EnvelheSER

 

EnvelheSER

“Encostei-me à janela da vida, com os olhos no rio que corria embaixo, o rio do tempo, não só para contemplar o curso perene das águas como à espera de ver apontar do lado de cima ou de baixo a galera de ouro e sândalo e velas de seda, que devia levar-me a certa ilha encantada e eterna”. De Machado de Assis.

 

A idade, com suas naturais decorrências, nos deixa ou deveria deixar mais honestos conosco mesmos. O fluxo dos anos, aceitemos ou não, provoca transformações e limitações, mas não é o fim. Pode ser uma etapa gratificante da vida.
As rugas, os cabelos brancos e outras marcas contam nossa história e deveriam ser motivo de orgulho. São etapas vencidas.
Talvez, sentimentos de culpa, frustrações ou perdas tenham abalado nossa autoestima. Podemos estar falando do passado, de fatos ou circunstâncias, agradáveis ou não, que o tempo manteve em nossas lembranças. Se ainda for possível reparar alguma culpa ou frustração, façamo-lo, então. Mas, carregar esse fardo vida afora é um calvário desnecessário. O filósofo espanhol Ortega Y Gasset, inquirido sobre o que é o homem, não vacilou em responder: “O homem é ele e suas circunstâncias”.
Se a pessoa insiste em remoer seus erros e fracassos passados, então “rebobine” o filme de sua vida, faça uma retrospeção e avalie em que circunstâncias ou contextos ocorreram. Se a responsabilidade foi sua, fruto de suas escolhas, boas ou más, pelo menos seja consciente dessa realidade. Mas tenha certeza de que arrastar essas tralhas até o dia de hoje não é sabedoria. Como escreveu Machado de Assis , “a vida tem suas encruzilhadas, como outros caminhos da terra”.
De tudo, o que resta é saber viver no aqui e agora. É a única realidade possível.
Então, está tudo bem. A vida continua de alguma forma. Talvez um hábito saudável seja olharmo-nos no espelho logo pela amanhã, ao despertar. E, ainda com os cabelos despenteados, contemplar a imagem refletida e afirmar: “Eu amo esta pessoa”.

Por Gilberto Silos

Sobre Gilberto Silos 225 Artigos
Gilberto Silos, natural de São José do Rio Pardo - SP, é autodidata, poeta e escritor. Participou de algumas antologias e foi colunista de alguns jornais de São José dos Campos, cidade onde reside. Comentarista da Rádio TV Imprensa. Ativista ambiental e em defesa dos direitos da criança e do idoso. Apaixonado por música, literatura, cinema e esoterismo. Tem filhas e netos. Já plantou muitas árvores, mas está devendo o livro.

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