Jean-Michel Basquiat – Entre o clássico e o underground
Por: Diego El Khouri
Eu não ouço o que os críticos de arte dizem. Eu não sei quem precisa de um crítico pra dizer o que é ou não arte.
Jean-Michel Basquiat
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Introdução
Esse trabalho tem por objetivo analisar a obra artística de Jean Michel Basquiat ( Nova Iorque, 22 de dezembro de 1960 – Nova Iorque, 12 de agosto de 1988 ), fazendo um paralelo com o tempo em que viveu, as idiossincrasias de seu estilo de vida e predileções artísticas, comparando com outros pensadores e buscando através da analogia, tendo como alicerce os movimentos artísticos como o beatnik, surrealismo, pop arte, entre outros, reafirmar a ideia que vida e arte não pode dissociar.
“não separando mais o sonho & a realidade-limitadora colorindo as ruas / os prédios / as casas / numa visão psicodélica dos Paraísos Artificiais & o mundo seria uma eterna festa num ciclo cósmico infinito”.
Roberto Piva
“A imagem é consciência de alguma coisa”.
Jean-Paul Sartre; a Imaginação
Transeuntes trêmulos atravessando a cidade. Trânsito tenaz tácito da metrópole tensa/intensa/sagaz. Tabernas modernas de bares repletos de intensos transgressivos tatos/olhares: têmperas talhadas no tempo “la modernidad” temerária, transgressivas paisagens de tônica tormenta, tortas imagens, “torto translado do arado da morte” calcificadas em ferro e chumbo. Trépida turba talhada em transfigurados tripulantes nas trágicas faces desnudas da contemporaneidade. Tremendas loucuras, subversões infindas, crise financeira, drogas, miséria, luzes, crimes: Nova York no final dos anos 70 era um pandemônio de instabilidade monetária, violência, descaso, abismo — “o centro de Manhattan atraia os estudantes de arte, os marginalizados, as almas perdidas. Todas as circunstâncias levavam à criatividade e inspiração. ”
Nova York se aproximava da falência. Os índices de criminalidade aumentavam. A miséria se transformava “em parte comum do cenário”. Pintores, poetas, escultores, músicos, artistas, atravessavam a noite bêbada dos sonhadores na metrópole fratricida. A poluição reinava absoluta na cidade. Buzinas de carros e metrôs barulhentos. Boates em chamas. Olhares alheios. Nesse clima de instabilidade propenso às grandes experiências uma figura estranha se tornou o símbolo maior de uma geração e a imagem, mais uma vez, perpetuada do “clássico outsider”: Jean-Michel Basquiat — a vida veloz como raio, intenso como fogo.
Seu trabalho, visto por alguns como “primitivismo intelectualizado”, uma “tendência neo expressionista”, começou pelas ruas, ao lado do artista gráfico Al Diaz, quando escreviam frases (com extrema carga poética) e assinavam Samo ou Same Old Shit (a mesma velha merda). Eram grafias diferentes do grafite tradicional: palavras com cunho irônico e por vezes até existencialista.
A película dirigida por Tamra Davis (amiga pessoal de Basquiat) intitulada The Radiant Child (considerada a obra mais completa sobre Jean-Michel) e lançada em 25 de Janeiro de 2010 (título inspirado no primeiro grande artigo escrito sobre sua obra e assinado por Rene Ricard e publicado na revista Art Forum), mostra toda a ousadia e sagacidade desse artista ligado a ancestralidade e conectado sobretudo com a história da arte. No filme, seus amigos relatam que “ser multidisciplinado era parte de seu sistema cerebral” e que depois da exposição coletiva no ano de 1981 organizada por Diego Cortez na P.S.I (que era um centro de arte contemporânea em Long Island, Queens) intitulada “New York/ New Wave” “a estrela de Jean-Michel Basquiat brilhava na constelação dos grandes artistas emergentes.” Seu trabalho está totalmente ligado ao seu tempo e consequentemente suas experiências pessoais nesse período tão conturbado da história refletem em seu trabalho.
