Labirintos

Arte by: Leon Tukker

 

Labirintos

por Alexandre Lúcio Fernandes

Os passos são furiosos, ausentes; [des]crentes e trôpegos; perdidos; e ermos.  Os olhos se assimilam, transparecendo, atravessando em um voo cego pelas rotas, em desavisada fuga. Sob os escombros do silêncio segue os desencontros, patinando por entre amontoados de corpos resolutos, quase inertes e desprovidos de vida. Mentes se cambaleiam por entre frestas cálidas e suntuosas, recipientes de sonhos enferrujados e relegados.

Os gestos parecem exilados e distantes, voejam por uma dimensão tão minimamente palpável, que se liquefazem por entre as texturas acidentadas, assinaladas com suspiros e friezas; desesperos cinzas, acorrentados por uma negra aura. Os corpos se jogam em direções várias, em ritmo dissonante, perfazendo roteiros que os levam a uma fonte sem vida. Os gritos se abafam pela apatia que se faz aparente pelo ar. O mundo desconstrói-se em si e remonta seus labirintos nos tecidos do medo.

O sono penetra; o desejo se acoberta e revira-se, solucionando segredos. Tudo se move amparado por um carpete de insegurança. Muros ásperos se levantam diante de olhares pávidos, almas que respiram o gosto ultrajante deste terror que desorienta e iça milhares de itinerários – suspeitos. O cansaço se resulta, em êxtase, desmoronando essa esperança que se ergue na tentativa de suplantar o receio. Em um gole, a morte. Em uma tentativa, a glória.

São desvios inúmeros, trilhas que salientam agressividade, refletem a rispidez de uma vida astuta, breve e sagaz. Desconhece-se os caminhos e o destino a que eles se direcionam. As mãos suadas vibram em desajuste, sendo presa fácil para estas vias, frias e de cruéis escolhas. Onde ir? O que merece a atenção de nossas escolhas? A alma se perde em deduções embaçadas, desnudas, que carecem de um apelo e mais definição; falta emocional para compreender a dimensão dos fatos.

A verdade é rasteira, e severa; é firme, hostiliza as construções e os sinais. Perdidos, mal enxergamos a um palmo da mão; mal declamamos nossas histórias e belezas. As penumbras espalham-se como a faísca em um estopim. São tempos obscuros em que os demônios nos aprisionam em longos labirintos, colocando-nos frente a frente com nossos piores temores. Cegos; em tiroteio. Pisoteamos escolhas sob abismos. Onde ir? Para onde [o medo] nos levará?

Impossível saber…

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