COXINHA NÃO!
“Coxinha não moço!” “Não faço parte dessa corja de bandidos!” “Querem acabar com os pobres, esses reacionários.”
“Coxinha sim.” “E peitinhos também.” “Olha só o traseiro da morena que tá chegando.”
Disse já bêbado, o carioca intrometido.
A moça ouviu e argumentou. “Não põe a mão, sacana”. “Isso aqui é propriedade privada.”
“Tá no lugar errado filha, aqui socializamos tudo.” E já distribuía gratuitamente os seus zines, pura arte marginal e panfletária, o CHÊ da Vara, dono do bar. O mesmo que fazia os quitutes e as coxinhas. Seu nome era Inocêncio, mas CHÊ da Vara, veio a calhar, porque pra ele, todo mundo era um “porco chauvinista”.
Dizia às claras que a nova esquerda resistia só nos pivetes e nas putas.
Frases de efeito, mas antiquadas, as do panfleto. “FORA TEMER!”
“HOLOCAUSTO JÁ! TRUMP ganhou a presidência dos EUA!” Essas frases o Chê pichava nas paredes e nos postes, próximo ao seu bar, com a ajuda dos mendigos que lá comiam.
Porco chauvinista! E ninguém sabia o que queria dizer isso.
O bar era perto da faculdade de Direito, aclimatado com o ambiente universitário. Poesia beat grafitada nas paredes. Samba aos domingos. Mas hip hop era o que se ouvia no momento.
Naquela noite um vereador passou por lá e resolveu tomar birita. Era “coxinha”, o desgraçado. Com o amigo iniciou uma conversa atravessada. Coisas do mal que não agradou ao cozinheiro militante do partido comunista. Era matraca, o político. Ele contou que apoiava pena de morte. Desembestou a falar mal da presidenta. Relatou que o seu avô havia enfiado umas baratas no cu das vacas terroristas. Como a dama, de primeira. Nos idos anos de sessenta.
Não sei por que, mas calculei que o pobre ia pedir o prato que o matou.
Coxinha nele! Gritou o CHÊ, inconformado. Quase um slogan revolucionário. E a polícia entrou no bar com um “mandado” de prisão.
No camburão gritou com fúria, o panfletário. “Coxinha nele!” Dias após o envenenamento que vitimou o falador.
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