Muito Além do Pensamento
Estes momentos de reclusão que estamos vivendo, por mais ocupados que estejamos, são um convite para pensar. Muita gente confessa que isso acaba se tornando angustiante. Angustiante porque pode levar a pessoa a viver um processo binário. Ou se pensa no passado ou se pensa no futuro.
Uma retrospecção sobre o passado pode ser um bom exercício de auto-conhecimento quando o objetivo é procurar a harmonia interna. Esse mergulho “em si mesmo” é bom quando estimula uma autorreconciliação ou a procura de novos caminhos. Mas, nem sempre isso acontece. O comum é as pessoas se abalarem à revisão de fatos que as traumatizaram psicológica ou emocionalmente. Remoer tristezas, mágoas, velhas feridas, nada lhes acrescentará de positivo. Outras, já se concentram no futuro, no que supostamente lhes poderá acontecer. E, nestes tempos de coronavírus, nada é mais obscuro e imprevisível que o futuro. Não há como fazer projeções diante de tamanha incógnita.
Talvez a paz e a harmonia possam ser encontradas numa espécie de meio termo. Nem passado, nem futuro, mas o momento presente, o agora. Porque, pensando bem, o “agora” é a nossa única realidade possível. É onde a vida acontece.
É difícil tentar viver o momento presente. O pensamento sempre remete ao passado ou ao futuro. Eckhart Tolle diz que mais importante que o pensamento é a consciência. É ela que nos abre o caminho do inédito, a percepção de novas realidades, que ao invés de trazer angústia podem ser gratificantes. Ou, quem sabe, ressignificar nossas vidas.
Tolle afirma que “pensar não é mais que um minúsculo aspecto da totalidade da consciência que somos”. Para ele “consciência é o espaço em que pensamentos existem quando esse espaço já se tornou consciente de si mesmo”. Entendemos, então, que a consciência vai muito além do pensamento.
O filósofo Alan Watts afirmava que “o pensador revolucionário é aquele capaz de ir além do próprio pensamento. Ele sabe que quase todas as suas melhores ideias lhe ocorrem quando pára de pensar”. E arremata dizendo que “ir além do próprio pensamento não é privilégio de pessoas excepcionalmente dotadas. Está ao alcance de todos nós, desde que “o mistério” da vida não seja um problema a ser resolvido, mas uma realidade a ser experimentada”. Nesse processo, concentrar-se no passado ou no futuro só atrapalha. Eles são obstáculos porque são limites do pensamento. Levam a tentar compreender tudo em termos de passado ou futuro. É como se, numa viagem, nossa atenção ficasse concentrada no guia turístico, sem olharmos para o melhor que é a paisagem. Olhar para a paisagem é desfrutar do momento presente. É o que nos completa.
Por Gilberto Silos
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