Decl(amar) por Alexandre Lúcio Fernandes

Art by: Soheil Ghanbari

por Alexandre Lúcio Fernandes

Amar é verbo que se declama no silêncio, rimas vertidas em gestos entumecidos com o zelo de corações emaranhados pelo sabor da paixão. Arredio é o encontro, quando a estrutura se insinua por trás de um sorriso engrandecido e apaixonado. Sentimento é insistente, reclama e se faz vívido, brilho que se derrama reticente pelos cantos mais íntimos da alma. O clamor de um coração, quando se ergue, ecoa sutil pela boca.

A palavra renasce nas arestas, refastela-se pelo colo febril do peito; lavra deduções e se faz segredos. Porque o verbo ama sem precedentes ou explicações. Cada palavra é tanto, com o intento de ser manto, reluzente em significados, um abraço acariciado, não raso. Ela esconde o melhor em entrelinhas, em cortinas de letras que unidas formam o palco, o desajuste de um coração repleto de significâncias. Palavra cuspida e [mal] dita, [trans] fere, nos aprisiona e desajusta.

Mas a palavra que acena seu mantra, transcende em sentir, em uma beleza que figura o belo desejo de ser, cerceando a dor do dissabor. Palavra certa é a incerta, que mal sabe de si, mas encontra o seio para se aninhar. É enlevo que desconhece, mas ganha nome ao ser provida com certos olhares. Palavra ganha nome no coração de quem é, de quem chama, de quem ama e canta [o amor].

A fala se esconde, escapole por dentro e se insere, ascende e reascende a chama que ilumina esperanças e amores. Declamar é padecer na sinfonia melodiosa que embala o peito; sintonia que conecta distâncias e traduz afetos; concretiza os desejos mais efêmeros. O corpo respira, sofre e suspira as rimas enternecidas com o encanto tão eloquente que o amor pincela.

Intenso é o desejo, o mote que esquadrinha um mural de partituras, um ritual que se principia no coração, resiste e reside, transformando o corpo; amando sem descansos; valsando sob o efeito de cálidas rimas. A amor se faz além das palavras que, belas, se equacionam pelas margens da alma. Declamar é reafirmar o que o coração entoa; é confirmar definitivamente o que no peito ecoa.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*