O filósofo existencialista Jean-Paul Sartre (1905-1980) no livro A imaginação (pág. 55), obra que procura “pensar a natureza a partir de uma experiência reflexiva”, acredita que “o papel da imagem na percepção não é de modo algum claro: não se sabem de onde nascem, segundo Bergson, as representações primitivas. Em toda percepção complexa se inserem múltiplas imagens brotadas do inconsciente, as quais constituem ao mesmo tempo a imagem-percepção e a imagem-lembrança. Em certo sentido, portanto, em uma percepção há uma multiplicidade de imagens. Só que, se tomamos a imagem-percepção como unidade indivisa, a imagem-lembrança que lhe corresponde deve ser também tomada como uma unidade; e, se tomar como um composto a percepção mesma. Com mais razão ainda, as imagens primitivas têm exatamente o mesmo conteúdo e a mesma concentração que as percepções primitivas.” Basquiat trabalhava com “camadas de percepções”. No filme de Tamra Davis Jean-Michel diz “não saber definir” seu trabalho. Afirma que é o mesmo que perguntar ao Miles Davis como este explicaria o som de seu trompete. “A maior parte do tempo é automático”. Mas na realidade era um projeto pensado. Utilizando da técnica de cut-up desenvolvida pelo escritor americano William S. Burroughs (1914—1997) (“uma técnica literária não-linear na qual um texto ou conjunto de textos são cortados literalmente em pequenas porções que depois são rearranjadas de modo a criar um texto novo”), Basquiat ia definindo imagens intercaladas de frases aleatórias que no “instante do olhar” criavam unidade e por fim múltiplos sentidos. Burroughs se inspirou no surrealismo para criar essa técnica e de uma experiência com o artista inglês Brion Gysin (“cortou uma folha de jornal em pequenas secções e reordenou-as aleatoriamente. O poema Minutes to Go foi escrito através deste procedimento de uma forma não editada no verão de 1968”) . Trabalho este que ressoou em inspiração para inúmeros artistas, além do Basquiat, como, por exemplo, a banda de rock n’roll de Seattle Nirvana, que se utilizava do cut-up para criar suas letras enigmáticas.
Influenciado pelos artistas Cy Twombly, Willem de Kooning e Jackson Pollock, Jean-Michel Basquiat, não se limitava as referências no campo das artes visuais: Darwin, Aldous Huxley, Gregor Mendel, Muhammad Ali, entre outros aparecem em sua obra. Assim como o poeta maldito Arthur Rimbaud (1854-1891), Basquiat tem uma forte comunicação com a efervescência juvenil. “Cultuado pelos decadentes, simbolistas, existencialistas, beatniks, hippies, punks, revoltados de maio de 1968 e hardcores.”, sua pintura adquire cada dia mais modernidade, “retrato de nosso tempo”. “Uma noite, sentei a Beleza em meus joelhos. — E encontrei-a amarga. — E insultei-a.” Rimbaud na obra Une Saison em Enfer (Uma Estadia no Inferno) acredita na força das cores e que cada letra equivaleria uma tonalidade diferente, o que definiu como“alquimia do verbo”. “O absurdo torna-se um valor poético como a dor e o amor. Aprofundando-se o absurdo do mundo, uma inaudita clareza surge infinitamente mais luminosa. Lautréamont, Mallarmé, Saint-Pol-Roux nos ensinaram que é necessário penar longamente até que esta clareza chegue à consciência.” Basquiat começou criando arte em cartões postais, depois (devido condição financeira desfavorável) buscava na rua (ou no lixo da cidade pra ser mais específico) portas, janelas e qualquer coisa que estivesse uma estrutura mínima para criar algo no campo pictórico. A renomada galerista Annina Nosei, simpatizada pelo trabalho do artista, o coloca no sótão da galeria que fica na Prince