E o lobos das ideologias dominam a todos!
Está tão violento, onde cabe a poesia? Há anos, mais na função de leitor do que arriscador de versos. Constantemente leitor de poemas e escritor de prosa. Eu queria sumir das redes que nunca são sociais. Desistir de escrever e deixar de retratar as loucuras humanas. De registrar nosso fracasso civilizatório. Ver um vírus nos destruir e ficamos impotentes. Assistir nas manhãs telejornais que mostram nossa impotência. Quanta gente morando em áreas de riscos, favelas e mais favelas nas cidades. E o lobo das ideologias dominam a todos. O silencio descomunal nas ruas. Nem um levante contra o cruel senhor Estado, com suas mãos de ferro. A mídia papagaio sem dar soluções. Gostaria de devorar os poemas dos suicidas, tentar entendê-los enquanto nos arrastamos neste perverso cotidiano de não ação. As religiões estão mortas, desmoralizadas. Fé em que? Em um criador invisível que nunca se apresenta? Não sou ateu e não tenho jeito para me matar. Vou sobrevivendo nas ilusões do ter, precisamos de trabalho e renda. Temos nossas necessidades, mas até onde vai nossas necessidades? E o que passa a ser consumo sem consciência? Estamos mudando nossos hábitos alimentares. Tenho perdido a batalha para não comer nossos semelhantes, os animais.
Ontem li um conto tétrico de Rubem Fonseca, mais um. Qual será meu limite para estes contos? Vasculho as redes sociais e só nossas vaidades sobram, só os poetas e filósofos, o suprassumo das redes sociais. Escrevo por ler um poema de Ricola de Paula. Conseguimos ter um dialogo franco e real nas redes sociais, no WhattsApp? Tenho me comunicado com uma pessoa por e-mail, o mais próximo das cartas. Mas a infelicidade não é clandestina, é real diante de nossas impossibilidades individuais e coletivas. Uma parcela que pode por vários motivos se isolar e uma grande parte da população com seus afazeres de trabalhos nas ruas.
Algumas favelas mostradas no Jornal Hoje, onde a maioria das famílias está sem trabalho. E cadê os governos? Estes míseros seiscentos reais bastam para as famílias? E nós, desta imensa classe C, D, E não reagimos diante da falência do estado? E os políticos preocupados com eleições municipais, infernizando nossas redes sociais e Whattsapp.
E um poema de Ricola de Paula me comove. Isto nunca passa, podemos ter um emprego, trabalho e uma renda, mas a náusea e o vazio existencial se faz presente, mesmo numa bela praia? No alto de uma montanha? Durante e depois de um sexo? A humanidade está em um imenso vazio e uns com a barriga roncando e outros com dores. Tomamos remédio para pressão, para dores, vamos a médicos, nos auto-medicamos e continuamos sempre vazios. Felicidade nunca existiu. As ideologias derrotadas diante do mercado financeiro, uma sociedade quase toda individualista. Revolução palavra desgastada. Poesia, poucos se arriscam a ler e a escrever. A vida é a dura poesia concreta dos sem esperanças.
Joka Faria
João Carlos Faria
Inverno 2020
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