Neruda, literatura e cinema
Manhã fria de uma terça-feira. Primeiro dia de novembro. Fui ao portão e abri minha caixa de correio. Lá encontrei um gesto de delicadeza e amizade vindo de Elizabeth de Souza, editora de Entrementes: um cartão postal estampado com uma foto do poeta chileno Pablo Neruda. Um Neruda ainda jovem, com um ar curiosamente pensativo. No verso, um poema de sua autoria e ao lado uma dedicatória da Beth para mim.
Fiquei muito feliz. Sou apreciador da obra de Neruda, um dos mais importantes nomes da literatura latino-americana, figurando no panteão dos grandes autores de língua espanhola, como Borges, Cortázar, Gabriela Mistral e Alfonsina Stormi.
Lembrei-me de que certa vez uma das minhas irmãs presenteou-me com o livro “Confeso que he Vivido” (Confesso que Vivi), comprado por ela no aeroporto de Buenos Aires. Obra autobiográfica de Neruda, editada em 1974. Não sei em que circunstâncias essa obra desapareceu de meu pequeno acervo de livros. Sumiu.
A figura intelectual e sobretudo humana de Pablo Neruda era fascinante. Tanto que inspirou seu compatriota Antonio Skármeta, um dos nomes mais relevantes da nova literatura latino-americana, a escrever “O Carteiro e o Poeta”. traduzida para mais de trinta idiomas. Nessa obra, Skármeta conta a história do jovem carteiro Mário Jiménez e seu relacionamento com Neruda, então exilado em uma ilha do Mediterrâneo. Pessoa simples, quase analfabeto, Mário era quem entregava as cartas recebidas pelo poeta. Daí nasce uma bela amizade. O jovem carteiro se envolve com a arte poética, nela se inspirando para falar de amor com sua namorada.
Vinte anos após sua publicação a obra ganhou as telas do cinema. Sob a direção de Michael Radford , tendo como principais protagonistas Philippe Noiret (Neruda) e Mássimo Troisi (o carteiro), o filme recebeu cinco indicações ao Oscar, tendo levado a estatueta de melhor trilha sonora. É um filme emocionante sobre a amizade e a beleza da poesia.
Voltando ao início da crônica, agradeço à Beth pelo postal, com uma estrofe do verso nele contido:
“Oir la noche inmensa, más inmensa sin ella,
Y el verso cae al alma como al pasto el rocio.”
Por Gilberto Silos
Gilberto, não esqueci que você gosta de Neruda, quando passeava por Santiago. Mas tenho algumas coisas para contar sobre o poeta.
Que bom que você gostou do postal, obrigada!