Street, banca seu trabalho, e enfim passa a produzir suas primeira telas. Sua arte foi para outros meandros, Nessa época já tinha vivido a experiência de banda. Em 1979, junto com o artista performático Michael Holman, fundaram a banda “Gray”. Além deles participava do grupo Nicholas Taylor, Tomilho Justin e Vicent Gallo, que ficou na banda por um curto período de tempo. Era uma banda calcada na psicodelia, nos barulhos ensurdecedores, na melodia às avessas e no Bepop (estilo preferido de Basquiat e que representa uma das correntes mais influentes do jazz). Mesmo Basquiat não sabendo tocar direito o trompete o som tinha personalidade e fazia frente as vanguardas da época. As “pinceladas excêntricas” de Jean-Michel, as inúmeras personagens nas telas anexada lado a lado de grafias e palavras impactantes (por hora às vezes com tom irônico e ácido), a influência do jazz ( e sua improvisação) o movimento delirante do desenho das obras, o “do it yourselfherdado dos punks, o interesse latente em hip-hop, basebol e boxe, mas também em poesia francesa, Leonardo da Vinci e arte modernista,” a representação exacerbada dos negros, vagabundos, miseráveis, “desajeitados de toda espécie”, compõe parte de seu intento artístico: misto de catarse e erudição.
O radiant child Jean-Michel, que tinha ascendência porto-riquenha por parte de mãe (Mathilde Andrada) e haitiana por parte de pai (Gevard Jean- Baptiste Basquiat), já aos seis anos, influenciado por sua progenitora, frequenta o MOMA, Museu de Arte Moderna, de onde tinha até carteira de sócio-mirim. Essa primeira infância foi de suma importância para a concepção poética do seu trabalho. Obras como A Monalisa de Leonardo da Vinci e Vênus de Milo foram alguma das várias obras de arte representadas. Suas releituras além de mostrar sua ambição artística cravam seu estilo dentro de um processo pensado, assim como o italiano Amadeo Modigliani, outro outsider que tem uma conexão forte com os trabalhos do jovem Basquiat. A influência da cultura negra e oriental marca a “atenção visual” desses dois “cientistas da imagem” com elementos novos e diferentes do mundo ocidental que ainda nos dias atuais tem uma submissão visível a arte eurocêntrica. Modigliani que teve uma “existência atribulada, atormentada pela saúde comprometida desde a infância, e interrompida pela tuberculose aos 35 anos; a desmedida atração pelo haxixe, pelo álcool e palas mulheres; a indiferença quase total da crítica e do mercado por sua pintura enquanto era vivo, desfeita já no dia seguinte à sua morte, pela atenção arrebatada dos colecionadores e o suicídio, de sua companheira, dois dias após a morte do artista, grávida de nove meses, e com uma filha de um pouco mais de um ano”, revelam, por outro lado, “uma obra perfeitamente concluída”, “de uma elegância aristocrática tão singular”, um certo equilíbrio e serenidade nas obras (contrário a sua vida pessoal), diferente de Basquiat que tem no ato artístico “a chama da loucura” e com traços rápidos, o abuso das cores primárias e sobretudo o vermelho, causando certa instabilidade no receptor, busca intensidade, desolação, e absorver em estilo, imagens, grafias e símbolos, o caos de sua geração — “é preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante” (Nietzsche). Jean-Michel retratou muito o vagabundos de Nova York e mostrou o lado obscuro doamerican lifestyle. Segundo Rudiger Safranski, autor do livroNietzsche, biografia de uma tragédia, na página 314, para esse “filósofo do martelo”, “a vida dionisíaca, que tudo abrangia, não era um fundo que tudo sustentava, mas um abismo