Dalva Bolinha

Senhora Dalva patroa, tá lá a patroa Dalva enclausurada em seu retrato. Na parede descascada do salão dos recitais, reina Dalva – a bela dama. Empertigada e altiva. Olhando, olhando, como olha essa mulher, da minha entrada à saída. Só sabe olhar e mais nada, essa antes linda fêmea, patroa de dez mucamas e senhora dos enxovais.

Aviso a quem chega agora: pra onde quer que se vá, repare bem nos seus olhos. Aquelas jabuticabas não param quietas nas órbitas. Controla Dalva a fazenda – o café, a entressafra, o gado. Tem de cabeça o estado de cada arado na roça. Não há o que escape da vista da soberana patroa.

O que Dalva fazia, e bem feito, eram os bolinhos de chuva. Chovesse ou fizesse sol, tinha disso na despensa. Dalva Patroa, que hoje morta tudo vê, quando viva não enxergava a galharia na testa. Desconfiava, é verdade, mas certeza mesmo, nada. Só sei dizer que Dalva, a patroa tão esguia, afogou todas as cismas se fartando dos bolinhos.

Ficou uma bolinha a Dalva, e dessa Dalva bolinha não se conhece o retrato.

Imagem: https://amarnaimagens.blogspot.com/2012/08/fotografias-antigas-de-mulheres.html

 

Esta é uma obra de ficção

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