Memorial QUIM COSTA – Onde canta a música do carro de boi

O Carro de Boi em nosso Município, muitos trabalhos realizou.
Transportando a noiva para o altar.
Foi o carro alegórico no carnaval.
Trouxe os santos e o sino da Matriz.
Transportou mudanças dos moradores.
Cereais e alimentos do campo.
Traziam os mantimentos de Pindamonhangaba.
As imagens nas procissões,
os Santos de nossa devoção.
Hoje é um dos maiores símbolos
de nossa Cultura e apreciação.
Com o Memorial do Carro de boi,
queremos esse Patrimônio preservar
Em homenagem ao pai “Quim Costa”
Um digno filho dessa terra.
Aprendeu com o Mestre Bastião Bento
a caprichar.
E se tornou o maior Carapina,
na Arte de Entalhar.
Durante toda sua vida
se especializou.
E esse legado, para a humanidade deixou.
Seus carros foram vendidos, por toda região.
Até para o Mato Grosso,
grande estado dessa Nação.
E até hoje se vê o Carro de Boi por aí.
Contribuindo com os trabalhos
em São Bento do Sapucaí.

Homenagem da filha, Maria Bernadete da Costa, ao pai Quim Costa.

Teresa Bendini entrevista Maria Bernadete da Costa

O Museu do Carro de Boi em São Bento do Sapucaí foi inaugurado no dia 27 de outubro de 2016, na Estrada Jandyra da Silva Costa, 234 no Bairro do Quilombo, em São Bento do Sapucaí. Desde então, tornou-se o Memorial do Carro de Boi. Ele visa homenagear o Carpinteiro e Carreiro Joaquim Pereira Costa, falecido em março de 2014. Lá ainda podemos ver os Carros de Boi de madeira de lei que rangem e choram ao cruzar as estradas.
Sua filha Bernadete Costa, idealizadora do Projeto, nos recebeu em sua casa que também abriga o Museu. E lá, nos concedeu essa Entrevista.

“Aos oito anos de idade o menino Quinzinho já fazia seus carrinhos de boi, com boiada de chuchu, no porão da fazenda onde morava”. 

 

1- Primeiramente desejo te agradecer pela acolhida. Pela disposição em receber  a Revista e pela paciência que teve conosco. Queria saber sobre o “Poema acima” que é de sua autoria. Ele conta de um jeito bastante brejeiro, o envolvimento do Carro de Boi com a Cultura local. 

Parece que tudo dependia desse transporte. Cultura, lazer, política, economia, religiosidade. Seu pai tinha consciência da importância do seu Ofício?

Como era essa figura que você, tão singelamente homenageia em seu poema? Sua personalidade, seu caráter, seus hábitos, seu dia a dia, sua relação com a família.

Sim, mas em primeiro lugar era o amor pelo canto do carro de boi que despertava nele a vontade de construí-lo.

Meu pai era um homem que amava viver na luta da vida do campo. O trabalho era árduo, pois a Fazenda Boa Vista de seu pai tinha 205 alqueires de terra, com grande produção de arroz, feijão, fumo e gado leiteiro.

Com todo esse trabalho ele amava arar a terra com a boiada no arado, carrear transportando os cereais, mudanças, lenhas e tudo que fosse necessário do transporte. Ele sempre dizia que não se contentava só com todo esse trabalho. Ele queria fazer o carro de boi.

Sempre foi um homem de muita fé católica onde vivia o amor ao próximo e a dedicação à família.

2- Quais as etapas de confecção de um CARRO DE BOI?

O carro de boi era um transporte necessário da época. Sua confecção passava por duras etapas. A madeira utilizada era serrada com o traçador (uma serra grande segurada nas pontas por dois homens) sendo desmembradas em toras. Que depois meu pai serrava com um serrote e machado e ia esculpindo as peças com as ferramentas: enxó, formão, arco de pua, trado e outras. As peças que compõem o carro de boi são: chedas, cabeçalho, arreias, cocão, chumaço, assoalho e candião, rodas e eixo. Com as peças preparadas em seu rancho oficina sobre as bancadas, morsa, cavaletes e marretas e macetes era montado o carro de boi.

 

3- Poderia nos contar sobre o Museu hoje, suas dificuldades e sua pretensão em relação a ele?

