Me respeita que eu sou do tempo da internet. Sim, internet – com “i” no começo e “t” mudo no final. Mais: sou do tempo da IOT – Internet Of Things, em português chamada de Internet das Coisas, onde as telas apareciam em painéis holográficos à frente das pessoas, veja que atraso. Me respeita que eu sou do tempo… olha, promete pra mim que não vai espalhar, este tipo de confissão entrega a idade… você não vai acreditar… eu sou do tempo dos carros elétricos, que você abastecia em uma tomada instalada na garagem. Que medieval, né? Me respeita que eu sou do tempo do telescópio espacial James Webb, das criptomoedas e do PIX (!!!!!!). Ai, meu Deus, que vergonha. Eu sou do tempo do iPhone 27, dos emojis, selfies, metaversos, avatares e umas imbecilidades a que davam o nome de redes sociais, nas quais as pessoas interagiam sem transmissão de pensamento e em um contexto onde a longevidade média não passava de ridículos 176 anos. Eu sou do tempo em que se frequentava um espaço chamado academia, com o risível propósito de se trabalhar os músculos para retardar a morte. Eu sou do tempo em que as casas demoravam mais de duas horas para serem construídas e ainda não se autolimpavam. Me respeita que eu presenciei a época em que humanos precisavam “comer” e “beber” coisas para não morrerem, fazendo insumos denominados “alimentos” e “bebidas” entrarem pela boca, passarem pelo tubo digestivo e depois… bom, deixemos pra lá esta parte indecentemente primitiva. Não era comum, mas há relatos de pessoas vistas pelas ruas praticando o que registros históricos apontam como sendo “andar”, estranho hábito em que as pernas direita e esquerda se locomoviam alternadamente para levar gente de um lugar a outro. Creia-me, falo sério. Eu sou desse tempo aí. Portanto, olha o respeito.
Esta é uma obra de ficção
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Excelente texto, Marcelo!
E me respeita, sou do tempo em que os deuses ouviam suas músicas em walkmans prateados, rs!