Outra vez a “Jornada Literária Pedro Paulo Filho” em Campos do Jordão. Dessa vez com um formato mais centralizado, pois a organização concentrou todos os eventos e atrações na Praça do Capivari. O próprio Benilson Toniolo, Secretario da Cultura e idealizador do evento, entrevistou os autores convidados e celebridades, num palco elegantemente montado para acolher os entrevistados.
Sabemos muito bem que Feiras Literárias, são locais de encontros e parcerias, locais onde muitas crianças vão ter acesso, pela primeira vez, a uma efervescência cultural que lhe permite conhecer um livro, ao lado do seu autor. As Feiras também propiciam troca de informações valiosas e lógico a deliciosa barganha de livros entre autores, onde todos ganham livros sem ter que colocar a mão no bolso. Estive lá como autora de livros infantis, e também como articuladora da Revista Entrementes. Abaixo a entrevista que fiz com Adriana Harger, autora da Biografia “O seu Cintra”
Teresa Bendini, entrevista a amiga, Adriana Harger
Adriana Harger, poetisa, autora do livro “Poesia no Tempo”, se lança como biógrafa na II Jornada Literária de Campos do Jordão, através do livro O “Seu” Cintra, narrativa sobre a vida de Joaquim Corrêa Cintra, já na sua segunda edição.
Na entrevista, Adriana Harger, fala um pouco da sua escrita poética, da atuação dos jordanenses, no que diz respeito à cultura e também da BIOGRAFIA, gênero Literário que tem atraído cada vez mais, o interesse de leitores de todo o Brasil
T- Queria que a poetisa Adriana Harger, falasse um pouco do seu LIVRO “Poesia no Tempo”.
A – O livro “Poesia no Tempo” foi a minha primeira publicação solo. É um livro com temática mais intimista, mais filosófica, que trata do tempo, da alma, das transformações por que passamos; e a metalinguagem também está muito presente, tanto nos temas dos poemas, quanto pela ideia de uma linha do tempo no decorrer da leitura. Para mim, a poesia é catarse, e os poemas desse livro entram por esse processo.
T- Como o Livro “Seu Cintra”, que se trata de uma biografia, entrou na sua vida de escritora e poetisa? Considerando que se trata de um estilo literário bem diferente da poesia, eu te pergunto: Você sente prazer em biografar? Porque esse gênero tem atraído tantos leitores ultimamente?
A– A poesia está comigo há muito tempo: escrevo desde a adolescência. Mas depois passei a escrever contos e crônicas e mais recentemente, textos infantis. Produzi, também, durante os anos da faculdade, textos mais técnicos, acadêmicos, não ficcionais. Ou seja, o leque de opções foi aos poucos e naturalmente sendo ampliado.
O convite veio do nosso Secretário de Cultura, Benilson Toniolo, de fazer um material comemorativo do centenário do nascimento de Joaquim Corrêa Cintra, uma pessoa de renome na cidade. A proposta foi levada ao arquiteto Damas Cintra, filho do Sr. Cintra, que acatou a ideia, mas pediu que o texto fosse elaborado por alguém da área literária. Eu nunca tinha considerado a possibilidade de escrever biografias, até ser convidada e aceitar o desafio de produzir esse material que misturaria pesquisa histórica, documental, com um tipo de texto novo para mim. Eu teria que, a partir de elementos verídicos, criar uma linguagem, desenhar um personagem, narrar uma história.
Para produzir a biografia, trabalhei pesquisando, colhendo depoimentos, selecionando fotos e escrevendo. Foi um trabalho árduo (um ano para a 1ª edição e mais seis meses para a 2ª), de mergulho no material de pesquisa. Mas foi, tanto durante o processo, um período em que aprendi muito, pois estudei sobre a minha cidade e descobri no personagem um legítimo “ser humano”, no qual devemos nos espelhar. Portanto, devo dizer que sou realmente muito grata por ter podido realizar esse trabalho.
Entendo que as biografias contam histórias e, muitas delas, são histórias motivadoras, exemplos de vida. Talvez por isso façam sucesso. Foi o que aconteceu com o livro “O Seu Cintra”.
T- Fale um pouco da II Jornada Literária de Campos do Jordão e do envolvimento dos jordanenses com a execução dessa Jornada.
