Carta à Nydia Bonetti
Por Joka Faria
Quando te leio Nydia Bonetti às vezes lembro-me de minha bisavó, dona Josa, lá em Paraisópolis, MG. Ela mantinha presépios o ano todo e morava numa casa de fazenda. Era a infância e quase a minha adolescência. Andava e subia naqueles morros, pulava as cercas. Por que afinal existem cercas? Existe o tempo?
Quando te leio Nydia Bonetti são as estranhas sensações de passado e presente. Hoje as fazendas são ruinas de nossas memórias. Não tenho uma só foto dela. Tudo se dilui nas lembranças e em sua religiosidade cristã. Quase não vou a Paraisópolis, ainda não dirijo carros. A velha Brasília que comprei foi levada na porta de uma agência bancária. Só ando de bicicleta, não sei dirigir para andar por aí sem destino. Meu carro não tem combustível, mas nossas imaginações são infinitas. Gosto das estradas sem destino, quando sonho posso quase tudo.
Quando te leio tuas vivências em casarões e memórias se tornam nossas, Nydia Bonetti. Piracaia torna-se mitológica, com seu rio, seus cães. Seus poemas navegam por labirintos de nossas sensibilidades, ainda não abri as páginas de seus livros. Seus poemas Nydia, nos libertam da rotina, leio-os vorazmente.
A literatura de hoje nos liberta! Minha bisavó está em mim e em minha família, em nossa genealogia do Sul de Minas Gerais, das famílias Teixeira. Aquela casa ainda existe, mas não está mais na família. A casa é só lembranças. Paraisópolis de seus cafezais e trens, não estão em minha memória, eu não existia neste tempo. O trem é lembranças de outros, sou um sujeito Valeparaibano, com algumas raízes de Minas Gerais de minha infância.
Nydia, sua poesia é como os velhos e insaciáveis doces de Tia Jovina, filha de Dona Josa, irmã de avó Maria. As mulheres são marcantes em nossa família. Em todas as famílias Brasileiras. Minha mãe Cida, tia Josilda. A Néia é minha irmã. Minha avó Nica. Tudo se faz memória e presente. O tempo é passado, presente e um futuro desconhecido e as mulheres sempre marcam nossa existência. Nydia, devoro seus poemas e eles se fazem nossas memórias.
João Carlos Faria
Inverno de 2022
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