Diálogo com o poema de Edu Planchêz

Diálogo com o poema “Nasci e vivi numa praça seca encantada” de Edu Planchêz

 

Por Joka Faria após ler poemas no facebook como se lê livros.

 

Em Paraisópolis da minha infância havia sorvete de queijo. A praça com sua fonte. Onde eu fui pela primeira vez num cinema. E até estes dias não realizei nossos filmes. Imagine retratar nossa geração num filme? Em romances? Estamos felizes mesmo sem prêmios, sem editoras. O que é o sucesso? Se saboreamos a solidão do eterno ostracismo e temos nossa liberdade de criação sem a imposição do mercado?
Diante da poesia, intensa poesia que circula em nossas veias estava a ler Nydia Bonetti. Sonhamos com turnês mundiais, sermos reconhecidos em feiras literárias. Mas somos silenciosamente anônimos em nossas liberdades de viver. Lembro-me sempre de vocês e Harley Campos no centro do Rio, em volta do MST quando passaram na avenida de casa.
Estamos aí, centuriões da palavra. Rebeldes com causas, longe de quartéis. Sorvendo a poesia, néctar da liberdade.
Bem longe de quartéis de gente que não propõem nada de melhor para o Brasil, além da disseminação do ódio.
Nossos cabelos já estão brancos, nossas idades cronológicas avançam. Mas nossas lutas estão aí. Estamos felizes mesmo em dias de sintomas gripais. E a vida é uma eterna passagem de sonhos, ilusões, pesadelos. Mas nunca desistiremos da liberdade e das utopias.

Joka Faria
Dezembro de 2022.

 

 

nasci e vivi numa praça seca encantada

nasci e vivi numa praça seca encantada, paraíso verdadeiro
repleto de pássaros e frutíferas, cajueiros, mangueiras, jenipapeiros
e outras mamadis de beleza e sabor…
(para quem não é do rio, praça seca é um bairro do zona oeste)
lembro dos dias de encantamento, da feira,
do coreto no centro da praça,
da sorveteria que vendia sorvete de queijo,
da casa de dalva de oliveira na rua albano,
da casa de elizete cardoso que ficava na nossa rua, a rua marangá
de nossas brincadeiras, bandeirinha, queimado,
pique esconde…pera, uva e maçã,
a gente namorava com os gnomos das matas abissais,
meninos e meninas enluarados de canções do dia e da noite,
a psicodelia intensa e verdadeira era provada a céu aberto
repleto de estrelas e outros astros,
de disco voadores que só a gente via
com nossos olhos de crianças imaginativas,
cheias de vida maravilhosa

(edu planchêz pã maçã silattian)

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