Delírio: e se a Inteligência Artificial estivesse disponível no tempo do Império?
Iaiá Joaquina, às voltas com o Chat GPT, instrui-se e diverte-se na casa grande, em meio a espartilhos, bordados, partituras de minuetos e cartas apaixonadas de admiradores que comeriam de colherinha uma dúzia de carroças abarrotadas de esterco – se sua musa assim desejasse.
– Sugira uma receita de quindim diferente, que deixe caidinhos todos os janotas e almofadinhas da Corte.
– Descreva as qualidades de uma moçoila de respeito, prendada e casadoira.
– O senhor marido de minha irmã Luiza insiste nos atos de procriação com os lampiões acesos, afrontando o recato, os bons costumes e as leis de Deus. Deve ela consentir, sem maiores dramas de consciência e sem pelo menos uma ida emergencial ao confessionário?
– Cite lojas que comercializem penas de ganso, cisne e peru a preços módicos na Rua do Ouvidor. Qual delas desliza melhor sobre o papel?
– Novos modelos de escarradeira, tendências em Paris e Roma. Peço que discorra uma boa lauda a respeito, para que encomende uma bem bonita aqui para o sobrado.
– Resuma, de maneira prática, os folhetins em voga nos periódicos portugueses para que tenha assunto com as damas nos saraus literários.
– Como enganar a preceptora nas lições de matemática.
– Flerte na missa: pecado mortal ou venial?
– Terei que aceitar o matrimônio de conveniência que o senhor meu pai determinar, o que inclui o noivo propriamente dito. Se você, dileto GPTezinho, é mesmo o sabichão dos sabichões, diga-me de que forma lograrei conquistar um gajo bem apanhado, de belas costeletas e reluzentes botinas, ainda que seja a ele apresentada somente no dia da cerimônia?
– Que graça os gentis cavalheiros, assíduos frequentadores da Colombo e admiradores de ópera, acham em aspirar rapé?
Esta é uma obra de ficção
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Imagem: wikipedia
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