por Alexandre Lúcio Fernandes
Os dias pontuam seletivamente, contorcendo os dissabores ao avesso; transmutando ao verso o reverso dos nebulosos momentos. O sopro fúnebre que jaz na transição noite-dia reluz o torpor, vertendo a dor em um cobertor celeste de exímia maciez. A paz se realinha nas dobraduras cotidianas e furtivas, maquinando a textura das suas vestes, para que caibam nas formas mundanas e relegadas. Tudo se torna refém de uma passagem espontânea e imperceptível, profundamente natural e independente.
A penumbra reverte e, obediente ao espetáculo silente que brota ‘do nada’, assiste cativo o paraíso se despir e revelar sua autoridade imponente, porém, serena e cálida. Os olhares se perdem na poesia retumbante dos horizontes adormecidos e misteriosos, linhas convidativas para um deleite sem precedentes. O medo se acusa, debandando-se em meio a devaneios perdidos e inexpressivos. O céu acolhe o timbre do mundo, um eco de amor sobressaído do recôndito humano que sobrevive todo dia, ao tremor.
Fugaz é a chama que tremula os sonhos mais belos, e equaliza a ressonância poética dormente pelos cantos. A natureza se pinta no obscuro, atento a olhares que vasculham pelos valores esquecidos. Há quem ainda desembrulhe o amor em meio a tanto ódio. Tesouros são descobertos. Há passos que esculpem a esperança pelos territórios ermos, solidificam o chão e impõem base de sustento para quem crê e segue adiante. O caminho é traçado por uma sinfonia, protagonizado por uma orquestra divina.
As belezas rematam, florescendo em nossas janelas, apaziguando as aflições, o tempo latente que laça as horas e cicatriza fendas na alma. Findam-se sem enunciar. O sorriso se dilata nesse giro despretensioso dos dias incomuns, reverenciando as pradarias celestes que se avistam nesse ritmo leve de descosturar os tecidos do mundo. Viver exige perícia… E uma coragem sem tamanho! Certo é que os intervalos da vida são repletos de surpresa, e que as mudanças sempre ocasionam infindas e divinas doçuras no paraíso do nosso peito.
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