Por Beth Brait Alvim
Conheci Paraty em 1975. Sem Rio – Santos, sem espetáculos, sem lojas e lojas e restaurantes e restaurantes e pousadas e mais pousadas. Conheci nativos músicos, pescadores, artesãos, poetas.
Lembro do Kleber, poeta e músico, cuja morte trágica não teria acontecido sem a invasão do “turismo” em Paraty. Lembro da Dona Geralda, hoje nome de rua, e de sua comida caseira. Lembro do Gabeira chegando na cidade pós exílio, com um casaco à la Sargent Peppers. Lembro da Sônia Braga dançando no Luz Difusa quando filmaram Gabriela na cidade.
Ah, e os saraus, que tinham outro nome, nas igrejas, que um amigo do curso.onde lecionávamos no Largo 13, em Santo Amaro ( requisito do diretor para nos contratar era que fôssemos socialistas. Comunistas, digamos, e nem sabíamos a diferença. Líamos o manifesto comunista escondidos, de madrugada, com o querido Jorge Astral- que foi atropelado e morto em 82, um dos professores. Esse codinome lhe dei porque, sendo amigo da Hilda, ficávamos loucos tentando ouvir as vozes do além que ele via Hilda captar no seu sítio em Campinas. Jorge era de lá. Ficávamos horas tentando ouvir as vozes no rádio do.meu corcel 76… após nossas aulas…)
Muita história.
Éramos apaixonados por Paraty, a “Velha” . Somos.
Amigos que considero criticam a FLIP. Eu também. Pelos mesmos motivos. No entanto, sinto um furor diferente este ano. Deve ser a Hilda. A poesia, certamente. Rara e marginal poesia.A poesia grita. Em nossas vidas não ouvimos seu uivo, sua essência. Este mundo embora aparvalhado ( que expressão, Luís Serguilha!) cada vez mais destituidor do ser, hoje carrega e mostra a urgência da poesia. Nunca tanta gente pronunciou “poesia”.
Paraty estará infestada como sempre na FLIP. Mas desta vez quero crer que a poesia a acariciará, a respeitará, a amará como a uma velha linda e ambígua, calejada e manipulada desde seu nascimento forçado.
Carregando esta crítica sintese na bagagem, no olhar e nos ouvidos, estarei lá após 10 anos de ausência: e de novo como júri de poesia da OFF FLIP, pela 2a vez.
A OFF FLIP se expressa e age desde sua gênese na contra corrente. Ela era a única saída e respiro independente do grande glamour, da politicagem e do comércio degenerado destas feiras. Resistência.
Minha editora, a Patuá, também estará e eu e tantos outros e outras poetas lançaremos nossos livros. Outra ação independente.
Tento, com a OFF FLIP, louvar e reconhecer os escritores de Paraty, as crianças de Paraty, os homens e mulheres de Paraty, que respeito e amo há mais de 40 anos.
Ovídio Poli Junior e Olga Yamashiro, seguimos juntos.
Sempre colaborarei com a OFF FLIP e com movimentos à margem. Essa é minha crença.
Viva A Velha, viva a poesia, viva a OFF FLIP.
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