COMO UM MÍSTICO AMARRA OS SEUS SAPATOS
“Deve haver mais coisas do que este mundo em que eu me movimento. Algo grande, amplo, sem limites. Deve haver mais do que a constante alternância de dor e alegria, felicidade e infelicidade, luz e escuridão. Algo duradouro, permanente e eterno. Deve haver mais do que minha existência isolada, única, como ser vulnerável e mortal. Algo inteiro, sustentável, que englobe tudo. Deve haver algo assim como um grande contexto, no qual minha pequena vida está inserida.”
Assim, Lorenz Marti começa o seu livro “Como um Místico Amarra os seus Sapatos”. A obra contém narrativas de situações do cotidiano, vividas por místicos, poetas, mestres zen, rabinos, pelo próprio autor, e, talvez por mim e por você. Fatos simples do dia a dia, cujo significado mais profundo passa despercebido. É da natureza humana venerar e valorizar o grandioso, o eloquente , o complexo, e enxergar apenas aquilo que se evidencia por meio dos sentidos físicos.
Cada capítulo da obra é um convite à reflexão; uma lição a aprender com as coisas simples da vida, que normalmente são desdenhadas por sua aparente insignificância.
É para ser lida sem pressa, com a alma leve e desarmada. Convém examiná-la sem juízos prematuros ou exageradas expectativas, apenas deixando-se surpreender com o que vem ao seu encontro.
Essa leitura é como percorrer um caminho e encantar-se com o inusitado. Cada passo tem o seu significado. O caminho parece não ter fim. Ele não prevê um destino, porque trilhá-lo já é o próprio destino.
Via de regra, as pessoas sofrem com suas agruras existenciais, imaginando, caso não sejam céticas, que suas vidas poderão se transformar por meio de acontecimentos extraordinários, algo assim como Paulo encontrando a Luz na estrada de Damasco. Mas, as coisas não acontecem dessa forma. O fluxo da vida não é assim. Não é uma linha reta, do berço ao túmulo. São os zigue-zagues que lhe dão sabor, pois ela seria enfadonha demais, não houvesse possibilidade de surpresas a cada instante, se não fluísse em ritmo de aventuras.
Cada capítulo dessa obra trata do sentido profundo das pequenas coisas, dos “insignificantes nadas” de cada dia, justamente podemos encontrar a essência e o valor de nossa passagem por este mundo.
“E quem sabe: com esse ato de amarrar os cadarços dos sapatos, talvez ele aprenda mais sobre o mistério da vida do que com o estudo de uma escritura sagrada”, assim escreveu Lorenz Marti, que nasceu na Suíça, é jornalista e escritor.
Por Gilberto Silos
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