Cinema, tudo de bom! 3
O som transforma o cinema
“Imagem e som não devem se ajudar mutuamente, mas que eles trabalhem cada um à sua
vez numa espécie de revezamento”
Robert Bresson,
Notas Sobre o Cinematógrafo
Em 1926 é produzido o primeiro filme com música e efeitos sonoros sincronizados pela Warner Brothers, o “Don Juan” com direção de Alan Crosland. Ele também fez “O Cantor de Jazz” (1927), primeiro filme com passagens faladas e cantadas, estrelado por Al Jolson.
A produção norte-americana em 1929, em sua maioria já era de filmes falados. Outros países como Alemanha, Suécia, França e Inglaterra, começam a experimentar o som nas suas realizações. Essa descoberta sonora chega a partir de 1930, a países como a Rússia, Japão, Índia e aos países da América Latina. Muitos seguiram essas produtoras que aderiram a nova maneira de fazer o cinema, agora com som. Mas nem todos se adaptaram logo de início, muitos diretores, roteiristas, atores ficaram incomodados com essa novidade na linguagem cinematográfica, mas acabaram se adaptando, pois não tem como fugir aos novos tempos.
Nessa época foram produzidos grandes títulos e são mostras que não se perderam dentro da história do cinema:
– “Alvorada do Amor”(1929), de Ernst Lubitsch.
– “O Anjo Azul” (1930), de Joseph von Sternberg.
– “M, o Vampiro de Dusseldorf (1931), de Fritz Lang.
Dos anos 30 até a II Guerra, outros centros de produção de cinema além de Hollywood, produziram grandes obras que merecem destaque.
Na França, o realismo poético, com melodramas policiais de fundo trágico, de Jean Renoir de “A Grande Ilusão” (1937) e “A Besta Humana” (1938). Marcel Carné de “Cais das Sombras” (1938), Julien Duvivier de “Um Carnê de Baile” (1937) e Jean Vigo de “Atalante” (1934). Esses filmes contem uma dose lírica relacionada aos problemas sociais. Retratam a vida social de Paris da sua época, com uma boa crítica à sociedade como um todo e por isso, foram exilados quando houve a invasão nazista.
Em 1957, um grupo de jovens inicia um movimento que tem como base a crítica ao acadêmico cinema francês. Esse movimento, chamado NOUVELLE VAGUE, inicia uma renovação na linguagem do cinema. O grupo propõem um cinema de autor, sem dar ênfase ao lado comercial, utilizando poucos recursos e com isso preferindo o exterior do que o estúdio e principalmente mexem com as regras narrativas. Esse movimento se interessa mais pelas questões existenciais dos seus personagens, do que a situação social e política, temáticas utilizadas pelo movimento neo-realista.
Jean-Luc Godard, foi um dos fundadores da nouvelle vague, um dos formuladores da “política de autor”, em que o diretor é considerado o único autor na produção. Seu primeiro longa-metragem é “Acossado” (1959). Suas outras obras também são muito importantes, como “O pequeno soldado” (1960), “Uma mulher casada “(1964) e “A chinesa” (1967). O filme “Je vous salue Marie” (1985), foi considerado herege pelo papa João Paulo II.
Outros representantes desse movimento são:
– François Truffaut (Os incompreendidos)
– Claude Chabrol (Os primos)
– Alain Resnais (Hiroshima, meu amor)
– Louis Malle (Trinta anos esta noite)
– Agnès Varda (Cleo das 5 às 7).
Com o tempo, esses primeiros representantes vão seguir caminhos diferentes.
Após a década de 60, o cinema mostra um lado intimista nas produções e os filmes retratam mais o cotidiano:
– Bertrand Blier (Meu marido de batom)
– Eric Rohmer (Amor à tarde)
– Bertrand Tavernier (Por volta de meia-noite)
– Patrice Leconte (O marido da cabeleireira)
– Jean-Jacques Beineix (Betty Blue, A lua na sarjeta)
– Luc Besson (Nikita).
