31-12-2010
São Silvestre na veia!
A mais tradicional corrida de rua da américa latina não é novidade para mim, como sabem, mas desta vez ela teve um tempero especial, já que foi a primeira vez que o Entrementes esteve presente, cobrindo in loco o evento… obrigado, Beth!
Desta vez fui com o ônibus cedido pela prefeitura, que é capitaneado pelo Dutra, veteraníssimo corredor joseense, que já tem mais de 30 São Silvestres disputadas! Um feito digno de nota, sem dúvida. Os amigos que foram comigo de carro na prova anterior (vide minha resenha do ano passado, em
http://entrementes.com.br/2016/12/mais-uma-sao-silvestre-vencida/
desta vez não estavam presentes, mas em compensação meu amigo de longa data, Fábio, que já tinha corrido comigo em 2007, estava novamente presente. O pedestrianismo pode ser um esporte de DNA individual, mas não se engane, ele é excelente para se forjar amizades também, e é muito mais aprazível quando os amigos de treino participam juntos contigo numa prova oficial, ainda mais na São Silvestre, que é o Norte de todo corredor urbano.
O ônibus fretado saiu das imediações do Centro Esportivo João do Pulo, no Jardim Satélite, em São José dos Campos, e levou atletas não apenas da capital do Vale do Paraíba, mas também da vizinha Jacareí. E claro, estava presente também Elizabeth de Souza, cobrindo o evento para o Entrementes.
Esta São Silvestre teve uma alteração peculiar em sua organização, mudança esta absolutamente muito, mas MUITO mal-vinda, que foi a entrega da medalha para os atletas que concluem a prova junto com o kit da participação! Ou seja: com as medalhas sendo entregues nos dias 28, 29 e 30, o inscrito podia até ir para o litoral no dia 31 e desfilar na praia com a medalha, enquanto outros corriam os 15 Km pelas ruas de São Paulo. Bizarro. Particularmente para mim, a medalha só vai mesmo ter o valor devido quando a direção da prova enviar o certificado eletrônico para os atletas que tiverem completado a prova.
Se a medalha causou estresse, ao menos a camiseta da prova foi uma das mais belas que já vi na São Silvestre, sendo do mesmo tecido ultralight dos anos anteriores, e de cor laranja. Como é de praxe, vi pessoas de todas procedências, antes da prova e também durante a mesma: inúmeros estados brasileiros, além de alguns estrangeiros. Novamente não fiz o que já havia comentado no ano passado… nada de correr com uma camiseta com “SJCampos” escrito. Enquanto não fizer isso, vai ficar faltando algo para mim, em relação à São Silvestre.
Claro que também estavam lá as inúmeras fantasias, que já são uma marca resgistrada da prova.
Só para citar algumas: Roberto Carlos (o cantor), Tiririca, Mulher Maravilha, Cangaceiro, Dilma… Outra mudança na organização foi deslocar os caminhões dos Correios que funcionam como guarda-volume para a rua atrás do MASP, com acesso pela Avenida Rio Claro. No ano passado os caminhões ficaram na própria Avenida Paulista, e confesso que gostei da mudança, pois peguei minha mochila de volta muito mais rapidamente este ano.
Dada a largada, para minha surpresa, consegui já sair em trote com pouco tempo de espera, bem diferente do ano passado. E olha que este ano eram perto de 22 mil participantes (quase 18 mil chegaram ao final)… mas para mim, pareceu que era menos gente, pois também senti que havia menos “engarrafamento” durante a prova. Por sorte, o clima estava ótimo para a prática do pedestrianismo, pois fazia um tempo nublado, mas a chuva não veio. Com isso, tivemos uma temperatura que não passou dos 25º Celsius… ah que diferença dos quase 40º de 2007! Apesar de bem treinado, este ano eu estava com uma enorme interrogação na cabeça quanto ao meu desempenho, pois havia lesionado meu joelho direito (que já é baleado há alguns anos) há um mês, e mesmo o poupando ao máximo nesse tempo, ele havia doído muito em meu último treino uma semana antes da corrida.
