De papo pro ar
Em setembro, faleceu aos 85 anos o sociólogo italiano Domenico de Masi. Professor emérito de Sociologia do Trabalho da Universidade Degli Studi “La Sapienza”, de Roma, foi autor de dezenas de livros.
Anos atrás, De Masi ganhou projeção mundial com sua obra “O Ócio Criativo”.
Humanista, visionário, nunca perdeu a fé em sua utopia de um mundo mais justo e solidário. Defendia a ideia de que devemos procurar o equilíbrio em nossas vidas, conciliando trabalho, estudos e lazer. Isso implica não nos permitirmos ficar sobrecarregados de afazeres, pois essa sobrecarga inibe e sufoca nossa capacidade criativa.
Quando as pessoas não sofrem essa pressão, as ideias tendem a chegar de forma inesperada e os momentos de ócio são os mais favoráveis à manifestação da capacidade humana de criar e inovar.
No seu lançamento no Brasil o livro recebeu críticas do empresário Antonio Hermirio de Moraes, na época um dos homens mais ricos deste país. Moraes desdenhou da teoria do “ócio criativo”, pois acreditava no trabalho árduo como mola propulsora do progresso e do bem-estar das pessoas. Ele mesmo, um “workaholic” inveterado, não se permitia horas de descanso, lazer e férias. Trabalhava em seu conglomerado empresarial e nos fins de semana administrava o Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo.
Num raro momento em sua vida, Hermirio resolveu sair de férias, e permaneceu algumas semanas na Europa. Ao regressar percebeu que sua ausência nada alterou na vida de suas empresas. Ele simplesmente não fez falta.
Para Domenico de Masi a redução de horas na jornada de trabalho pode reduzir significativamente, ou até eliminar, o nível de desemprego. Ele, em seus estudos, estabeleceu uma relação entre horas/ano trabalhadas e o nível de ocupação de vagas. Segundo suas pesquisas, um alemão trabalhava em média 1400 horas/ano, com uma taxa de desemprego de 3,8% em seu país. Na Itália, para uma carga média anual de 1800 horas, o desemprego chegava a 11%.
De um modo geral, o cérebro tende a encontrar soluções mais criativas e inovadoras nos momentos de ócio e relaxamento. Assim, ficar de “papo pro ar” pode ser um bom caminho onde um impasse bloqueou todas as saídas.
Por Gilberto Silos
Gilberto, sou adepta do ócio. Acredito muito que nós humanos, só deveríamos trabalhar apenas 2 horas por dia para sobreviver. As outras 22 h só dedicar ao sono, as artes, a filosofia, a ciência e as coisas do espírito…mas a humanidade insiste em fazer o caminho contrário. Abração!