Nasce um Herói – 5º Capítulo

Por Milton T. Mendonça

Elisa acondicionou no cesto os quitutes fresquinhos ainda fumegando que acabara de fazer vestiu-se com esmero e se dirigiu á delegacia. Entrou no pequeno espaço com apenas uma mesa uma cadeira e um banco encostado á parede e cumprimentou sorrindo o carcereiro sentado displicente folheando uma revista sobre a guerra.

– Posso ver o prisioneiro?

Perguntou em seguida, afável.

– Deixe-me ver o que traz aí o cheiro está muito bom!

Exclamou passando a língua pelos lábios fino.

Elisa depositou a cesta sobre a mesa e abriu-a retirando um prato coberto com um pano xadrez entregando ao homem.

– Trouxe para você experimentar… Espero que goste.

– Hummm!

O sargento retirou o pano cheirando o prato cheio.

– Posso vê-lo agora?

Perguntou novamente incisiva.

– Vá, vá! Mas não conte ao delegado.

-Está bem não se preocupe minha boca é um tumulo.

Respondeu se afastando desaparecendo pelo vão da porta.

Aquêmenes estava deitado no catre com as mãos na nuca olhando para o teto afunilado quando a viu entrar. Levantou-se de um pulo e se aproximou da grade.

– Trouxe algo para você comer.

Destampou a cesta e mostrou o interior.

Aquêmenes cheirou o ar e fez uma expressão de alegria.

Parece estar delicioso.

Falou com sua voz gutural.

– Perdoe-me!

Elisa exclamou cabisbaixa.

– Não foi culpa minha…

O prisioneiro colocou a mão entre as grades e tocou seus cabelos.

– Não fique triste logo serei liberto.

Murmurou suavemente pressentindo o motivo de sua tristeza repentina.

– Gostaria de poder entendê-lo… Trouxe o globo para ajudá-lo passar o tempo.

Retirou do cesto o mapa mundi e mostrou-lhe sorrindo sem graça.

Aquêmenes fez uma careta brejeira e sorriu demonstrando alegria e agradecimento.

Elisa fez sinal com a mão para que esperasse e saiu do cubículo retornando pouco depois com o sargento. O homem apontou o fuzil e mandou que Aquêmenes se afastasse. Abriu a porta e colocou o cesto no lado de dentro da cela fechando-a em seguida.

Olhou para Elisa com uma expressão de desaprovação girou o corpo e voltou á sua mesa para continuar o repasto.

Aquêmenes pegou o globo e rodou-o no seu eixo olhando impressionado para a moça do outro lado das grades. Colocou-o no chão perto do catre e retirou do cesto a primeira vasilha coberta com o pano de linho bordado á mão. O vapor encheu sua narina com o cheiro delicioso de pão quente broa de milho e bolo coberto com doce de goiaba em pasta. Pegou a garrafa olhando-a sem entender como abrir. Voltou a olhar para Elisa expectante e ela o ensinou através de sinais como fazê-lo. Cheirou seu conteúdo e o odor de café encheu sua boca de saliva. Tirou o copo de cristal preenchendo-o com o liquido negro e fumegante experimentando com diversos goles antes de apertar os lábios e se voltar para o teto saboreando a bebida adocicada de sabor forte.

Sentou-se no catre e mordeu o pão ouvindo o barulho crocante e sentido o sabor único com os olhos fechados. Estava em transe.

Elisa o olhava impressionada e confusa ao mesmo tempo, com o que via. E antes que pudesse falar mais alguma coisa a porta atrás de si se abriu e o sargento pediu que se retirasse.

Abanou a mão e sorriu se despedindo deixando-o submerso nas novas sensações.

Solomon Eiser acompanhado de seus companheiros chegara à cidade pouco depois das dez horas. Saíra cedo e estava na estrada antes mesmo de o sol bater no chão de terra umedecida pelo orvalho da madrugada. O trajeto fora mais lento do que o costume. O serão da noite anterior o havia embriagado tanto quanto os demais e a ressaca nublara a vista do motorista, que resolvera não arriscar.