Na Rússia, os temas abordados estavam relacionados à revolução. Foram produzidos os filmes:
– “A Nova Babilônia” (1929), de Grigori Kozintsev
– “Volga-Volga” (1938) de Grigori Aleksandrov
– “Ivan, o Terrível” (1944) de Sergei M. Eisenstein
– Trilogia de Máximo Gorki (1938), de Mark Donskoi.
Esses filmes foram feitos no tempo de Stalin, período esse, dominado por filmes de propaganda impostos pelo mesmo.
O Encouraçado Potemkin foi feito para lembrar o aniversário da malograda insurreição de 1905 contra o Czar Nicolau II. Apesar de ser uma espécie de documentário, o filme foi cuidadosamente construído em todos os níveis, por Sergei Eisenstein. Segundo ele próprio explicava que a montagem final do filme baseou-se na dialética marxista e com a justaposição de luz, ângulo da câmara e movimento, criando significados. A ideia do diretor era construir um herói coletivo, no caso as massas russas, representadas pelos amotinados do encouraçado e o povo de Odessa, que era simpatizante da causa dos insurrectos de um navio. Criava assim, dois personagens coletivos e coerentes: o encouraçado e a cidade – o drama se construía com o diálogo e a união de ambos.
Eisenstein começou a mudar muitos padrões no cinema, um deles é que começou a usar atores não profissionais. Eisenstein foi aos poucos, desvencilhando-se desse modelo artístico do realismo socialista e ganhando expressão dentro e fora de seu país.
Na Itália, cineastas e críticos depois da guerra, iniciam uma crítica mais acirrada em relação aos problemas sociais e se mostram contra os esquemas padronizados das produções. Surge então, o movimento neo-realista na Itália.
Começa então, toda uma renovação na temática dos filmes, na linguagem e na relação com o público. Essa experiência neo-realista não dura muito, mas foi impactante e em outros lugares essa forma de expressão foi feita de formas diferentes. Destaca-se aqui os poucos recursos, uma linguagem mais simplificada, as temáticas mais contestadoras, atores não-profissionais e as tomadas ao ar livre. Os filmes retratam o dia-a-dia de proletários, camponeses e da pequena burguesia.
Exemplos dessa época:
– “Obsessão” (1943) de Luchino Visconti, inaugurou o neo-realismo. – “Roma, Cidade Aberta (1945), “Ladrões de Bicicleta (1948) – A trilogia de Roberto Rosselini
– “Umberto D” (1952), de Vittorio De Sica.
No final da década de 50 e início dos anos 60, o cinema italiano passa para a investigação psicológica, retratando uma sociedade em crise:
– Michelangelo Antonioni e Federico Fellini fazem reflexões morais sobre a condição humana.
– Luchino Visconti, em “Rocco e Seus Irmãos” (1960), mostra a vida dos imigrantes.
– Pier Paolo Pasolini em “Teorema” (1968) discute a sexualidade.
Nos anos 70 novamente o cinema italiano muda e retoma a discussão política ou existencial, com Ettore Scola, herdeiro da comédia italiana. “O Último Tango Em Paris” (1972), de Bernardo Bertolucci, foi um marco importante e uma das produções mais representativas dessa época.
Nos Estados Unidos, Hollywood vive os seus anos de ouro em 1938 e 1939. E surgem então as superproduções como:
– “A Dama das Camélias”
– “E o Vento Levou”
– “Casablanca”
– “Cidadão Kane” – Orson Welles lança em 1941, o filme que revoluciona a estética do cinema. Ele mexeu com a narrativa cronológica mostrando um enredo não linear, ousou na profundidade de campo e a iluminação foi inspirada no expressionismo.
Mas não vamos parar por aqui, no próximo post vamos falar do cinema brasileiro, até lá.
Elizabeth de Souza
Texto baseado nos artigos da UBC (Universidade Brás Cubas) e sites como:
- Adoro Cinema
- https://cinemaeuropeu.blogspot.com/
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