O começo da São Silvestre é sempre uma festa para as câmeras, não se consegue realmente correr, então o negócio é curtir essa primeira parte na Paulista da melhor forma. Corrida de verdade é quando fazemos a curva na Consolação…. é uma enorme descida, onde se passa ao lado do histórico Cemitério da Consolação, um dos mais cultuados pelos apreciadores da subcultura gótica. Já no Km 03, entramos na Avenida Ipiranga, próximo à Praça da República. Meu ritmo era bom, nada de forçar por ser tudo em declive até ali – o que sobrecarrega os joelhos – mas também nada de correr abaixo de meu normal. Passamos pelo Km 04, já entrando na Avenida São João, onde encontramos o primeiro posto de hidratação. Ainda era cedo para sentir sede, mas mesmo assim peguei dois copos… metade de um copo para beber e o restante para jogar sobre o corpo. É preciso muito cuidado nesses postos de água, pois é comum acontecer atropelamentos entre os atletas, ávidos para pegar logo o precioso líquido, e que acabam se chocando uns com os outros.
No Km 05 começa a primeira parte mais exigente da prova, quando se enfrenta a subida do Elevado Costa e Silva, o popular “Minhocão” dos paulistanos, mas nada que se compare à subida da Brigadeiro. Nesse quilômetro, para meu lamento, meu joelho começou a doer…começou de forma leve, mas no Km 06, final do Elevado, a dor já estava numa intensidade significativa, me preocupando bastante, pois se passasse do nível em que se encontrava, eu fatalmente começaria a mancar. Mas para minha sorte, ela se estabilizou pouco depois num nível até um pouco abaixo da dor do Km 06, o que me permitiu seguir no mesmo ritmo, praticamente sem prejuízo de desempenho.
No Km 07, no Memorial da América Latina, ficava o segundo posto de hidratação… este sim muito bem-vindo, pois mesmo com a temperatura agradável, o corpo já pedia um “reabastecimento” de água. Passamos pelo Viaduto Pacaembu e chegamos à metade da prova. Foi a primeira vez que olhei para o relógio… meu tempo era bom, até melhor do que eu esperava, e se mantido, poderia até quebrar meu recorde. Como sempre, uma das partes mais aprazíveis de se correr a São Silvestre, é a participação das crianças que ficam nas calçadas esticando as mãozinhas para que os atletas as cumprimentem. Eu sempre procuro correr nas laterais só para ter esse contato com elas.
Passamos pela Avenida Rudge, no Km 09 e nos encaminhamos para a Avenida Rio Branco, já no Km 10, onde encontramos mais um posto de hidratação. Posso estar me confundindo, mas acho que foi neste instante que as pessoas que assistiam à corrida começaram a gritar para nós que o Marílson havia vencido. Isto só me deu mais ânimo ainda para ignorar a dor e seguir firme em frente. No Km 11, passamos pelo belissimo Teatro Municipal, no Largo do Paissandu, e nos encaminhamos ao Viaduto do Chá, no Anhangabaú, para mais um posto de hidratação, seguido de um muito bem-vindo posto de Gatorade. O isotônico foi estrategicamente colocado em saquinhos de plástico, o que facilitou bastante o seu consumo. A única crítica é que eles não foram em número suficiente para todos, pois ouvi de dois atletas que correram em um ritmo mais lento do que eu, que quando eles passaram por ali o isotônico já havia acabado. Quando soube disso pesou um pouco minha consciência, pois peguei dois saquinhos e mal toquei no segundo…
Km 13, início da subida da Brigadeiro, o pesadelo de muita gente! Eu adoro aclives, é meu ponto forte, mas desta vez estava temeroso que o joelho travasse pelo esforço da subida. Mantive meu ritmo normal, de ir ultrapassando muitos atletas que não tem o mesmo gás na Brigadeiro, mas na metade dela meu joelho começou a “gritar”, atingindo o nível de dor mais forte no dia. Por uma fração de segundo eu cheguei a pensar em caminhar, mas logo no instante seguinte me lembrei que jamais caminhei em qualquer corrida de rua em toda a minha vida de atleta amador, e quero morrer podendo dizer a mesma coisa. Ou na pior das hipóteses, se tiver que caminhar, que seja numa maratona, que tem 42 Km, não numa corrida curta de apenas 15 Km, como a São Silvestre.
Diminuí o ritmo apenas um pouco, mas segui firme em frente, ainda mais que, para minha surpresa, meu tempo era muito bom, com chance de bater o do ano passado! Km 14, final da subida da Brigadeiro, ignorei o último posto de água e me concentrei em tentar dar um sprint final assim que fizesse a curva para a esquerda, entrando na Avenida Paulista. Nessa hora você simplesmente esquece fadiga, dor, o que seja, e literalmente corre para o abraço.