O prefeito se levantou ao vê-los entrar no gabinete após a secretária anunciá-los.

– Bom dia senhores

Cumprimentou-os jovial.

– Dr. Solomon Eiser suponho?

Perguntou estendendo a mão.

– Bom dia prefeito. Desculpe-me o mau humor, mas meu amigo aqui – colocou a mão no ombro de Mateau – Precisou me embebedar para me convencer a vir. Espero que valha o trabalho.

– Não foi bem assim.

Mateau riu-se da pilhéria.

– Peguei-o pela curiosidade.

– É um prazer tê-lo conosco. O nosso amigo disse que é especialista em Turco Otomano?

– Turco-Otomano? Não, não! Minha especialidade são as línguas mortas. Mais especificamente a língua falada pelos Sumérios, Persas pré-modernidade, Egípcio do período protodinástico… E alguns dialetos Hórus do baixo e alto Nilo.

– Ah! É isso mesmo. Parece que Mateau tem duvidas quanto à origem de nosso prisioneiro.

– Na verdade não é duvida.

Mateau se explicou.

– O homem foge totalmente a minha compreensão. Talvez tenhamos encontrado um elo ligado a uma tribo perdida no deserto profundo. Como saber…

– Então vamos tirar essa duvida. Venham senhores! Enfrentemos o problema…

Desceram as escadas depois de passar pela sala da secretária  atravessaram a rua seguindo pela calçada, dobrando a primeira esquina.

– Lá está doutor… O propósito de sua viagem.

O prefeito anunciou satisfeito indicando com a mão o enorme edifício cilíndrico.

– Espero que possa solucionar o problema. Não podemos deixar que um estranho tire nosso sossego, não é mesmo?

– Estou curioso para conhecer tal personagem prefeito.

Solomon Eiser acendeu o charuto e deu uma baforada longa soltando a fumaça ao vento. Caminharam mais alguns metros deixando para trás as residências surgindo o descampado antes de alcançarem a construção.

O prefeito abriu a porta e deu passagem para os três homens entrarem no pequeno hall que antecedia o cubículo onde o delegado fizera sua sala. Encontraram o sargento com os pés sobre a mesa, semi-adormecido.

O delegado bateu no tampo e exclamou as gargalhadas.

– Acorda sargento! Queremos ver o prisioneiro.

Assustando-o tanto que na pressa de se levantar derrubou a cadeira caindo ao chão com um estrondo

O homem levantou-se constrangido. Passou as mãos no rosto e murmurou.

– Ah! São vocês…

– Sim! Somos nós. Queremos ver o prisioneiro… Esse é o doutor Solomon Eiser especialista em línguas.

– Muito prazer doutor… Desculpe a má impressão, mas esse prisioneiro está me mantendo acordado.

– Não se preocupe sargento compreendo a situação.

– Como ele passou? Deu muito trabalho?

Mateau perguntou quebrando o silêncio.

– Bom dia professor…

O sargento o cumprimentou usando seu título pela primeira vez.

– Estive com ele várias vezes, mas repete sempre o mesmo som gutural. Está tranqüilo como se soubesse de algo que desconhecemos. É um sujeito muito estranho…

– Mande alguém buscá-lo delegado. Vamos ver se conseguimos resolver esse mistério.

O prefeito ordenou ao delegado que se voltou para o sargento autorizando-o a ir buscar o encarcerado.

Minutos depois estava de volta acompanhado do cativo. Mostrou-lhe a cadeira e ele se sentou volvendo a cabeça curioso para todos antes de pousar o olhar em Solomon Eiser.

– Hebreu Leve-me ao seu rei!

Exclamou se levantando autoritário.

Os dois soldados apontaram o fuzil para seu peito e o obrigaram a voltar ao seu lugar.

