Essa entrevista foi feita ao vivo, durante a Segunda Jornada Literária de Campos do Jordão, no sábado, dia 4 de novembro. Ela foi gravada em áudio e transferida na íntegra para esse texto.
Eu sou a Teresa Bendini, escritora de livros infantis e também colaboradora da Revista Digital Entrementes. Essa é Segunda Jornada Literária de Campos do Jordão. Estamos aqui, a convite da Secretaria de Cultura da cidade que hoje em função do feriado, conta com mais de 10 mil turistas passeando e visitando a Feira Literária. Ela ocorre aqui na Praça do Capivari, em um sábado nublado, mas a gente está aqui, tendo o prazer de conhecer a Camila Serrador, autora do livro “Terra Vermelha”. Ela acabou de deixar a Tenda dos Autores juntamente com o escritor Diego Lops, finalizando um bate papo com o Benilson Toniolo, idealizador dessa jornada literária já na sua segunda edição. Trata-se de uma autora bem jovem e eu vou tentar conversar um pouquinho com ela agora.
Teresa Bendini entrevista Camila Serrador
– Camila Serrador, fale um pouco da sua trajetória como escritora. Você está aqui, em Campos do Jordão, na segunda jornada literária, lançando o seu primeiro livro. ele foi produzido pela Editora Patuá, que já se tornou famosa por publicar textos de jovens escritores. Como foi chegar até aqui?
Na verdade, eu comecei a escrever com doze anos e foi quando eu comecei a ter vontade de escrever poesia. e aí, foi aquela coisa. você gosta de um menino, gosta de outro, você não consegue tirar aquilo de você e escreve um poema sobre amor. aí, os poemas vão ficando um pouco mais requintados, um pouco mais bonitinhos… depois eu parei de escrever poesias e comecei a escrever longos romances, eu e minha amiga, a gente escrevia histórias uma pra outra. então a gente colocava as histórias em um disquete, depois trocava e lia uma da outra. depois disso, passados os anos, eu comecei a escrever contos, que foram ficando, vamos dizer, mais requintados em termos de estética e técnica, também. Então, acho que minha trajetória literária foi mais ou menos assim.
– Maravilha! conta pra mim, as suas influências. Você falou em sua entrevista no palco que foi influenciada por autores japoneses, ingleses e americanos. E os escritores da terra, aqui, brasileiros, quais os que te influenciaram? Da Terra Vermelha, né? (risos). Terra Brasilis…rs
– Acho que daqui, a Clarice Lispector, realmente. eu tenho vários livros dela e teve uma época que eu estava fascinada por ela. Achava fascinante o que ela escrevia, principalmente no livro “uma aprendizagem ou o livro dos prazeres”, que para mim é um livro fenomenal. Teve o Pedro Bandeira, que também comecei a ler quando era criança. Mas acho que foi mais a Clarice que me influenciou. Quando eu comecei a ler as coisas que ela escrevia, fiquei com vontade de escrever também.
– O que te ajudou a ser uma escritora? Lógico, você tem a vocação. O talento está aí. Mas algo deve ter impulsionado você. Faça um paralelo com a condição cultural da criança brasileira hoje, nos contando um pouco daquilo que te impulsionou, ou seja, com aquilo que te ajudou a se tornar uma escritora.
– Eu acho que o principal impulso foi o do meu pai. o apoio da família é muito importante. Comprar livros pro seu filho é muito importante. Meu pai que me deu o meu primeiro livro, aquele que te falei, “O Último Curumim” e eu me lembro, que pensei, “não quero ganhar isso. quero ganhar brinquedo!” mas aí, eu lí, adorei, ele foi me dando mais e eu fui lendo mais. Acho importante a família apoiar e o livro ser dado na idade que a criança quer ler. Não adianta dizer “eu quero que meu filho leia livros grandes e famosos”. Se a criança não tem interesse por isso ainda, não adianta querer empurrar. Ela vai começar a criar uma barreira. Então, é importante respeitar a idade, a vontade da criança. Mas também ir estimulando, como meu pai fez. Compra livro e deixa a criança escolher o livro pela capa, se ela quiser, ou pela história. Leia pra ela, se ela quiser. Não foi o meu caso, mas lê pra ela também. Eu acho que isso é importante. Pra mim, o que me impulsionou, foi o apoio do meu pai. E aí, eu continuei sozinha nesta trajetória.
