Brisa
Vamos viver no Nordeste, Anarina.
Deixarei aqui meus amigos, meus livros, minhas riquezas, minha vergonha.
Deixaras aqui tua filha, tua avó, teu marido, teu amante.
Aqui faz muito calor.
No Nordeste faz calor também.
Mas lá tem brisa:
Vamos viver de brisa, Anarina.
Manuel Bandeira
Na minha adolescência eu lia muita poesia…Li as obras completas de Manuel Bandeira. Hoje, vejo que muitos adolescentes, góticos e alguns que usam roupa escura gostam do poeta Augusto dos Anjos, com seu lado sombrio e um vocabulário futurista. Mas na minha sombria adolescência, eu gostava mesmo era do Manuel Bandeira. Aquele “que” de doentio e infantil, misturado ao cinza, me fascinava. Posso afirmar que os livros desse poeta foram meus companheiros de noites mal dormidas. Só depois é que fui adentrando mundos poéticos diferentes como o transcendente Fernando Pessoa e o estoico Carlos Drummond de Andrade.
Hoje, terça feira de carnaval, lembrei muito do Bandeira, pois ele tem um livro chamado “Carnaval” com lindos poemas. Eu devia ter recomendado isso logo na sexta que passou, assim poderiam ler esse livro especial no feriadão, aproveitando muito bem o tempo. Mas nunca é tarde para ler o Bandeira.
No Livro “Carnaval” Manuel Bandeira faz uma celebração ao Carnaval. Ele publicou em 1919 e é o seu segundo livro (o primeiro foi “Cinza das Horas” de 1917). Nessa obra ele faz uso do verso livre. Manuel Bandeira é considerado um precursor do Movimento Modernista.
Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho nasceu no dia 19 de abril de 1886, na cidade do Recife, Pernambuco e faleceu no Rio de Janeiro, no dia 13 de outubro de 1968.
Obras de Manuel Bandeira
A Cinza das Horas, poesia, 1917
Carnaval, poesia, 1919
Os Sapos, poesia, 1922
O Ritmo Dissoluto, poesia, 1924
Libertinagem, poesias reunidas, 1930
Estrela da Manhã, poesia, 1936
Crônicas da Província do Brasil, prosa, 1937
Guia de Ouro Preto, prosa, 1938
Noções de História das Literaturas, prosa, 1940
Lira dos Cinquent’Anos, poesia, 1940
Belo, Belo, poesia, 1948
Mafuá do Malungo, poesia, 1948
Literatura Hispano-Americana, prosa, 1949
Gonçalves Dias, prosa, 1952
Opus 10, poesia, 1952
Intinerário de Pasárgada, 1954
De Poetas e de Poesias, prosa, 1954
Flauta de Papel, prosa, 1957
Estrela da Tarde, poesia, 1963
Vou-me Embora pra Pasárgada, poesia, 1964
Andorinha, Andorinha, prosa, 1966 (textos reunidos por Drummond)
Estrela da Vida Inteira, poesias reunidas, 1966
Evocação do Recife, poesia, 1966
Colóquio Unilateralmente Sentimental, prosa, 1968
POEMA DE UMA QUARTA-FEIRA DE CINZAS
Manuel Bandeira
Entre a turba grosseira e fútil
Um Pierrot doloroso passa.
Veste-o uma túnica inconsútil
Feita de sonho e desgraça…
O seu delírio manso agrupa
Atrás dele os maus e os basbaques.
Este o indigita, este outro o apupa…
Indiferente a tais ataques,
Nublada a vista em pranto inútil,
Dolorosamente ele passa.
Veste-o uma túnica inconsútil,
Feita de sonho e desgraça…
Bacanal
Manuel Bandeira
Quero beber! Cantar asneiras
No esto brutal das bebedeiras
Que tudo emborca e faz em caco…
Evoé Baco!
Lá se me parte a alma levada
No torvelim da mascarada,
A gargalhar em douro assomo…
Evoé Momo!
Lacem-na toda, multicores,
As serpentinas dos amores,
Cobras de lívidos venenos…
Evoé Vênus!
Se perguntarem: Que mais queres,
além de versos e mulheres?
– Vinhos!… o vinho que é o meu fraco!…
Evoé Baco!
O alfange rútilo da lua,
Por degolar a nuca nua
Que me alucina e que não domo!…
Evoé Momo!
A Lira etérea, a grande Lira!…
Por que eu extático desfira
Em seu louvor versos obscenos,
Evoé Vênus!
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