejos e só aceitou entrar na água dentro de um barril. O recipiente que lhe serviu de roupa tinha o fundo tapado. Na lateral havia um pequeno buraco, por onde a água entrava. Conforme as exigências do monarca, apenas suas pernas podiam ser molhadas”, escreveu Álvaro Silva na revista Aventuras na História.

A inspiração para os preocupados médicos de Dom João veio da Europa. Na França e na Grã-Bretanha, distintas senhoras tomavam seus banhos (sobretudo no Canal da Mancha) para curar doenças.

Depois de Dom João, a moda – inicialmente só por recomendação médica – pegou na cidade do Rio de Janeiro e no restante do Brasil.

Por muitos anos, as praias cariocas eram verdadeiros depósitos de lixo e até de cadáveres. A crescente adesão do público geral impulsionou, em 1906, a abertura do Túnel Novo, um caminho para os banhos em Copacabana e outras praias na ainda isolada orla das zonas Sul e Oeste do Rio, uma vez que as praias do centro eram sujas.

A preocupação do governo e dos banhistas com a falta de pudor nas praias era enorme. Inicialmente, as senhoras banhavam-se de madrugada, para não serem vistas. Contra os moleques que as importunavam, as casas de banho colocavam em suas paredes avisos como este: ‘É expressamente proibido fazer furos nestas cabines à verruma ou pena, os encontrados nessa prática devendo ser entregues à ação da polícia“, disse Álvaro Silva.

Era mesmo caso de polícia. Às vezes, até de prisão. Em 1917, o prefeito carioca Amaro de Brito regulamentou os horários para se tomar banho de mar no Rio de Janeiro. Quem descumprisse a lei era punido com multa e cinco dias de cadeia.

Os horários eram: de 1º de abril a 30 de novembro, podia-se entrar na água das 6h às 9h e das 16h às 19h. No verão, das 5h às 8h e das 17h às 19h.

A prática de esportes aquáticos, como a regata, motivaram ainda mais a popularizar o banho de mar na cidade do Rio de Janeiro.

Em 1946, o francês Louis Reard inventou o biquíni. Quinze anos depois, a criação de Reard chegou ao Brasil, mas foi proibida pelo presidente Jânio Quadros. A proibição foi superada com o tempo, como pode-se notar há décadas nas praias cariocas.

No início deste ano, o Museu Histórico Nacional abriu a exposição “Quando o mar virou Rio”, que falava sobre essa relação entre o carioca e o banho de mar.

Atualmente, não é preciso falar sobre os banhos de mar no Rio de Janeiro. Basta dar um mergulho.

Felipe Lucena é jornalista, roteirista e escritor. Filho de nordestinos, nasceu e foi criado na Zona Oeste do Rio de Janeiro, em Curicica. Sempre foi (e pretende continuar sendo) um assíduo frequentador das mais diversas regiões da Cidade do Rio de Janeiro.

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