Atravessando o portal
nas mãos, uma cruz paradoxal
no bojo, um cartão postal do “louco”
Ingênua criatura em fuga Bachiana
atrás de si, o cão
à sua frente, o abissal.
Nesse momento cinematográfico
as paixões dilaceram/trituram
maceram como ervas que cultivo
num jardim suspenso em meu peito
passam como vento assoviando
ou como brisa de fim de tarde.
Busco o outro lado da catedral
onde pouso meus joelhos no chão
E busco, na melancolia
o sino, a sina, o sono
o balanço e o som
Evoco uma constelação
onde se pesa o coração e a pluma
E ao meu lado, o corvo
devorando minhas entranhas
um pouco por dia.
E Dylan Thomas dá um sabor de morte
aos meus ouvidos ávidos por música
ao meu olhar ávido por cores
a minha pele amarela ávida por maciez
ao meu íntimo ávido por transfiguração
Meu ser anacrônico ávido por luz.
E o “louco” ali na minha frente
um espectro atraente
num embuste corriqueiro
Ele atravessa a estrada
meu caminho predileto
e na sua beleza lunar
perco a direção do sol
por um instante, devaneio
olho, aprecio!
E Dylan Thomas
soa como um sino
Acompanho com o olhar
aquela figura estranha
bela, singular e sem rumo
numa atitude silenciosa e inocente
neutralizando minhas moléculas.
Elizabeth de Souza
(escrito nos anos 90) – editado 2010
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