Existe uma frequência meio desregulada, uma sonora adversa que ecoa em descompasso com as batidas do coração. É uma disritmia que incapacita o ânimo, que afugenta esperanças adormecidas por um tempo ferino. São tantas as emoções encapsuladas e esquecidas; são inúmeras as dores suscitadas e alastradas pelas margens do íntimo. O mundo gira numa sintonia muito distinta dos sorrisos que acometem nossa face; dos passos que transportam nosso corpo físico para destinos de paz.
A esperança tem vivido sob fissuras, alienando-se gradativamente em um véu de temor. Tem sido difícil amar, sobretudo quando o coração palpita em acentuadas rupturas, esforçando em gerar vida, a energia para impulsionar almas desfalecidas. É um mundo com aura mortiça, lutando para sobreviver em meio ao caos desembrulhado por homens caídos em seus próprios submundos. O que é este experimento de viver, senão uma mortalha que nos contém em intensos desencontros dentro de nós? Eis que vivemos em uma ilusão falsamente sadia que nos tem levado a automatizar os dias.
Um simples gesto parece nos aterrorizar, porque age em desencaixe a esta tensão que circunda os ambientes. O mundo se contrai e tudo se penetra com efetiva força, escondendo-se por trás de cortinas espessas e opacas; forçando-nos a clamar por um escape, uma ponte que nos extraia dessa ilha onde nos deixamos presos. Este viver solitário é o que permite nos conhecer a fundo, que abre os nossos olhos e nos incita a querer um fim ou uma solução; uma fuga deste sentir espelhado.
É o caminho de tijolos dourados que ansiamos encontrar, porque tudo tem se transmutado em um melancólico contrário, energia inversa aos nossos mais ternos desejos. Não apenas nos sentimos fora do lugar, a sensação é de que vivemos num mundo invertido, contrário aos nossos sabores, aos mais ternos sonhos que embalam a nossa vontade de seguir em frente. O que fazer para sair desse avesso, desse contrário em que o mundo se tornou?
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