
Lançamento de Mulheres viajantes, de Sónia Serrano, ocorre na Livraria da Tarde nesta quinta-feira (13)
Lançado pela editora Tinta-da-China Brasil, o livro retrata mulheres desbravadoras de diversas épocas e tem um capítulo inédito sobre a navegadora Tamara Klink. As escritoras Gaía Passarelli e Paula Carvalho se reúnem para um bate-papo no evento

Nesta quinta-feira (13), às 19h, as escritoras Gaía Passarelli e Paula Carvalho se reúnem para um bate-papo no evento de lançamento de Mulheres viajantes, da autora portuguesa Sónia Serrano, na Livraria da Tarde, em São Paulo. A edição brasileira, que sai pela editora Tinta-da-China Brasil, inclui um capítulo inédito sobre a navegadora Tamara Klink, a primeira mulher a invernar no Ártico.
Em Mulheres viajantes, Serrano reúne histórias de escritoras, aventureiras, cientistas e religiosas que desafiaram as convenções de suas respectivas épocas. O livro é um tributo à coragem de mulheres que, do século 4 ao 21, percorreram o mundo sozinhas.
As dezenove exploradoras lembradas no livro não apenas romperam com os estereótipos de mulher de seu tempo, mas também mapearam terras desconhecidas, descobriram espécies botânicas, contribuíram com avanços médicos e deixaram um legado nos campos da arqueologia e da geopolítica, entre outros feitos.
Na obra, que já nasce um clássico da literatura de viagem, Serrano oferece uma nova perspectiva. As mulheres escreveram relatos bem-humorados, argutos, sensíveis, e observaram ambientes aos quais os homens não tinham acesso.
A obra está dividida em duas partes. Na primeira, a autora reúne e contextualiza os elementos comuns entre os relatos das viajantes. Os perigos que enfrentavam, as malas que levavam, as dinâmicas de alimentação, questões de segurança, higiene e acomodação. Já os capítulos da segunda parte são dedicados a apresentar individualmente a trajetória e o legado de cada uma dessas viajantes.
Mulheres viajantes que fizeram história
No século 4, Egéria partiu da Península Ibérica rumo à Terra Santa. Seus relatos são os primeiros escritos de viagem deixados por uma mulher de que se tem notícias. Além disso, o conjunto de seus textos é de grande importância histórica. Redigidos em latim vulgar, o que era surpreendente para o período, eles fornecem pistas da evolução das línguas românicas e registram detalhes preciosos do início do cristianismo em Jerusalém.
Entre os séculos 16 e 17, Catalina de Erauso abandonou o convento e a vida religiosa, assumiu uma identidade masculina e viajou pela América do Sul, servindo nas forças militares espanholas no Chile e no Peru. Apresentar-se como homem, aliás, foi um recurso utilizado por muitas das andarilhas.
Durante suas andanças por Constantinopla (hoje Istambul) no século 18, Mary Wortley Montagu (1689‐1762) entrou em contato com a inoculação do vírus da varíola praticada pelos turcos. Ela levou a técnica para a Inglaterra e a apresentou aos membros da realeza local. Embora a descoberta da vacina seja atribuída a Edward Jenner (1749‑1823), Sónia Serrano defende que é preciso honrar a memória de Lady Montagu como a verdadeira precursora do tratamento na Europa Ocidental.
A flor popularmente conhecida como primavera foi catalogada no Brasil em 1767 por uma mulher, Jeanne Baret (1740-1807), naturalista e botânica francesa. A descoberta se deu em uma expedição científica da qual Baret participou clandestinamente, disfarçada de homem e trabalhando como assistente de seu amante, Philibert Commerçon. Commerçon tomou os créditos pela descoberta e decidiu batizar a planta de Bougainvillea brasiliensis, em referência a Louis de Bougainville, líder da expedição.
Lady Hester Stanhope (1776-1839) teve uma vida digna de personagem de mitologia grega. Inglesa, frequentadora da alta sociedade e dos círculos intelectuais, conheceu o poeta Lord Byron, arrasou corações, foi exilada, percorreu o Oriente e foi coroada rainha na cidade de Palmira, na Síria. Tudo isso depois de completar trinta anos, o que no século 19 era sinônimo de fim da linha para uma mulher. De tão fascinante, tornou-se personagem de outro livro: o grande clássico modernista Ulysses, de James Joyce. O artista espanhol Pablo Picasso também a admirava, tendo afirmado que Lady Stanhope representou o verdadeiro modelo de mulher livre.
Jane Dieulafoy (1851‐1916) e seu marido participaram da primeira expedição científica organizada oficialmente. Percorreram o Oriente Médio e trouxeram para a França o friso dos arqueiros e o capitel de uma coluna do Palácio de Dário I (ou Castelo de Tachar), construção do Império Aquemênida (510-330 a.C.) localizada em Persépolis, na Pérsia, região do atual Irã. Os dois itens podem ser vistos no Museu do Louvre.
