Por Milton T. Mendonça
O dia amanhecera ensolarado. Há tempo que isso não acontecia, apesar de estar no auge do verão. O abuso excessivo estava mudando o clima irreversivelmente, e aquele ano estava mostrando que tínhamos ido longe demais.
Apesar disso, a vida continuava normalmente e os problemas climáticos eram pouco percebidos pela maioria das pessoas. Eurípides levantara alegre aquela manhã, acabara o horário de verão e o domingo teria uma hora mais para namorar. Espreguiçara-se pisando com o pé direito no tapete, pressionando-o bem, para que as divindades não deixassem de ver e lhe trouxessem sorte, senão, pelo menos, espantassem o azar para longe. Vestira-se calmamente pensando em Cacilda, que como ele, estava se aprontando para o piquenique. Esse encontro seria, se tudo desse certo, o princípio do relacionamento entre eles.
Abrira a porta da casa e se benzera como sempre fazia, pedindo proteção. Pegara sua motocicleta e se dirigira à casa de sua pretendida. Cacilda o esperava na varanda com a cesta de lanche na mão e, quando o viu, ao virar a esquina, se abanou ansiosa pedindo urgência.
Estacionara no meio fio e a recebera com um beijo no rosto. Ela subiu em sua garupa e partiram em direção ao campo, lugar, na beira do rio Paraíba, que descobrira há algum tempo e que era o ideal para o que pretendia: pedi-la em namoro.
O dia transcorrera tranqüilo, ouviram musica, lancharam, trocaram confidencias. No meio da tarde, depois de a ter sondado à exaustão arriscou o pedido, feito com voz emocionada. Tirou a aliança de prata do bolso e a entregou sem graça. Cacilda segurou entre os dedos com ar de aprovação, pedindo que a colocasse no lugar, firmando o compromisso com um longo beijo apaixonado.
A tarde estava em seu ocaso quando se lembraram de ir embora. Recolheram os objetos, subiram na motocicleta e, felizes, buscaram a estrada. Eurípides dirigia sem pressa, envolvido naquela bolha morna e aconchegante que passara a viver após o evento que marcara o ápice daquele dia maravilhoso, não percebendo as nuvens negras que se aproximavam empurrada pelo forte vento á noroeste.
A chuva chegou violenta derramando sua água pesada, varrendo o asfalto e derrubando o casal que foi jogado ao chão ainda abraçados. O rio transbordou num átimo, puxando para o fundo tudo que encontrou em seu caminho.
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