De livros e guerras
Li uma bela crônica de Sergio Augusto (escritor e jornalista), publicada recentemente no jornal O Estado de S. Paulo. Ao lado do texto, ilustrando-o, uma foto muito viralizada nas redes sociais: a janela de uma casa em Kiev, Ucrânia, protegida com livros. Montaram ali uma barricada com grossos volumes para se proteger da artilharia russa, enquanto a cidade era atacada.
Sabe-se, historicamente, que barricadas são feitas com sacos de areia ou qualquer outro material capaz de suportar o impacto de balas e bombas. Mas livros… parece-me ser a primeira vez. Nada mais apropriado para ilustrar aquelas palavras de Monteiro Lobato: “Um país não só se faz, mas também se defende com armas e livros.”
Essa imagem, até como metáfora é verdadeira em todos os sentidos. Contra todo tipo de agressão, o livro é uma arma de defesa, inclusive porque pode salvar vidas e consciências.
Pensando na realidade brasileira, nunca necessitamos tanto desse tipo de barricadas. Não enfrentamos nenhum conflito armado, mas em território brasileiro há uma guerra aberta contra a cultura em suas mais diversas manifestações. Sem recursos, sem apoio, demonizada ideologicamente.
O Ministério da Cultura foi extinto. Aquilo que lhe era pertinente foi transformado em secretaria, na verdade um mero apêndice do Ministério do Turismo. As razões alegadas não se sustentam, tão frágeis são os argumentos usados para justificá-la.
A cultura é um fator importante na definição da identidade de um povo. Só posso entender essa atitude governamental como uma estratégia de manutenção de poder, pela atrofia do pensamento crítico e do sentimento de inconformismo.
Que saudade de JK e dos “anos dourados”!
Por Gilberto Silos
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