LIVUSIA

Ando um tanto quanto preocupado com uns amigos, buscando encontrar uma palavra que defina inequivocamente, o ex ocupante do Palácio do Planalto, em apenas um

adjetivo. Sei perfeitamente que lhes devo essa, mas acho: Mula Sem Cabeça, lhe cai bem.

Duzentos e dezesseis vocábulos foram desferidos pelo jornalista Luiz Cláudio Cunha, em único artigo, citando alguns dos termos utilizados corriqueiramente pelos meios de comunicação (mídia popular), com intuito de qualificar o inqualificável, o inominável troncho – este, ele não usou – pois uma vez inominável, “troncho”, penso, tem lá sua relevância.

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/opiniao/216-palavras-para-a-imprensa-definir-com-precisao-bolsonaro-e-seu-governo/.

“Troncho” é sentença bastante usada para um indivíduo curvado para um dos lados. Não leve, mesmo que por um instante, tudo ao pé da letra, pois haverá de ser uma alma penada, torta, quem virá lhe visitar. Alguns podem dizer: truncado, mutilado, privado de algum membro ou ramo. Ainda assim, convém lembrar Luiz Gonzaga, quando em notas musicais amuadas, versejava: sujeito, é termo que não se deve identificar um nordestino. Sujeito: alguém que não tem vontade própria, estar a serviço de outrem, capacho, propriedade de uso doméstico. Interessante que se assim fosse, pois, por mais que pau podre não sustenta uma coivara, bom seria vê-lo, sujeito.

Tempo não perco, mesmo para reprovar um muxibento, cabeça-de-pau-de-taca, expressões usadas na prosódia de lá, do “Pripiri”, lugarejo perdido no meio do sertão baiano, aonde passei a primeira infância, particularidades que dispensam explicações, contudo aplico essa similitude para afastar-me, mais algumas léguas do coiso ruim, no mais negativo que o vituperar possa situá-lo.

Proseando com Tininha, senhora de sabença popular admirável, que volta e meia visita minha morada, mesmo em tempos de livusia, feliz da vida estava ela, pós sua passagem por este lado de cá, onde respirar convém, manifestar quis e com satisfação, enquanto aguarda sem nenhum pulso de ansiedade, a hora marcada para receber novas energias, mesmo que sejam de fontes catadas na solidão das curvas do estradar, onde rezas não se ouve e o mato sopra forte, em assobia um tanto vagaroso. No mesmo tempo, enfurnada estava, por sua vizinha, a quem, num acesso de bondade, interrompeu sua respiração, enquanto coisas sem razão povoava sua mente. Até porque, de novo, desenhar não convém, já que, daqui o fundo do posso, nem relampejando dá para ser avistado.

Em tempos de livusia amoitar não desanuvia, seguir em frente com o clarão dos vagalumes, é o que todos aconselham, derna que não seja em principalmente, pego pelo “craviúna”, de onde muitos podem falar de um lugar, que a noite, logo aquela brisa sopra e de frio, se recomenda amoitar e quando ao romper da aurora, o sol murcha o verde que lá havia. Com as juntas entrevadas, é preciso, mais uma vez, tocar em frente, porque dias melhores, as vistas custam alcançar, pois está atento, vigiar é sempre preciso, o inominável, Deus me livre, ainda pode voltar.

Principiando o final dessa conversação, volto ao meu amigo, em busca de um palavrório e mesmo recorrendo ao texto do já citado jornalista, lá no início, penso que a caçada continua, pois desistir não posso. Antes de encerrar, metaforicamente, despeço de Tininha, companhia pouco compreendida que assim como entrou, saiu desta narrativa, no mesmo compasso, engrosso o coro dos contentes e finco bandeira: aquele muxibento não a de valer meia colher de mal arroz!

 

 

 

  • Livusia: No peculiar linguajar do “Pripiri”, lugarejo perdido no sertão baiano, lá no meio da caatinga, onde hoje não mais existe, mas ficou presa na memória, a prosódia do lugar, que renasce agora numa malfazeja e alegórica crônica de assombração.

 

Sobre Diogo Gomes dos Santos 11 Artigos
Diogo Gomes dos Santos Diogo Gomes dos Santos, Cineasta, Cineclubista, Mestre em Estética e História da Arte, possui pós-graduação em Estudos Literário, graduado e licenciado em Historia, roteirista, diretor, produtor com vários prêmios nacionais e internacionais. Diretor do Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros/Delegado junto a Federação Internacional de Cineclubes.

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