– hebreu? Prefiro ser chamado de Judeu.

Solomon Eiser respondeu duro.

– Não temos rei… Somos uma republica.

– Você compreendeu?

Mateau perguntou espantado.

– A pronuncia dificulta um pouco, mas compreendo satisfatoriamente.

Aquêmenes mirou-o perplexo não compreendendo exatamente o que dizia, mas percebendo que sua pergunta fora respondida.

– Hebreu!

Voltou a exclamar.

– Não entendo o que diz…

– Quem é você?

Solomon Eiser perguntou enfático não dando atenção ao que o prisioneiro dizia.

– O que faz em meu país? É um espião dos Turco-Otomanos?

A expressão de confusão estampada no rosto do estrangeiro fez com que o lingüista abrandasse o tom de voz.

– O que pretende em França?  Quem o mandou?

– Sou Aquêmenes irmão de criação do grande rei Ciro conquistador do mundo.

– Ciro? Conquistador do mundo?

– De que lado do conflito vocês estão… Da tríplice entende ou das potencias centrais?

– Estamos expandindo para o oriente… Conquistamos o reino de Nabucodonosor e me tornei rei vassalo de Ciro. Esperava noticias suas quando tudo aconteceu.

– Como?

Solomon Eiser olhou espantado.

– Por quem nos toma? Acha-nos tolo?

– Sou Aquêmenes irmão de criação de Ciro o maior rei que jamais existiu sobre a terra.

Aquêmenes levantou-se  abruptamente esmurrando o rosto do sargento e derrubando o outro soldado, irado.

– Leve-me ao seu rei!

Ordenou aos gritos.

O sargento levantou-se cambaleando e atirou com o fuzil em direção ao prisioneiro ferindo-o de raspão no rosto fazendo-o retroceder e cair sentado na cadeira, sangrando.

– Quieto patife!

O militar exclamou apontando a arma.

– Calma sargento! Não vá matá-lo.

O prefeito segurou em seu braço, firme.

O outro soldado levantou-se e empunhou sua arma ficando ao lado de seu superior.

– Ponha-o de volta na cela sargento e chame o médico para fazer o curativo. Venha senhores voltemos á prefeitura.

O prefeito se empertigou chamando a atenção dos três homens saindo da sala em seguida.

Voltaram á prefeitura e se reuniram em seu gabinete.

– Espere!

Solomon Eiser exclamou de repente como se lembrasse de algo se levantando, excitado.

– meio irmão!

– É isso que ele quer dizer.

– O que significa?

Mateau perguntou curioso.

– Interpretei erroneamente suas palavras. Ele disse ser meio irmão de Ciro. Ninguém sabe sobre a inscrição na fortaleza de Nabucodonosor a não ser vocês dois.

Apontou para o delegado e para Mateau.

– Somente contei a vocês dois e não saíram de sob minhas vistas desde então.

– O que quer dizer?

O delegado perguntou curioso.

– Como ele sabe disso?

Solomon Eiser perguntou em resposta.

– Que Ciro deixou seu meio irmão como governante da fortaleza. É a primeira vez que essa informação vem á luz. E mesmo assim ainda não foi feito uma tradução completa do texto.  O quebra cabeça está sobre minha mesa esperando para ser  montado…

– E sua pronuncia? É perfeita demais para ser um engodo.

– Não existe ninguém que eu conheça que fale esse idioma dessa maneira. Lembrando sua pronuncia percebo que não poderia ser de outra maneira…

– Você acha que pode ser real… Que ele veio do passado?

O prefeito pronunciou as palavras e gargalhou excitado.

Todos olharam para ele em silêncio perdidos em seus próprios pensamentos. Não recebendo eco o prefeito caiu em si silenciando constrangido.

A secretária entrou acompanhada de um garçom que serviu bebida a todos. O silêncio permaneceu entre eles enquanto os copos se esvaziavam e a fumaça dos charutos nublava a sala.