A – Posso dizer que a 2ª Jornada Literária foi considerada um sucesso desde o começo do processo de organização do evento, pois a comunidade literária local e regional aderiu e colaborou para que o evento acontecesse com qualidade. Membros da cultura jordanense em geral também deram seu apoio, além Conselho de Turismo e de Cultura. Tivemos uma participação que uniu os diversos grupos. E a união faz a força. A 1ª Jornada Literária (2015) foi um sucesso, e esta 2ª Jornada Literária veio consolidar a participação de Campos do Jordão na literatura. As conversas com autores, as apresentações culturais, todas as atividades foram de qualidade indiscutível.
Mas tudo isso acontece pela dinâmica de trabalho do nosso Secretário de Cultura, Benilson Toniolo, que vem incansavelmente trabalhando pela cidade, para que a cultura em seus diversos setores cresça e mostre o seu valor. Devemos aplaudi-lo e apoiá-lo, assim como ele apoia as atividades culturais locais.
T – Quem é Joaquim Corrêa Cintra?
A – Joaquim Corrêa Cintra, conhecido como “o Seu Cintra”, foi um mineiro que veio para Campos do Jordão para se tratar da Tuberculose. Curado, decidiu se estabelecer na cidade e, como agradecimento pelo direito à vida e à saúde, trabalhou incessantemente pelo desenvolvimento local, em todos os setores possíveis. Foi vereador, jornalista, diretor de turismo, trabalhou pela cultura, pelo esporte, pelo serviço social e, principalmente, pelo desenvolvimento da cidade como local turístico. Foi uma pessoa ética, um líder positivo, que ajudou a construir a identidade da nossa cidade. Trouxe com ele seus irmãos, que, junto com ele fizeram história em Campos do Jordão e no Vale do Paraíba.
T- Existe uma relação entre a biografia e o resgate de memórias que envolvem a cidade do biografado, ou seja, as biografias colaboram para registrar eventos que dizem respeito à trajetória do biografado. Nesse sentido há um resgate histórico e isso diz respeito ao Patrimônio Cultural de uma cidade. Uma biógrafa é também uma historiadora?
A -No caso do livro “O Seu Cintra”, a biografia e o resgate histórico andam juntos. Tanto as informações históricas presentes no livro como muitos dados sobre o biografado baseiam-se em documentos. Dizer que eu sou uma historiadora seria muita pretensão, mas sim, tive que fazer muita pesquisa, colher dados e verificá-los para que o livro atingisse o objetivo não apenas sentimental, familiar, mas também de compreensão dos resultados das atitudes do Seu Cintra para que a cidade seguisse um caminho para ser o que é hoje. Ou seja, o biógrafo e o historiador se somam.
T – Ser professora de Línguas (Português, Inglês, Espanhol e Italiano), agrega algum valor a literatura que você produz?
A – Eu comecei a ler literatura muito cedo, e sempre li muito, principalmente literatura brasileira. Meus mestres foram Drummond, Ferreira Gullar, Cecília Meireles, Manuel Bandeira, Machado de Assis e Fernando Pessoa. Mais recentemente, Manuel de Barros e alguns jovens escritores que sempre procuro sempre reler.
Ao estudar outros idiomas, não há como fugir da cultura. Na faculdade de Letras tive acesso a autores estrangeiros que passaram a fazer parte do meu rol de favoritos, como Jane Austen, Edgar Allan Poe, Walt Whitman, entre tantos outros. Mas já havia lido, por exemplo, George Orwel muitos anos antes. A literatura espanhola passou de raspão, não citaria nenhum autor em especial.
Passei a me dedicar ao idioma italiano em 2010, e, assim, passei a ler textos de alguns autores de peso, como Danti Aliguieri e outros que me encantaram, como Ítalo Calvino. Mas a influência deles não pode ser considerada como base, pois essa leitura é muito nova para mim. Mas um escritor italiano que me acompanha há algumas décadas é Umberto Eco: esse eu coloco como referência.
Entendo que a literatura que lemos vai acrescentando elementos à nossa bagagem e isso é refletido, consciente ou inconscientemente, em nossa escrita.
T- Pode nos adiantar o seu próximo biografado?
A – Temos muitos personagens de referência em Campos do Jordão que poderiam ser biografados, mas isso depende de uma série de elementos para que a obra se concretize. Então algumas biografias certamente virão no futuro, pelas minhas mãos ou pelas mãos de outros escritores. O que pretendo fazer no ano de 2018 é a biografia de Luiz Pereira Moysés, o maior artista plástico jordanense depois de Camargo Freire. Por que ele? Porque ele tem muita história para contar, um vasto acervo de imagens e… é meu pai
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