Delfos e a verdade de cada um

DELFOS  E  A  VERDADE  DE  CADA  UM

Por Gilberto Silos

Na fachada do templo de Delfos, na Grécia , há  uma inscrição desafiadora: “Conhece-te a ti mesmo”. A frase completa é: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo”. Mais de dois milênios se passaram  e esse desafio continua mais atual do que nunca. Aqueles que buscam a elevação espiritual acabam aceitando, com o passar do tempo, a realidade de que não basta apenas adquirir o conhecimento intelectual das verdades externas para alcançar a iluminação. É muito mais do que  conhecermo-nos  em termos de nossa relação com o mundo físico e  com as pessoas que nele vivem. Esse processo vai muito além. Significa principalmente compreender nossa natureza espiritual, nossa origem, nosso destino e as potencialidades divinas latentes em todos os seres humanos.

Autoconhecimento tem muito a ver com autodespertamento. Místicos como Meister Eckhart e Angelus Silesius, e filósofos como Platão e Goethe, examinaram essa questão com muita profundidade.  Concluíram que o autoconhecimento se amplia na medida em que cresce a percepção e compreensão da Unicidade da vida e da Unidade de todas as coisas. Quanto mais  conhecemos a nós mesmos, mais claramente compreendemos o mundo que nos rodeia.

O mundo exterior existe para nós na medida em que se comunica com a nossa consciência, ou, mais exatamente, na medida em que  a consciência esteja preparada para compreendê-lo. Uma vez que tenhamos   aprendido a “linguagem” de qualquer coisa externa, estaremos aptos a recebê-la e absorvê-la. Ela se tornará, literalmente, uma parte de nós.

O conhecimento, sob essa perspectiva, não provém tanto das coisas observadas, como do observador. Assim, as coisas externas “falam-nos”,  por assim dizer, somente quando sua “fala” pode ser compreendida por nossa natureza interna. Portanto, não existe algo como revelação externa, mas somente um despertar interior.

Quando o homem se abre ao Conhecimento Superior, compreendendo sua própria natureza divina, o conhecimento que ele tem das coisas transforma-se numa compreensão da verdadeira  existência. Essa transformação, todavia, só se realiza pelo próprio esforço, conscientemente.

Cada  pessoa tem o que pode ser chamado de “sua própria verdade”, porque é um indivíduo, distinto dos demais. A exatidão dessa “verdade” depende do grau do seu autoconhecimento. Como Goethe afirmou: “Se eu conheço a minha relação comigo mesmo e com o mundo exterior, eu  a chamo de verdade. Assim, cada um pode ter sua própria verdade; e, apesar de tudo, ela é sempre uma e a mesma”.

A busca do autoconhecimento é sempre  um processo individual e interno.

2018

Sobre Gilberto Silos 225 Artigos
Gilberto Silos, natural de São José do Rio Pardo - SP, é autodidata, poeta e escritor. Participou de algumas antologias e foi colunista de alguns jornais de São José dos Campos, cidade onde reside. Comentarista da Rádio TV Imprensa. Ativista ambiental e em defesa dos direitos da criança e do idoso. Apaixonado por música, literatura, cinema e esoterismo. Tem filhas e netos. Já plantou muitas árvores, mas está devendo o livro.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*