– Você acha importante estes encontros. Feiras, festivais, festas literárias. Acha interessante? O que você acha que agregam e contribuem?
– Eu acho fenomenal este tipo de encontro. Você conhece outros autores e começa a ampliar a sua gama de conhecidos na literatura, o que é uma coisa muito legal ver isso no Brasil, porque a gente não conhece os escritores se a gente não se jogar nesse meio. É importante saber que tem outras pessoas fazendo literatura e outras pessoas contribuindo com a cultura do país, que tem mais gente se lançando, que as editoras estão acreditando e estão botando a cara no mundo. Eu acho isso muito legal. Esta é a minha primeira feira. Eu lancei o livro há poucos meses e isto está sendo muito legal mesmo.
– Qual é a expectativa que você criou com o seu livro. o que você espera dele? Os livros são como filhos. A gente faz um parto, quando eles nascem. É como se fosse um parto mesmo. E aí, qual é a expectativa para o livro da Camila, “Terra Vermelha”, o primeiro livro da Camila Serrador, nascendo agora, fresquinho?
– Eu acho que a expectativa pra ele é que as pessoas leiam, realmente, porque quando a gente escreve alguma coisa e consegue publicar, a gente quer que o máximo de pessoas leiam, pra que conheçam o que eu consegui fazer, o que custou tanto pra fazer, em questão de energia, de anos fazendo isso. A gente se orgulha do que conseguiu fazer e quer que pessoas de diferentes idades conheçam e passem de uma pessoa pra outra. É claro que a gente quer ganhar prêmio, enviar pra coisas grandes no Brasil. Mas acho que isso é uma coisa que eu vou ter como um sonho mesmo. Mas não é uma expectativa real. A expectativa real é que alcance as pessoas e que elas consigam me dar o máximo possível de feed back, dizerem o que acharam, se gostaram ou não, algo assim.
-Que provoque. que faça provocações…é isso?
– Com certeza! que algumas pessoas que leiam, digam, “nossa, camila! eu não sabia que você pensava estas coisas. Achei fantástico!”. “Mostram uma parte diferente de mim”. As pessoas descobrem uma parte diferente de mim também.
– Você gosta de receber este tipo de feed back dos leitores? Você tem canais, blog, ou alguma coisa que o leitor possa entrar em contato com você e dizer alguma coisa do seu livro?
– Blog eu não tenho ainda, mas quando eu fiz a divulgação, eu sempre coloquei meu e-mail, então dá pra me acessar fácil. E também, se colocar meu nome na internet, você acha, porque ,eu sendo bibliotecária da UNESP, dá pra achar o meu e-mail profissional. Fico feliz quando falam comigo.
– Que maravilha! Outra pergunta, a última. Em relação a leitura no Brasil. No que que o escritor pode contribuir de uma forma mais efetiva para que melhore um pouco esse quadro de crianças que não tem acesso a livros. São poucas as prefeituras que investem em cultura, por várias razões. E também são muitos os pais que não tem livros em suas casas para oferecer aos filhos, porque ler não faz parte da cultura deles. no que você acha que o escritor conseguiria contribuir pra melhorar esse quadro?
– Eu acho que quanto mais o escritor conseguir aparecer, mais ele consegue contribuir. Não só para o ego dele, orgulho dele, mas pra mostrar pras crianças o que elas podem ganhar com isso. Feiras como essas conseguem ajudar as crianças e adultos mesmo. Dependendo do livro, eles podem visitar escolas, dar palestras.
– Eu acho bem legal. Se o escritor vai para a escola, a criança fica extasiada quando ela o vê.
– Exatamente. Porque é uma coisa nova, que a criança não está tendo. Ela acha que o escritor é uma coisa muito grande. Que é muito fantástico ele estar ali. E aí ela começa a ter um contato e isso a deixa motivada. Então, eu acho que frequentar a escola, frequentar eventos como esse, participar de mais coisas, doações de livros pra ONGs ou movimentos que tenham este objetivo, sabe, incentivar a leitura nas pessoas. Acho tudo isso muito importante.
– Bem legal, viu? Prazer em falar com você. em breve esta entrevista vai estar postada na Revista Digital. Muito obrigada, Camila! muito sucesso pra você. E que a gente se torne amigas, pra poder fazer estas pontes, juntas.
– Muito obrigada, viu?
07112017
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