Aquêmenes estava aturdido com o estranho. Pela primeira vez desde que chegara conseguira trocas algumas palavras compreensíveis com outra pessoa. Não compreendera o sentido de algumas delas, mas já era um começo.

– O que ele quis dizer com não existir rei?

Murmurou consigo mesmo confuso.

– Os escravos dominaram o império? É por isso que vivem tão confortáveis? Preciso alertar Ciro. Precisamos de mais rigidez… Não devemos libertá-los ou eles dominarão o mundo…

Perdido em seus pensamentos somente se deu conta do trio quando ouviu o barulho de metal se chocando contra metal e viu a porta se abrir deixando-os passar. Os dois soldados com os fuzis apontados para sua pessoa o obrigaram a aceitar que o médico cuidasse de sua ferida.

Quando os viu se aproximar observou o homem de branco imaginando-o como mágico. Deixou o colocar  ungüento em sua ferida e estranhou o material usado para tapá-lo, mas mesmo assim manteve-se  rígido e não demonstrou o alívio que sentira quando tudo terminou.

– Existe realmente a possibilidade de o prisioneiro ter vindo do passado.

O prefeito afirmou de sua mesa.

– Sou um cientista – um  psiquiatra – e acredito na ciência. As possibilidades que a natureza nos oferece são imensas. Tudo é possível. Somente o fato de existirmos nos remete a questões que beiram a magia.

– Como conseguimos nos locomover, pensar, sentir? Nossa autonomia é algo extraordinário. E tudo isso com apenas alguns gramas de alimento diário. A reação química necessária para transformar essa pasta ao qual se transforma o alimento em nosso estômago em energia é algo inimaginável. E tudo isso em um espaço reduzidíssimo. Então, se isso é possível a natureza deve ter outros recursos que somos incapazes até de imaginar…

– A viagem no tempo seria uma delas?

Mateau perguntou sarcástico.

– Quem consegue entender o tempo e suas singularidades…

O prefeito retrucou.

– Existe um homem. Um físico alemão que desenvolveu uma teoria sobre o espaço e o tempo unindo-os de uma maneira extremamente elegante e que muda totalmente nossa concepção da realidade. Há dois anos completou-a com novos conceitos sobre gravitação e movimento acelerado. Dizem que sua  implementação fará o pensamento humano dar um salto qualitativo que precisaria de milhares de anos para alcançar caso essa teoria jamais fosse aventada. O mundo acadêmico está em polvorosa.

Salomon Eiser expressou em voz alta.

– Isso quer dizer o que?

O delegado perguntou.

– Quer dizer que segundo a nova ciência tudo é possível… Inclusive viajar no tempo.

Respondeu com a voz arrastada de ébrio fazendo o barulho de gorgulho de alguém que tenta rir numa posição desconfortável.

– Além disso, temos o barco ou algo parecido de um material que, para dizer o mínimo é muito exótico. Ele apareceu ao mesmo tempo em que o nosso estranho.

O prefeito lembrou a todos.

– Barco? Que barco?

Salomon Eiser perguntou se ajeitando na poltrona.

– O barco que encontramos na praia na mesma noite das mortes. Pensamos que ele servira para trazer os inimigos, mas depois descobrimos que os soldados mortos eram de nossa unidade e que a morte fora executada pelo prisioneiro para salvar uma moradora de ser estuprada.

– Espera aí! Que história é essa?

– Cadê o barco?

– Enviamos para ser analisado na capital.

– E a moradora?

– Esta em sua casa… Provavelmente.

– Preciso conversar com ela… Depois do almoço. Não costumo beber durante o dia. Penso que terei de dormir um pouco…

O prefeito chamou a secretária pelo interfone e mandou avisar sua esposa para colocar mais três lugares na mesa e se voltou para Solomon Eiser.