ameaçador para nossas tentativas apolíneas de nos firmarmos.” Fazendo um paralelo com a vida boêmia e desregrada de Basquiat (que reflete muito em suas pinturas), Rudiger acredita que Nietzsche abriu as portas para a impulsividade indômita da juventude onde “a vida está inteiramente entregue a si mesma, no coração de sua inquietação criativa e devoradora”. “Tornar-se sujeito significa violência contra a natureza externa e interna.” (Safranski; biografia de uma tragédia; pág. 315). Mas nesse contexto, “natureza é aquilo ‘que transcende o círculo da experiência, o que é, nas coisas, mais do que o seu existir antes conhecido” (Adorno; Horkheimer 21). Destruindo essa máxima kantiana de que a arte deve realizar-se de acordo com os arquétipos tendo a razão como fundamento de criação vinculada a idealização sublime do belo, notamos que é esse o fio condutor gerador de polêmicas que abrirá as portas da nova percepção visual. Antes de se produzir uma obra a ideia já está difundida no seu cerne e ela que é a geradora da arte nos dias atuais, mais do que a técnica ou os materiais utilizados. A violência do gesto na obra de Basquiat aponta novos caminhos que culminaria nas “novas linguagens artísticas”. Andy Warhol (1928-1987) percebeu toda essa potência e a parceria que fizeram na vida e na arte transformou mais uma vez o trabalho do jovem artista. De um lado, Warhol se sentia novamente animado em produzir (estava cerca de vinte anos sem pintar) e do outro lado, Basquiat via a possibilidade de visibilidade e sentia orgulho de estar convivendo com o “papa da pop art” e um das figuras mais importantes do século XX.
”…Nietzsche especula sobre a existência de um homem ”leve o bastante ” a fim de levar sua vontade de conhecimento acima de seu tempo sem , no entanto, ser esse impulso uma consequência de uma aversão a esse tempo…”
(Eduardo Nasser , ” As ilusões do eu_Spinoza e Nietzsche,”/ Civilização Brasileira-2011 ). A relação de Warhol e Basquiat, para alguns críticos, era, pelo menos no início, por puro interesse, mas o que de mais palpável podemos subtrair dessa relação é como a obra de ambos se entrelaçaram (era visível a influência de ambos nas pinturas dessa fase) a tal nível de evidenciar por fim uma ruptura abrupta levando cada um pra caminhos diferentes. As sutilezas em ambos é gritante. Nas pinturas do Basquiat, As palavras riscadas tem um objetivo claro. Segundo o próprio artista “ele risca “as palavras para que a vejam mais ainda: o fato de que elas estão obscurecidas faz você querer lê-las. A relação dos dois artistas visuais é retratada no filme “Basquiat” (1996). A direção é de Julian Schnabel, com Jeffrey Wright como Basquiat e David Bowie como Andy Wahrol. Os dois artistas fizeram algumas obras em parceria. Segundo Jean Michel, normalmente Andy começava e Basquiat finalizava.
Sartre já dizia que o espectador traduz o sentido da obra de acordo com suas próprias experiências. A galerista Annina Noise disse que “ele sempre foi ligado às tradições romântica e gráfica nos Estados Unidos, como Warhol.” Mas “a linguagem de sua pintura se conecta com o modernismo clássico e o movimento COBRA (movimento artístico da vanguarda europeia, criada na Europa em 8 de novembro de 1948, influenciado pela arte popular nórdica, expressionismo e surrealismo, arte popular atuante entre 1948 e 1951, embora reconhecido internacionalmente, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, na década de 1960). E completa dizendo que “Jean-Michel tinha apenas 19 anos quando nos conhecemos e conversávamos sobre arte europeia e tradições clássicas em arte.”
