Por Milton T. Mendonça
Gosto de olhar as formigas. Gosto de vê-las trabalhando diligentemente em busca de qualquer material que possa ser transformada naquela massa amorfa, mofada que as alimenta. Gosto da sua ferocidade ao encontrar um inimigo pela frente. Se jogando numa luta desesperada sem nenhuma preocupação com a própria vida. O verdadeiro espírito de comunidade. De amor ao próximo.
Um dia, quando morava em Minas Gerais, em Pouso Alegre para ser exato, acordei de manhã e no alpendre nos fundos da casa uma guerra havia sido travada. Formigas aos milhares estavam caídas, mortas, com as cabeças decepadas. A guerra havia sido travada entre duas espécies diferentes. Umas grandes, cabeças vermelhas e um ferrão enorme. E as outras pretas bem menores. Fiquei imaginando como teria sido a briga. Quem teria sido o estrategista? Quem informou que deveria ser duas contra uma, talvez. Ou mais quem sabe. Porque dava pra ver que as pequenas não tinham atacado sozinhas. Várias menores estavam caídas ao redor de uma grande.
Um outro dia, estava eu, sentado no banco ao lado da casa, quando ví uma barata enorme já no estado rígido de morte quando derrepente ela começou a se mover. Um bando de formiguinhas dessas pretinhas, um pouco maior que um milímetro, estavam tentando arrancar sua pata enorme. Todas, aglomeradas na ponta movimentavam-se de lá prá cá, de cá prá lá, num sincronismo impressionante. Ficaram nisso uma meia hora até que a pata fora arrancada e elas se movimentaram como se recebessem ordem de um matemático, de forma que o peso fosse distribuído igualmente para todas, e a levaram embora.
Sei que elas mandam batedores em busca de alimento para que o restante fiquem livres para outros afazeres. Sei que elas fazem ponte com o próprio corpo quando encontram obstáculos pela frente, como se engenheiros estivessem em algum lugar planejando e mandando informação através de mensageiros que correm solitários pelas calçadas ou jardins.
Será apenas químico o responsável por tamanha complexidade de atitudes? Ou será que existe uma inteligência por trás disto tudo? Olho as estrelas e sinto o equilíbrio do universo que me afeta diretamente. Penso no mar com um imenso volume de vida, todos com um sistema tão intrincado que precisaria ser um gênio, no mínimo, para criá-los. E dizem que é a evolução. Que é natural que da grande bagunça inicial, caos como eles chamam, tenha surgido algo tão claro e equilibrado. Do nada!
Gosto de olhar as formigas!
2017
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