Vendo o cronômetro oficial cada vez mais perto, não acreditei no tempo que os dígitos marcavam, olhei para meu relógio e ele se mostrou cúmplice da cronometragem oficial: eu estava para bater meu melhor tempo na prova! Aí foi cruzar a linha de chegada com a imensa satisfação de dever cumprido e de recorde batido! Meu tempo oficial foi de 1h 21min 15s, baixando meu recorde pessoal em cerca de 2 minutos. Valeu cada gota de suor!
A dispersão desta vez foi muito mais rápida que nos anos anteriores, já que a medalha já havia sido entregue antecipadamente, e também não era preciso devolver o chip de cronometragem, que pela primeira vez era descartável. Depois foi só me dirigir aos guarda-volumes, pegar rapidamente minha mochila e rumar para o local onde nosso ônibus nos esperava.
Vale citar também uma informação interessante… o Fábio correu com um monitor cardíaco, e me cedeu os dados obtidos. A frequência cardíaca dele, que antes da prova estava entre 65 a 80 batimentos por minuto, oscilou durante a corrida entre 122 (descidas) e 187 (Brigadeiro) batimentos por minuto. Ele gastou 1303 calorias, e segundo ele próprio (é educador físico), uma pessoa necessita de 2000 calorias, em repouso, para manter o suporte de vida. Ele melhorou seu tempo de 2007 em 15 min, fechando em 1h 47 min! Parabéns, rapaz!
Viram as calorias perdidas? Quem está aí lendo esta matéria, sedentário e reclamando que precisa emagrecer, já sabe o que fazer…
Dias antes da prova já circulava na imprensa e também entre os atletas um boato de que esta pode ser a última São Silvestre a ter a chegada programada para a Paulista… a largada continuaria a ser ali, mas a chegada seria transferida para as imediações do Parque do Ibirapuera. Tudo isso para não atrapalhar a tal festa da virada do ano, e também para aumentar o número de corredores. Sinceramente eu torço com todas as forças para que isto não passe de boato, pois profanar uma tradição de 86 anos só por causa de festa de Réveillon, seria criminoso. Um alento é que Júlio Deodoro, o diretor geral da São Silvestre, em momento algum falou dessa mudança, pelo contrário, ele falou sim é de uma mudança positiva, que seria deslocar o palco do show da virada do ano duas quadras adiante, na altura da Avenida Paulista com a Rua Augusta.
“Estamos sempre buscando as melhores condições para que a São Silvestre cresça cada vez mais. Com o palco duas quadras adiante, melhoraria para o Réveillon e para a São Silvestre. Nós poderíamos usar as duas pistas da Paulista na largada e na dispersão depois da chegada. Nessas condições, seria possível entregar as medalhas no final da prova. Se fizermos isso em 2011, teríamos logo de cara 30 mil corredores com certeza”, afirmou Deodoro.
Bem, é esperar para ver.
Este foi sem dúvida um ótimo ano para mim no que tange às corridas, pois consegui quebrar meu recorde nos 10Km que perdurava desde 2007, e terminei o ano quebrando meu recorde nos 15Km.
Agora é aguardar a segunda edição do Circuito Joseense de Corridas de Rua neste 2011, e claro, tentar fazer outra boa São Silvestre no final do ano!
Faltam apenas 12 meses….
Ah, e parabéns pelo tri, Marílson!
Confira os tempos oficiais da prova masculina:
1. Marílson Gomes dos Santos (Brasil) – 44m07s
2. Barnabas Kiplagat (Quênia) – 44m49s
3. James Kipsang (Quênia) – 45m15s
4. Giovani dos Santos (Brasil) – 45m34s
5. Emmanuel Kipkemei Bett (Quênia) – 45m41s
Confira os tempos da prova feminina:
1. Alice Timbilili (Quênia) – 50m19s
2. Simone Alves da Silva (Brasil) – 50m25s
3. Eunice Jepkirui Kirwa (Quênia) – 51m42s
4. Cruz Nonata da Silva – (Brasil) 51m51s
5. Diana Judith Landi Andrade (Equador) – 52m35s
“”Sono poeta delle tenebre e della malinconia; ma non piango lacrime, piango poesia!””
DALTO FIDENCIO – E Pluribus Unum
Faça um comentário