– Essa história de viajem no tempo é apenas isso: história…

– Por que diz isso?

– Ora, se fosse possível o mundo estaria cheio de gente do futuro e não do passado.

– Não obrigatoriamente…

Mateau respondeu rindo baixo.

Porque não?

O delegado perguntou.

– Talvez tenha ocorrido algo natural. Um evento cataclísmico que proporcionou ao nosso visitante ultrapassar a barreira entre as épocas.

– Uma catástrofe? Que tipo de catástrofe poderia ocorrer suficientemente forte para atravessar a barreira do tempo e ainda manter vivo quem estivesse por perto.

O prefeito questionou.

– E tem o barco.

O delegado lembrou.

O barco… Esse pode ser a chave do mistério.

Mateau divagou.

– Nosso visitante parece estar tão confuso quanto nós… Ficou perplexo com a não existência de um rei. Parece-me que ele não tem consciência de onde está.

Salomon Eiser enfatizou.

– Preciso conversar novamente com ele… Depois de me entrevistar com a moradora local.

Elisa estava mais tranqüila depois de vê-lo aquela manhã. Percebera que não a culpava por sua prisão e que esse fato não o atormentava como pensara a principio. Prometera a si mesma não o deixar sozinho. Levaria comida todos os dias assim, talvez, conseguisse aprender sua língua ou então, pelo menos, não deixaria que o maltratassem. Sentia que tinha uma dívida com ele. Ainda se lembrava do sufoco que passara nas mãos daqueles animais.

Distraída com seus pensamentos se assustou ao ouvir palmas no portão. Colocou o bordado ao lado e levantou-se da poltrona chegando à janela. O prefeito saudou-a com o sorriso amigável que lhe era peculiar levantando a voz para que pudesse ouvi-lo.

– Boa tarde senhora!

– Boa tarde.

– Podemos ter um dedinho de prosa?

– Um momento.

Elisa  foi até a porta e abriu-a se afastando em seguida para o lado. Os quatro homens entraram na sala e o prefeito apresentou seu convidado sem rodeios.

– Esse é o Dr. Solomon Eiser. É especialista em línguas mortas e dialeto arcaico do médio oriente. Veio para tentar decifrar a origem de seu amigo estrangeiro e gostaríamos que nos ajudasse com algumas respostas.

– Será um prazer… Sentem-se, por favor.

Elisa cumprimentou o homem a sua frente e indicou o sofá com o gesto de mão.

Sentaram-se e ficaram um momento em silêncio como se esperasse a poeira assentar.

– Vou direto ao assunto.

Solomon Eiser falou olhando para todos incisivo se detendo em Elisa.

– Na entrevista que tivera com ele assim que chegamos á cidade – apontou seus companheiros. Reconhecera sua língua como sendo a mesma falada – assim acredito – no segundo milênio que antecedeu o nascimento de cristo. Idioma oriundo da região da Pérsia.

– Claro que não tenho certeza absoluta, pois mesmo a escrita não era algo desenvolvida totalmente. Usavam o estilo cuneiforme copiada da Mesopotâmia e mais tarde o aramaico copiado dos hebreus por ser menos trabalhosa e precisar de menos argila para sua compilação…

Ficou em silêncio por um momento.

– Creio que estou fugindo á questão…

– O que estou tentando dizer é que acredito  que a língua falada pelos Persas na época de Ciro, o grande tinha algumas particularidades que encontrei no idioma de seu amigo. Com o agravante de ouvi-lo clamar constantemente por seu rei Ciro…

– Como isso é possível?

Elisa perguntou cortando sua explicação.

– É isso mesmo que estou entendendo?

– O meu defensor veio do passado para me salvar?

Acabou de falar e riu alto e em bom som. Silenciando após alguns minutos, constrangida, enxugando as lagrimas.

– Desculpe! Creio que não estou entendendo…

– Ele trouxe algum material consigo?

