Música nas HQs
Por Jorge Hata*
Além de emprestar e tomar emprestado, a música sempre esteve presente nas histórias em quadrinhos. Um dos motivos talvez seja o grande número de artistas que atuam nas duas atividades. Para exemplificar, podemos citar Alan Moore (Watchmen, Piada Mortal, V de Vingança), integrante do grupo de Rock chamado “The Sinister Ducks”, que teve a capa do disco desenhado por outro roqueiro, Kevin O´Neill (A Era Metalzóica). O frances Frank Margerin e outro adepto do ritmo, assim como os irmãos Hernandez, que formam a banda “Nature Boy”. Independente do tipo ou ritmo, o fato é que a música sempre foi parte integrante dos quadrinhos. Muitas são as obras que a utilizaram, algumas consagradas, outras não, mas o importante era a sua presença. “Os sons da cidade são integrados como sua arquitetura. Uma sintonia interminável. Toda peculiar como são os seus cheiros”.” Com estas palavras o mestre Will Eisner abre o capítulo “Música de Rua”, do album “New York”, mostrando de forma genial e particular a música dentro da “Grande Maçã”. Sem usar palavras, mas abusando do talento e da criatividade, o cartunista Quino também dá sua colaboração em “Artes e Partes” – capítulo 1.
Uma das maneiras em que a música tem sido mais utilizada, é na forma de argumento. Em “Orquídea Negra”, os autores Neil Gaiman e Dave McKean deixaram que a música de Frank Sinatra guiasse os passos do personagem, Carl Thorne. Da mesma forma, o cowboy Lucky Luke, de Morris e Goscinny, e outro que não foge a regra, pois no término de suas aventuras, ele sempre monta no seu cavalo e sai cantando “I’m a poor Lonesome cowboy land a long ways from home”. Saindo do faroeste para o mundo dos sonhos, encontramos Sandman, que também abre esse espaço. No número 3 da sua revista, entre as várias canções utilizadas, podemos destacar “In Dreams” de Roy Orbison, que também faz parte da trilha sonora do filme “Veludo Azul”. Até mesmo “Watchmen”, que é considerado um épico dos quadrinhos nos anos 80, rendeu-se aos acordes, e dentre as várias participações musicais, destacam-se Billie Holiday e Bob Dylan, que aparecem na obra através “Desolation Row” e “All Along the Watchtower” (esta última foi recentemente gravada pelo grupo irlandês U 2). O mesmo Alan Moore, ao escrever “V de Vingança”, fez uma abordagem implícita, mas não menos brilhante, pois apesar de não utilizar a música diretamente, ele narra a história através de atos, tal qual uma ópera.
Há também os personagens que fazem música. É o caso do já citado Teddy Payne e dos “Fat Boyds” que são cantores de Rap criados pela dupla John Leasure e Tim Fuller, para satirizar os Fat Boys. Os gauleses também tem seu representante, que é nada mais ou menos que Chatotorix (aquele que faz tudo cantando). Na França, muitos autores utilizam-se desse trunfo, Tramber e Jano criaram o rato “Kebra”, que faz parte do “Roque Fort”, “Teddy e Billy”, da dupla Dodo e Ben Radis, também não deixa por menos; mas o mais musical dos autores é sem dúvida Frank Margerin. Na sua galeria, encontramos “Flipo”, que é chegado num “break”, “Le Funky”, que já diz tudo, e nos adptos do rock achamos “Rickii Banlieve et ses Riverains”, “Tutti-Frutti” e o atrapalhado “Lucien”.
O samba (que não podia faltar) tem seu representante: o Zé Carioca, comandando o pagode na Vila Xurupita. Algumas vezes a música aparece através de pequenas citações, em “Wolverine & Destructor”, o desenhista Jon J. Muth, transformou Alex Summer num sósia de James Dean. Ao escrever o Sr. Milagre numa aventura solo, na qual o herói reconstrói uma gangue de andróides, após destruí-los, J.M. de Matteis dá aos robôs os rostos dos Beatles. Até mesmo o truculento “Ranxerox em Nova York”, onde o andróide ataca de Fred Astaire. Da mesma forma Gene Kelly é lembrado por Uderzo em “As 1.001 Horas de Asterix”. Mas as curiosidades também existem. Uma delas ocorreu na revista “John Constantine – Hellblazer” em sua edição anual, nas últimas páginas, o escritor-desenhista Dean Motter (O Prisioneiro) descreve um videoclipe em quadrinhos. Trata-se da música (fictícia) “Venus of the Hardsell”, do grupo Mucous Membrane, do qual Constantine foi membro na época da faculdade. Uma visão diferente foi a dada por Howard Chaykin (Sombra, Falcão Negro, American Flagg!) em “Time Square”, da Editora First. O autor utiliza as notas e partituras como parte integrante do desenho criando autênticas onomatopéias musicais.
*JORGE HATA
HISTORIADOR E COLUNISTA na HATA QUADRINHOS
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