IMPRESSÕES DE VIAGEM – SOBREVOAR
Que sentimento mais estranho – subi aos céus, venci o medo e fiquei estática. Estática diante do azul do firmamento. Lembrei de Neo e Trinity, vencendo as nuvens negras, enxergando o alaranjado do sol – VENDO A REALIDADE!
Senti como numa brincadeira de criança e me vi sobre as nuvens de algodão e o primeiro desejo foi comê-las como se fossem algodão doce – oh, ilusão, onde estás agora? Será que vi a realidade por alguns efêmeros segundos? Senti isso em meu peito quando apertou e quando meus olhos ficaram cheios d’agua por estar no ar, literalmente no ar. Olhei para baixo e vi uma fenomenal obra de arte: Desenhos em formas geométricas, das mais variadas cores, parecia uma colcha de retalhos, daquelas calculadamente bordadas. Aquela colcha de retalhos que sempre quis ter em minha cama, exatamente igual aquela que tenho desenhada em minha imaginação, mas que nunca soube fazer. E AGORA sei que nunca vou ter, ela já existe de uma forma invisível. Eu a vi agora, de cima e constatei que nunca vou ter porque ela cobre toda a terra. Muita presunção minha querer uma igual, não é mesmo? Vejo o quanto sou prepotente e como desejo o que não se pode possuir…Desejo o sol em minhas mãos e quase cheguei perto dele e a impressão era que bastava apenas esticar os braços. Mas como sempre falo, de impressão em impressão Renoir fez a sua arte, mas não fez aquela colcha que cobre a MÃE TERRA e a deixa tão caoticamente perfeita. Os desenhos das montanhas, dos rios, das plantações. Ah, uma sensação de estar retirando o véu. E sobre as nuvens senti meu pulso e o sangue correndo mais veloz que de costume. Nesse momento fiquei completamente dentro de mim e sem aquela fumaça que embaça meus olhos tão débeis, sem aquela fumaça que me separa de mim.
Elizabeth de Souza
(2007)
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