Duas horas…uma década

Fotos: Tião Martins/Divulgação

30072017

DUAS HORAS… UMA DÉCADA

Uma tempestade grita lá fora… às vezes me pergunto se São José dos Campos não teria oculto em algum ponto esquecido de seu subsolo um túmulo contendo o próprio filho de Odin… viva a capital brasileira dos raios! E como sempre ocorre quando tormentas fazem um trottoir diante de mim, logo me vejo encarnando H.G. Wells e embarcando em uma máquina do tempo. Volto uma década, quando ainda trabalhava no Centro Técnico Aeroespacial (que hoje até já mudou de nome). Era noite e eu estava de guarda no prédio da Direção Geral, contando voltas no ponteiro do relógio, ansioso para poder voltar logo para casa, quando uma tempestade furiosa veio ter comigo. Por sorte, meu serviço era dentro do prédio, mas, amante que sou das forças da natureza, fiquei diante da grande porta de vidro, observando os raios que iluminavam os céus com brilho argênteo. Em dado momento, os raios me fizeram perceber, no pátio em frente à Direção, um pequeno animal todo encolhido, sendo castigado pela chuva.

Não tive dúvidas, abri a porta e comecei a chamar por ele, mas o pobrezinho não vinha, talvez por estar assustado. Corri pegar minha capa de chuva e quando já me preparava para enfrentar o resultado do mau humor de São Pedro, me dei conta de que parecia um Darth Vader colorido.. e com certeza iria assustar o pobre animal. E agora, o que fazer?  Não tive opção… saí na tempestade sem nenhuma proteção, e ainda por cima caminhando devagar, para não assustar o pequeno passageiro perdido da arca de Noé. Me molhei até os ossos, mas deu certo! Consegui me aproximar, falando com ele, acalmando-o, deixando notar que só queria ajudar. E então pude pegá-lo no colo. Era um gatinho muito jovem ainda, com pelagem preta com partes brancas… uma miniatura do Frajola!

Levei-o para dentro, sequei-o como pude e fizemos imediata amizade. Mas então fez-se o dilema: o que eu faria com ele quando chegasse a hora de ir embora?  A tempestade já havia se reduzido para uma simples chuva, mas não era esse o meu problema: como poderia entrar com um animal dentro do ônibus? Se não fosse abandoná-lo, a única solução seria voltar para casa a pé, numa caminhada de mais de duas horas… só um louco faria isso! Eu já havia arriscado uma pneumonia e repartido meu lanche com o gatinho… já havia feito minha boa ação do dia, e mais do que isso era impossível, por mais que me partisse o coração, ele teria que ficar por ali, afinal de contas, a chuva estava quase passando mesmo.

Subitamente sou acordado de minha viagem no tempo, e cá estou de volta ao presente. Um certo alguém se esfrega em minhas pernas, só para variar.
– Calma Thor! Que coisa, já está com fome de novo? Acredita que eu estava pensando em você neste exato momento?

 DALTO FIDENCIO   
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