As proezas de Gertrude Bell (1868-1926) lhe renderam a cinebiografia Rainha do deserto (2015), dirigida por Werner Herzog e protagonizada por Nicole Kidman. No final do século 19, ela foi a primeira mulher a se formar em história contemporânea em Oxford. Fascinada pelo Oriente Médio, ela mapeou partes de seu território, corrigindo muitas informações e sendo figura-chave na geopolítica durante as divisões de terras que formaram as atuais nações da região. Foi pioneira ao redigir uma lei estabelecendo que os objetos escavados deveriam permanecer no Iraque e, como último projeto, criou o Museu do Iraque, em 1926. Foi confidente e consultora de reis, presidentes e dirigentes mundiais, como Winston Churchill. Além de destacada funcionária de Estado, Bell trabalhou em várias áreas ao longo de sua vida. Foi poeta, tradutora, fotógrafa, arqueóloga, cartógrafa, alpinista, jardineira e linguista, entre outras atividades que exerceu, sempre reconhecida por seu brilhantismo.
Dos séculos 20 e 21, a autora conta as histórias de quatro viajantes. A jornalista e escritora inglesa Jan Morris (1926-2020) começou como repórter por acaso, enquanto servia no exército britânico antes da Segunda Guerra Mundial. Desde então, percorreu o mundo como correspondente internacional, desbravando os Estados Unidos, a Índia e o Oriente Médio, deixando um legado de mais de quarenta livros. Já a irlandesa Dervla Murphy (1931-2022) preferia a bicicleta como meio de transporte. Ela escreveu um livro sobre o trajeto que fez de sua terra natal até a Índia sobre duas rodas. A jornalista portuguesa Alexandra Lucas Coelho (1967), conterrânea da autora Sónia Serrano, registrou impressões sobre a Faixa de Gaza, o Afeganistão, o México e o Brasil. A caçula da turma é a navegadora Tamara Klink (1997), a primeira mulher a invernar no Ártico. O capítulo dedicado a ela foi escrito exclusivamente para a edição brasileira.
O livro é mais do que um convite à leitura dessas mulheres; é um tributo à coragem e ao espírito aventureiro daquelas que ousaram sonhar e realizar. Ideal para quem busca inspiração, conhecimento e uma nova perspectiva sobre a história da humanidade e da literatura de viagem.
Evento de lançamento
Para celebrar o lançamento da obra no Brasil e o mês do Dia Internacional das Mulheres, a Tinta-da-China Brasil promove um bate-papo na quinta-feira, 13 de março, reunindo escritoras e viajantes brasileiras. Elas compartilharão com o público suas vivências em viagens e suas impressões sobre a obra de Serrano.
Entre as convidadas está Gaía Passarelli, autora de Mas você vai sozinha? (Globo, 2016), livro que narra suas jornadas solo — algumas delas mencionadas por Serrano. Paula Carvalho, historiadora, jornalista e editora, também participa da conversa. Sua obra Direito à vagabundagem: as viagens de Isabelle Eberhardt (Fósforo, 2022) investiga a trajetória de uma das viajantes retratadas no livro.
Lançamento Mulheres viajantes, de Sónia Serrano
com Gaía Passarelli e Paula Carvalho
Livraria da Tarde
Rua Cônego Eugênio Leite, 956 – Pinheiros, São Paulo
Data: 13 de março, quinta-feira, às 19h
Sobre a autora
Sónia Serrano nasceu em Lisboa, é formada em direito e mestre em estudos literários, culturais e interartes na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Dedica-se ao estudo da literatura espanhola e hispano‑americana. Fez crítica literária no Jornal de Letras e participou em diversas publicações de poesia. Em 2010, integrou a curadoria da exposição Autorretratos do Mundo, no Museu Berardo, e em 2015 da exposição No Fim de Todos os Caminhos, na Flup 2024, sobre a escritora, jornalista e viajante Annemarie Schwarzenbach. Coorganizou o colóquio internacional Annemarie Schwarzenbach: Uma Viajante pela Palavra e pela Imagem, no Instituto Franco‑Português. Participou como representante de Portugal na conferência Cross-Border Conversations: European and Indian Women Writers, realizada em Nova Delhi, em 2015, entre outras conferências ligadas à literatura de viagens. Participou como keynote speaker no Congresso Internacional Fotografia e Viagem, realizado no Funchal, em 2019.
Sobre a Tinta-da-China Brasil
É uma editora de livros independente, sediada em São Paulo, gerida desde 2022 pela Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos. Sua missão é a difusão da cultura do livro.
Julio Sitto
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