Jean Michel Basquiat usava e abusava de sua liberdade de criação artística. “Basquiat significou, nas circunstancias da pintura nos anos 80, uma atitude de vanguarda e uma visão política do mundo, de certo modo engajado nas formas de pintar que significasse a urgência do retorno da figura do artista engajado e original.” Niettzsche em sua obra Aurora fala em “reino da liberdade”. “Podemos pensar muitas coisas, muito mais do que podemos” (nota-se na pintura de Basquiat as inúmeras referências já citadas) fazer e viver — o que quer dizer que nosso pensamento é superficial e se satisfaz com a aparência, a ponto de nem sequer a notar (pág. 124); “Aquele que tem sede sente falta de água, mas seu espírito incessantemente diante dos olhos a imagem da água, como se nada fosse fácil de obter —“ (pág. Idem). “E assim o reino das ideias, em contraste com o reino da ação, do querer e do viver, aparece como reino da liberdade: enquanto, não é mais que o reino superficial da ausência de exigências” (pág. 125). O experimentalismo foi base primordial de seu trabalho. Ernst Hans Gombrich, um dos célebres historiadores do século XX, no livro The Story of Art (A história da Arte), publicado pela primeira vez em 1950 em Londres, fala sobre o experimentalismo e como os artistas se manifestavam diante esse “mundo novo; “essa nova abordagem fez-se sentir em muitas partes do mundo, mas em nenhuma de um modo mais consistente do que na América, onde o progresso tecnológico era muito menos estorvado pelo peso das tradições. A incongruência de construir arranha-céus em Chicago e cobri-los com decorações provenientes dos livros de modelos europeus era evidente. Mas era preciso um espírito vigoroso e uma convicção clara para um arquiteto persuadir seus clientes a aceitarem uma casa inteiramente heterodoxa.” E artistas como Basquiat possibilitavam essa ruptura. A contra cultura foi o gás de inovação que se inicia no fim dos anos 1960 e se estende o reflexo até meados da década de 1980. Gombrich diz também que a análise de uma obra artística deve partir “do que os artistas intencionam” e que estes estão “inscritos em um contexto específico”. Pra ele, a história da arte “é uma tela contínua, onde cada obra reflete o passado e aponta para o futuro”. Jean- Michel Basquiat com certeza representou seu tempo.
Conclusão
Jean-Michel Basquiat inovou em seu processo pictórico. Se relacionou com a cultura da rua e das galerias. Absorveu com muita propriedade a contra cultura e dialogou com grandes artistas de seu tempo.
Referências bibliográficas
SARTRE, Jean-Paul. A imaginação – editora L&PM Pocket, tradução de Paulo Neves. Porto Alegre, RS
GOMBRICH, Ernst Hans The Story of Art (A História da Arte) –editora LTC; Rio de Janeiro, RJ
ADORNO, Thedor W. & HORKHEIMER, Max. Dialético do Esclarecimento (Fragmentos Filosóficos) – editora Zahar; tradução de Guido Antonio de Almeida; São Paulo, SP
NIETZSCHE, Friedrich. Aurora – editora Escala; tradução de Carlos Antonio Braga; São Paulo, SP
SAFRANSKI, Rudiger. Nietzsche, Biografia de uma Tragédia – editora Geração; tradução de Lya Luft; São Paulo, SP
PEKAR, Harvey; PETERS, Nancy J.; ROSEMONT, Penelope; BRABNER, Joyce;ROBBINS, Trina; KUPFERBERG, Tuli. Os Beats – Graphic Novel; edição original de Paul Buhle; tradução de Érico Assis; Rio de Janeiro; RJ
NICOSIA, F.. Grandes Mestre, Modigliani – editora Abril Coleções;
MARSICANO, Alberto; FRESNOT, Daniel. Rimbaud por ele mesmo – editora Martin Claret; São Paulo, SP
RIMBAUD, Arthur. Une Saison em Enfer (Uma estadia no Inferno) – editora Topbooks; São Paulo, Sp
DAVISA, Tamra. Filme: The Radiant Chilp. Ano: 2010
SCHNABEL, Julian. Filme: Traços de uma vida. Ano: 1996
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