O Museu está montado com muita luta e sacrifício dos familiares envolvidos com esse trabalho. Desde sua inauguração estamos realizando atividades e envolvendo a população como: festa junina, roda de viola, folia de reis, semana literária e outras.

As dificuldades são muitas como: falta de apoio dos órgãos públicos, a falta de valorização da cultura local e desinteresse da população por nossas raízes. A pretensão é divulgar entre o público escolar para que a vontade de meu pai seja realizada. Que era o pedido dele, com a construção do Museu que não deixasse morrer essa importante parte da história do transporte pioneiro do Brasil e seu brilhante trabalho.

4- Quais as madeiras que eram utilizadas na confecção do Carro de Boi? Elas ainda existem? Como o desmatamento era visto pelo Senhor QUIM?

As madeiras usadas para a construção do carro de boi eram: jacarandá da Bahia, pau pereira, taiúva, óleo vermelho ou cabriúva.

Para os arreamentos usados na boiada como cangas, tiradeiras, canzis, eram usadas as madeiras do café bravo, pessegueiro bravo e do jacarandá bico de pato. Todas essas árvores eram plantadas e preservadas por ele. Hoje temos várias catalogadas para demonstração aos visitantes. Na época apesar dele usar as árvores para a construção do carro de boi, e o desmatamento ser corriqueiro para formação de pastagem, ele plantava muitas delas e as preservava, pois sempre foi um visionário do futuro.

Preservava as nascentes e cuidava das margens do rio formando a mata ciliar. Tem uma mata de araucária formada por ele, com mais de cinquenta anos.

5- Sobre as lendas em torno do Carro de boi. Poderia nos contar sobre aquela que impede o transporte dos mortos nos carros?

Ele contava que transportou quase de tudo, mas Graças a Deus nunca transportou defuntos. A tradição diz que isso traz má sorte ao carro, pois ele deixaria de cantar.

6 – Em relação às festividades que envolvem o Carro de Boi. Elas ainda são realizadas?

Na região ainda existem algumas festividades envolvendo o carro de boi. Em 2017 participamos do desfile da Festa do Divino, na paróquia de São Vicente de Paula em Taubaté. As festividades realizadas aqui foram da inauguração do Museu e do 1º aniversário.

7-  Resguardar  a memória do seu pai através de um Museu ou Memorial feito para ele, nos faz pensar na sociedade urbana, na criança urbana. Como você sente a nova geração? Dá para valorizar o passado diante de tanta inovação, de tanta massificação?

Sim, o trabalho que tenho realizado tem cativado as crianças que se sentem elogiadas com a história contada por nós, monitores.

8- Sua filha é artista plástica. Podemos dizer que a confecção de um carro de boi é um trabalho artístico? Por quê? O que esse trabalho envolve? 

Sim, seu trabalho era artístico desde a fabricação por ele de maior parte das ferramentas até o modo de esculpir as peças e a montagem do carro totalmente artesanal. Esse trabalho envolve muita sabedoria, pesquisa e criatividade.

9-  O Museu aceita doações? 

Sim, o Museu aceita e agradece muito aqueles que possam oferecer doações para a sua permanência.

10-  Quem são os parceiros dessa sua empreitada?

Os parceiros são meu marido, familiares e amigos como a Vânia Borelli que muito nos ajuda.

11-  Sobre suas alegrias em relação ao Museu. Quais os momentos em que esse projeto te surpreendeu?

O reconhecimento do meu pai no “Prêmio Leandro Gomes de Barros Cultura Populares” enquanto um mestre Cultural Nacional in memorian me trouxe uma enorme alegria, uma valorização merecida.

12 – Qual é o horário de visitação ao Memorial do CARRO DE BOI? Quando podemos visitá-lo e como é feita a visitação? Quais as suas etapas?

Aberto aos sábados, domingos e feriados.

Das 10 às 17h.

Com monitoria no espaço casa e no galpão do cenário onde estão expostos os carros de boi e oficina de carpintaria utilizada por meu pai.

Valor por pessoa R$ 5,00.

CASO QUEIRA VISITAR DURANTE A SEMANA ENTRAR EM CONTATO PELO WHATSAPP (12) 99762 2966.

Desenho da Pietra, bisneta de QUIM COSTA

Com pouco mais de nove anos, Pietra sua bisneta, vai ilustrar o Livro em  homenagem ao bisavô e seu Ofício, considerado raro em nossos dias. 

2018

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