Solomon Eiser falou imprimindo um tom benevolente á voz.

Elisa olhou-os um a um com a expressão turva da desconfiança por um momento antes de se levantar e desaparecer no interior da residência voltando pouco tempo depois com as roupas usada por Aquêmenes.

– Usava essas roupas quando o encontrei.

Explicou e passou-as para o lingüista que a examinou minuciosamente entregando para o prefeito que a olhou e passou adiante.

– O senhor percebeu a trama e o fio dourado?

– Elisa perguntou excitada.

– Sim! Muito interessante… A trama se parece com a bandagem envolta nas múmias egípcias encontrada no vale dos reis. A mesma configuração…

– Você tem algo onde poderei acondicioná-la. Algo que não deixe os resíduos se perder… Ou o material se contaminar?

– O que pretende?

– Vou mandar a uma amiga para ser datado. Essa amiga descobriu novos metais alcalino-terrosos que emitem muita energia e essa energia pode ser usada para diversos fins.  Além disso, teve a sorte de convidar o aluno mais brilhante de sua classe de química da universidade para ajudá-la e a seu marido no laboratório onde executam seus estudos e esse rapaz desenvolveu, nas horas vagas, um sistema para datar os objetos encontrados nos sítios arqueológicos. Ainda é algo muito experimental e ainda não passou pela prova necessária por falta de material realmente antigo. Os testes feitos em materiais com até cem anos parece que foram aprovados cem por cento. Todos os arqueólogos acreditam que finalmente poderemos datar os objetos encontrados e não somente os estratos do local onde fora encontrado. O método da estratificação deixa muito a desejar para nós arqueólogos.

– O senhor acredita mesmo que existe a possibilidade do meu amigo – parou um segundo deixando a palavra, amigo pairar no ar – ter vindo de outra época?

– Não sei mais em que acreditar… Tudo parece tão inverossímil.

– talvez seja de alguma tribo perdida no deserto profundo que manteve as tradições originais.

Mateau opinou quebrando seu silêncio.

– Ou o inimigo planeja uma invasão e treinou seu espião para nos confundir!

O prefeito exclamou.

– Ou é realmente um homem do passado distante…

O delegado inferiu.

– A verdade é que não sabemos ao certo em que acreditar. Esse material pode deixar as coisas mais claras.

– O delegado poderia mandar alguém à capital para levar o material ao laboratório?

– Eu mesmo irei.

– Mandarei um bilhete á minha amiga…

– Vamos á prefeitura, então senhores.

O prefeito levantou-se e se encaminhou para a porta.

Despediram-se de Elisa e voltaram ao gabinete onde se sentaram confortavelmente.

– Preciso de papel e caneta!

Solomon Eiser exclamou assim que se sentou. O que foi atendido prontamente. Colocou o papel a sua frente e começou escrever:

Cara madame Marie-Curie,

Em nosso ultimo encontro me foi pedido para lhe fornecer algum material de minha coleção particular para ser usado no teste que tentará ratificar a teoria defendida por seu aluno Willard Libby de que a datação de material encontrado nas escavações arqueológicas  através do carbono 14 é uma possibilidade real. Mando um mensageiro com minha nova descoberta e imploro que o date o mais proximamente possível do ano de sua fabricação. Espero que possamos nos ajudar mutuamente a encontrar respostas. Aguardo ansiosamente os resultados de sua análise.

Solomon Eiser

PS: Favor telegrafar para a prefeitura da cidade a qual sou hóspede quando o resultado  do teste estiver em suas mãos.

Boulogne-sur-mer, 19 de outubro de 1917.

Terminou de escrever pressionou o mata borrão para secar o excesso de tinta releu-o algumas vezes colocou-o no envelope e entregou ao delegado junto com o pacote contendo as roupas do prisioneiro.

O delegado levantou-se pegou a chave do carro das mãos do prefeito saindo da sala claudicando.

Continua no próximo capítulo…

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