Nau dos Quintos!

 

Nau dos Quintos!

Por Raul Tartarotti

 

Com o passar do tempo construímos nossos lares e relações humanas temperadas com expressões correntes populares, baseadas em acontecimentos curiosos, que carregam muita história e verdades.

O folclore popular mostrou caminhos que levaram á literatura e modificou o comportamento do povo, desenhando estradas baseadas em vidas passadas, por vezes doloridas e muito marcantes, ao ponto de expressões curiosas se tornarem de uso bastante frequente.
Estar de bucho Cheio ou Encher o bucho, significa estar bem alimentado, de barriga cheia.

Essa expressão era utilizada mais comumente nas Minas de ouro, tanto pelos escravos quanto por seus exploradores. Na época de sua criação os escravos deveriam preencher com ouro um buraco na parede, conhecido como bucho, para só então receber sua tigela de comida.

Entravam tantas “peças”(negros)na mina, e ao final do dia eram contadas quantas não saíram, e lá permaneceram com o bucho vazio, para todo sempre.

Era tanto ouro no Brasil que a Coroa Portuguesa viu a possibilidade de quitar suas dívidas com a Inglaterra, e resolveu cobrar imposto de 20% (a quinta parte) do peso do ouro extraído das cidades mineradoras.

O Quinto tomou lugar para amaldiçoar uma pessoa, mandando-a para longe, ou para um lugar remoto, utilizando a expressão “Quinto dos Infernos”, que começou a ser usada em Portugal para se referir ao Brasil.

Também usada para designar um lugar muito longe (“lá no quinto dos infernos”). Porém sua origem, e real significado, são totalmente diferentes.

O navio que partia de Portugal para recolher esse imposto era chamado de nau dos quintos.

Como ele também transportava exilados para a nova colônia, mandar alguém à “nau dos quintos dos infernos” (ou apenas aos “quintos dos infernos”) significava bani-lo a um lugar degradante, o Brasil.

A cobrança foi uma das principais causas da Inconfidência Mineira, um ato revoltoso sem sucesso, que acabou sendo reprimido pela Coroa em 1789.

E para evitar as constantes sonegações, que geraram outra expressão famosa, o Santo do Pau-Oco, estátuas religiosas foram utilizadas pelos mineradores para contrabandear o ouro.

Por isso em 1750, a Coroa Portuguesa decidiu recolher o quinto diretamente das casas de fundição. A riqueza obtida pelo recolhimento do imposto era levada para Portugal encher os bolsos da corte.

O povo explorado sempre buscou caminhos criativos e soluções inovadoras para sobreviver, mesmo utilizando uma graça popular transformou dor em luta, na busca de resultados positivos, encontrados pelos vencedores, durante suas árduas batalhas.

Sobre Raul Tartarotti 94 Artigos
Natural de Gramado, Raul teve formação básica em Eng. Biomédica. É cronista em diversas publicações no Brasil e exterior, impressa e eletrônica. Estudou literatura Russa, filosofia clássica e contemporânea. Suas crônicas são de cunho filosófico e social, com objetivo de trazer reflexão ao leitor sobre temas importantes de nosso cotidiano.

2 Comentários

  1. Só de pensar em como fomos explorados pelos colonizadores, fico revoltada. Assim caminha a humanidade, onde o homem explora os seus irmãos.
    Valeu, Raul!

  2. Muito obrigado pelo comentário Elisabeth. Penso que a reflexão de temas tão doloridos, mesmo que passados, podem nos ajudar a não permitir seu retorno.
    Abraços.

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*