Impressões de viagem  –  Minha Viagem à Córdoba

 

Impressões de viagem  –  Minha Viagem à Córdoba

Relato de minha viagem à Córdoba, Argentina, há alguns anos atrás.

 

Ainda não conheço Buenos Aires, assim que puder, vou prá lá, mas já passei por ela, ao sair de um aeroporto para outro, para seguir à Córdoba:

 

 

E aqui em Córdoba:

O Cheiro das coisas – Já em Córdoba

Andando pelas ruas dessa cidade tão sóbria, com esse ar tão sombrio, vou sentindo o cheiro das coisas… Comparo então, com o cheiro da minha cidade. O cheiro da minha cidade é fresco e quando o vento sopra sinto cheiro de flores, além da poluição.

O cheiro aqui é bem diferente… Passei do musk ao cheiro de coisas antigas, empoeiradas. Senti o cheiro da camomila, do patchiolli e da alfavaca… O cheiro de carne assada nos restaurantes.

O cheiro do café não é o mesmo que sinto na minha cidade e que aguça a minha vontade…Fiquei buscando o cheiro de café. E numa das panaderías tive que ouvir que o café na Argentina era melhor que o do Brasil… Nossa, fiquei chateada, saí sem tomar café.

Era época de Natal em Córdoba e todos comemoram como se fosse ano novo, com muitos fogos. No local onde fiquei havia um presépio. E no meio das ondulações das imitações de pedras estavam escondidos vidros de óleos perfumados que foram distribuídos na virada da noite. Saiu para mim o Tabac, que cheiro gostoso, adorei!

Até as pessoas daqui tem um cheiro diferente. Gosto mais do cheiro das pessoas da minha cidade. Aqui é um cheiro de pessoas bem antigas que vivem em casas antigas.  Acho legal que os brasileiros tem um cheiro bom, de variados sabonetes e até sabão de pedra – seguiram os costumes indígenas que tomavam banho de rio o tempo todo. Mania de tomar banho?

Ando pelas ruas e fico sentindo o cheiro das coisas e constato que o cheiro daqui não me agrada tanto como o cheiro dessa terra tão formosa, debaixo da Mantiqueira. O cheiro da Mantiqueira então, é maravilhoso – é o cheiro que nos leva para outras dimensões, um misto de incenso natural, grama esmagada, água batendo nas pedras, musgos verdes escorregadios, lírios dos brejos, cavalos saltitantes, vacas pastando, onças pintadas, eita, é muito cheiro bom…Ser uma filha adotada da Mantiqueira me faz tão bem!!!

 

Manequins maniqueístas

 

 

Desde criança tenho medo de manequins. Muitas vezes levo o maior susto quando deparo com algum. Tenho a impressão que alguém se faz passar por aquilo para pregar um susto em mim. E eis que estou a vitrinar na rua San Martin e dou de encontro com essas manequins infantis – Maior susto ver uma face tão humana numa pele tão cerâmica. Os olhos, a boca, os cabelos de gente e a figura tão estática como eu, nesse instante de assombro. Valham-me os deuses!!!

 

Media lunas ou lunas llenas?

 

 

Afinal essa é uma viagem para conhecer Córdoba ou uma viagem gastronômica?

Aqui, em todos os lugares que a gente vai sempre encontra as medias lunas e elas realmente são deliciosas…podem ser doces ou salgadas e parece uma meia lua, bem gostosa…

Saí à noite para ver o tango e comi médias lunas, mas na Praça San Martin vi a lua inteira, tão bela e tão formosa numa noite de frescor… E não contente com isso, fui ver a lua inteira cem vezes maior e paguei dois pesos por isso…nossa, sabe que me deu mais fome depois disso?

 

 

O Tango

 

 

Emocionante ver os casais deslizando num círculo quase imperceptível…Nesse instante tão intenso me lembrei que Shiva e Shakti deslizam numa dança maravilhosa para criar o Universo.

Esta dança tão harmoniosa, tão sensual, mais parece os movimentos delirantes do amor entre um homem e uma mulher… A união divina e profana entre o poder masculino e o poder feminino que se juntam num conúbio perfeito para criar uma nova força.

Fiquei assistindo fascinada a este evento no meio da praça e nesse momento, acreditei que ainda resta alguma esperança para que toda a criação possa ser renovada através do homem e da mulher numa dança de prazeres.

 

O Deus e a Deusa em sintonia…lembrei da Mulher arquetípica que o Solfidone sempre mencionava e dizia que ela já estava entre nós à procura do Homem arquetípico…muito doido tudo isso!

 

Meu primeiro Lomito

 

 

Em meio a obras de arte penduradas por todos os lados…e o comandante Che Guevara acima da porta…

Um lugar meio estranho com peças espalhadas pelo teto, pelas paredes, pelo chão…Os lugares aqui, todos tem esse ar antigo, quase milenar diria, se não fosse a América tão jovem…

 

 

Mas foi aqui que devorei o primeiro LOMITO da minha vida…maravilhoso sanduiche! Hummm, já fizeram os comentários mais picantes sobre essa aventura, que mais parece uma viagem gastronômica…

 

O Comandante Che

 

 

Não acreditei que estava indo para Alta Gracia,  até esse nome me deixou numa grande expectativa. Levantei cedo para pegar o ônibus que me levaria para o lugar onde viveu o meu “herói que não morreu de overdose”. Eu, que lia o seu diário de guerrilhas e que sempre o admirei pela coragem e pelo coração nobre, agora estava para conhecer a casa onde ele passou a infância.

Complicado chegar num lugar que a gente não conhece e precisa ficar perguntando e as pessoas não entende a nossa língua – um grande esforço se fazer entender – mas em qualquer lugar do mundo somos sempre os mesmos, nada muda, somos os mesmos humanos de sempre, com as mesmas manias, os mesmos hábitos milenares, a mesma memória que a Natureza nos presenteou, os mesmos códigos ainda que confusos para alguns e claros para outros…E foi assim que cheguei à casa do Guerrilheiro Che Guevara.

 

 

Fiquei emocionada, principalmente quando vi os livros que ele lia. Eu também li alguns daqueles. Andei por toda a casa que agora é um museu, fiquei mais ou menos umas três horas lá dentro, olhando cada foto, cada objeto, cada canto da casa e do quintal  e imaginando o comandante por ali com suas crises de asma. Foi por isso que  a família mudou-se para Alta Gracia. Ele nasceu em Rosário, mas foi para Alta Gracia por causa do clima, para melhorar sua asma. Estudou em Córdoba.

O Comandante Che foi como Bolívar no desejo de libertar todo o povo oprimido da nossa América Latina, tão menina.

 

Lá estavam a bicicleta e a motocicleta, a mala, o lampião, as roupas e os livros. Lá estavam os escritos à mão, o diário que ele fazia das guerrilhas. Um homem de ideias e de ação…bom, acho que sou exagerada, mas gosto do jeito que ele viveu e como se entregou em tudo que acreditava e o sentimento generoso para com o mundo…e isso vale mais que tudo. Diria alguns que isso está ultrapassado, mas o sentimento do mundo e a luta pelo bem dos outros não deveria ser ultrapassado. Diria outros que ele é um assassino, mas acho que todos que vão para uma guerra ou guerrilha, matam. Por isso a guerra é algo que nunca deveria existir e os humanos deveriam viver em harmonia.

Mas tudo isso passou e agora ele é um personagem quase fictício, pode ser que nem tenha existido. Será que criamos o Che Guevara em nossa imaginação? Mas Alta Gracia existe e é um belo lugar!

Elizabeth de Souza

(Numa viagem feita há muito tempo)

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